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Covid-19: “Estamos sendo tratados como carga”, diz casal isolado em navio

Caio Saldanha e Jéssica Furlan tentam desembarcar e voltar para o Brasil. Rotina envolveu quarentena de 3 semanas trancados em cabine

atualizado

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Foto: Reprodução/ Arquivo
casal preso em navio covid 19 caio saldanha e jessica furlan
1 de 1 casal preso em navio covid 19 caio saldanha e jessica furlan - Foto: Foto: Reprodução/ Arquivo

“Estamos sendo tratados como carga”, desabafa o DJ Caio Saldanha, após quase dois meses em navios, impossibilitado de voltar para o Brasil por causa da Covid-19. Ao lado da noiva, a apresentadora Jéssica Furlan, ele embarcou em 14 de março para trabalhar por 24 semanas, mas viu o novo coronavírus afetar os planos e a rotina. O casal apelou até para o Ministério das Relações Exteriores para conseguir encerrar a viagem.

O casal chegou aos Estados Unidos, para dar início à viagem, no mesmo dia em que o presidente norte-americano, Donald Trump, decretou o chamado No Sail Order, que restringia navegações na costa do país para conter a disseminação do novo coronavírus.

Sem dinheiro para voltar para casa, Caio e Jéssica resolveram embarcar no cruzeiro Infinity, da Royal Caribbean, mesmo sem esclarecimentos da companhia sobre a situação do navio frente à determinação dos EUA. Na embarcação, foram convocados para uma reunião com o restante da tripulação, e informados de que navegariam sem rumo.

Logo nos primeiros dias, vieram as confirmações de casos do coronavírus e a morte de um tripulante filipino — a companhia, contudo, negou que houvesse relação com a Covid-19.

Foi aí que a viagem se deteriorou: passageiros foram obrigados, a partir de 27 de março, a ficar em quarentena dentro das respectivas cabines por 21 dias seguidos, sem poder sair. Segundo Caio, parte da tripulação teve que cumprir do isolamento em quartos sem janelas.

“Fomos dispensados no dia 27 de março e desde então a gente está aqui. A gente se sente como carga, sendo jogado entre navios, não temos perspectiva. Se há brasileiros que querem ficar, que fiquem. Nós queremos ir. Eles avaliam que a vida é muito boa no navio. Para nós, é fora dos padrões de normalidade e dos Direitos Humanos”, declarou Caio.

Tortura

“Vinte e um dias trancado em uma cabine é uma violação grave à dignidade humana”, diz Caio. “Tortura, mesmo sendo em quarentena”, completa.

Após o fim da quarentena, ambos passaram a poder circular livremente pelo navio, mas mantendo o distanciamento social e usando máscara. O equipamento de proteção, aliás, também é alvo de queixas. Segundo eles, só foi fornecido um modelo descartável para ser usado até o fim do isolamento.

Na última sexta-feira (08/05), Caio e Jéssica mudaram de navio: foram para o Celebrity Reflection. No entanto, seguem sem informações concretas sobre quando irão desembarcar. Em uma carta, a companhia informou a Caio que há dois possíveis planos para que eles desembarquem: ou seguir até Londres e pegar um voo ou embarcar em outro navio. No entanto, não foi confirmada a data de nenhuma das opções.

Itamaraty

O Metrópoles procurou o Ministério das Relações Exteriores para saber se a pasta tem mais informações sobre o caso de Caio e Jéssica e, de acordo com o Itamaraty, a companhia informou que a previsão é de que eles decolem no próximo dia 15 de maio.

“Desde o primeiro contato estabelecido por familiares do brasileiro, no dia 20 de março, o Consulado-Geral do Brasil em Miami vem prestando esclarecimentos, por meio de aplicativo de mensagens (WhatsApp) e email, quanto ao andamento do processo de repatriação dos tripulantes brasileiros a bordo de navios de cruzeiro na Flórida impedidos de retornar o Brasil”, informaram.

De acordo com o ministério, os mais de 100 mil tripulantes que, segundo dados do governo estadunidense, estão nas costas leste e oeste de países afetados pela No Sail Order só podem ser repatriados segundo as normas do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC).

As regras envolvem a aprovação de um plano de repatriação e a obrigatoriedade de que o retorno ao país de origem seja feito em voos charter ou privados.

O Metrópoles entrou em contato com a Royal Caribbean, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

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