metropoles.com

Delegada: alvos de João de Deus queriam engravidar ou salvar relações

Segundo a coordenadora da força-tarefa, delegada Karla Fernandes, os depoimentos colhidos demonstram modus operandi do médium

atualizado

Compartilhar notícia

Igo Estrela/Metrópoles
Delegada Karla Fernandes
1 de 1 Delegada Karla Fernandes - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Enviadas especiais a Goiânia (GO) – “Ele demonstra que sabe controlar a situação. Por um lado, é iletrado, aparentemente uma pessoa rústica, mas que sabe muito bem se colocar”, descreveu a delegada Karla Fernandes (foto em destaque) sobre João de Deus. Coordenadora da força-tarefa da Polícia Civil em Goiás e responsável pelo interrogatório do médium na Delegacia de Estado de Investigação Criminal (Deic), a investigadora detalhou ao Metrópoles o perfil das vítimas e do acusado de cometer centenas de abusos sexuais (veja vídeo abaixo).

De acordo com a policial, os 15 depoimentos colhidos ao longo da última semana demonstram o modus operandi do líder religioso. O padrão seria de mulheres com 30 anos a menos do que a idade do médium. Quando João de Deus tinha 50 anos, ele teria cometido abusos contra adolescentes. Nos episódios mais recentes, já septuagenário, os alvos teriam por volta de 40 anos.

Na maioria dos casos relatados, as mulheres buscaram o médium porque elas tinham dificuldades para engravidar ou estavam passando por problemas de relacionamento conjugal. “Eram pessoas vulneráveis. Inicialmente, não percebiam que eram abusadas, só depois que caía a ficha”, conta a delegada.

No depoimento de João de Deus, Karla Fernandes disse ter percebido um homem persuasivo, que mostra ter um controle muito grande da fala e equilíbrio emocional. Segundo a investigadora, o acusado não demonstrou alteração, exceto quando foi confrontado sobre a vítima mais recente. “Ele teve reação mais forte e depois disse que ela era uma pessoa complicada e não tinha credibilidade.”

“As vítimas têm que comparecer para narrar de forma personalíssima. Antes, muitas sentiam temor de falar porque a maioria não teve apoio da família”, disse a coordenadora da força-tarefa.

Seis inquéritos foram instaurados na Deic, incluindo o principal, com o pedido de prisão. De acordo com a delegada, este último precisa ser concluído em 10 dias. Por isso, nesta segunda (17/12), não serão ouvidas novas vítimas. A força-tarefa vai se reunir com o objetivo de definir os próximos passos da investigação.

“Com a oitiva dele [de João de Deus], nós vamos destrinchar para o encaminhamento das buscas que já foram deferidas. Remarcamos com algumas vítimas, diante do prazo para concluir o inquérito. Nessas buscas, vamos fazer uma visualização junto com a equipe técnica e pericial sobre aquilo que foi narrado”, explicou Karla Fernandes.

Há previsão de as vítimas voltarem a ser ouvidas a partir de quarta-feira (19). O inquérito principal deve ser encaminhado à Justiça até o fim da semana.

Buscas
A Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus teria abusado sexualmente de centenas de vítimas, será alvo de buscas da Polícia Civil de Goiás. No interrogatório prestado nesse domingo (16), o médium disse que o local estaria de portas abertas para averiguação. De acordo com a delegada Karla Fernandes Guimarães, a ação está programada para esta semana, sem dia definido. Não há previsão de fechamento do centro espírita.

Em interrogatório que preencheu sete páginas, o médium João de Deus, alvo de mais de 330 denúncias reunidas pela força-tarefa em Goiás, não admitiu abusar sexualmente de suas seguidoras. Com base em informações do delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, o líder espiritual apresentou a versão dele para cada um dos casos. O médium alegou que os atendimentos eram coletivos – e não individuais.

Os investigadores questionaram o líder religioso a respeito das 15 mulheres que registraram ocorrência e prestaram depoimento: “Ele se lembrou de cada um dos casos e explicou o que teria ocorrido. Estava tranquilo e respondeu a todas as perguntas”.

O acusado deve ser ouvido novamente pelas autoridades nesta segunda (17). Os defensores do médium consideram a detenção injustificada e, por isso, pretendem impetrar um pedido de habeas corpus, também nesta segunda, para liberar João de Deus ou, ao menos, conseguirem a conversão da prisão preventiva para o regime domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.

Confira imagens do momento em que João de Deus deixou a delegacia:

O interrogatório durou mais de quatro horas, na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), no domingo (16). Depois, João de Deus foi levado ao Instituto Médico Legal (IML), para fazer exame de corpo de delito, e seguiu rumo ao Núcleo de Custódia do Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia (GO), onde deu entrada às 22h55 e passou a noite.

De acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), o acusado ficou em uma cela de 16 m² com outros três presos (todos advogados). A previsão inicial era de que ele ficasse isolado, devido à idade (76 anos) do acusado e à natureza sexual das denúncias que resultaram na prisão de João de Deus – ele teria abusado de centenas de mulheres, brasileiras e estrangeiras, durante atendimentos espirituais.

Ao deixar o prédio da Deic, Alberto Toron, advogado de defesa de João de Deus, voltou a pedir cautela na apuração dos casos. “Soa estranho que uma mulher que se diga violentada volte tantas vezes para o atendimento. É preciso que se julgue antes de qualquer condenação”, disse. O defensor do médium informou que o líder religioso negou as denúncias.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?

Notificações