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Combustíveis: Haddad vence disputa, mas, como previu, vira “patinho feio da Esplanada”

Ministro Fernando Haddad, da Fazenda, vinha sendo pressionado por ala política do governo e, agora, virou alvo da oposição

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
Imagem colorida mostra Fernando Haddad diante de imagem de Lula - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Fernando Haddad diante de imagem de Lula - Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu vitória pessoal após semanas de intensa pressão que vinha recebendo tanto de opositores quanto de dentro do governo (e do mercado financeiro). Ter sido ouvido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na decisão referente à volta da cobrança de impostos sobre os combustíveis, porém, não vai garantir tranquilidade para o responsável pela economia daqui para frente. Afinal, os custos políticos do reajuste nos postos de gasolina já começaram e devem se intensificar.

A oposição vinha se aproveitando da disputa interna no governo para desgastar Haddad, visto como fraco, humilhado e refém da ala política, que era contra a volta dos impostos PIS/Cofins e Cide sobre os combustíveis. Agora, uma vez que a ala econômica venceu a queda de braço, os críticos do governo viraram a chave e começaram a fustigar o ministro (e o presidente) pelo aumento do custo da gasolina e do etanol.

Criticado pelos opositores e sem apoio incondicional dos aliados, Haddad cumpre a “profecia” que ele mesmo fez, há dois meses, quando assumiu o cargo: ser o “patinho feio da Esplanada“.

“Vocês sabem o quanto isolada a equipe econômica fica”, disse o ministro, em 2 de janeiro, em discurso que desagradou o mercado pela admissão de que não haveria amplo apoio às suas ideias dentro do governo e que a “instância política” tomaria decisões. “É o patinho feio”, completou Haddad, dizendo ainda que aceitava esse papel “para fazer o bem para a população e para o país”.

Caminho difícil

Haddad já havia sido derrotado uma vez na questão dos impostos dos combustíveis, na virada do ano, pois defendia que o governo petista não prorrogasse a desoneração implementada pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio à disputa eleitoral. Naquela ocasião, porém, Lula ouviu seus conselheiros políticos e preferiu evitar o desgaste imediato.

Agora, com o prazo da desoneração acabando uma vez mais, a disputa interna no governo sequer ficou restrita aos bastidores. Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann usou as redes sociais, na última semana, para dizer que voltar a taxar combustíveis neste momento seria “descumprir compromisso de campanha”.

“Fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação”, escreveu Gleisi. A parlamentar defendeu que a reoneração fosse feita só depois que a nova direção da Petrobras pudesse apresentar nova maneira de colocar preços nos combustíveis, abandonando a paridade com a cotação internacional. “Isso será possível a partir de abril, quando o Conselho de Administração for renovado, com pessoas comprometidas com a reconstrução da empresa e de seu papel para o país”, assinalou Gleisi, numa cobrança pública a Haddad, ainda que sem citar o nome do colega petista.

Conversando muito com o presidente Lula nos últimos dias, Haddad conseguiu convencê-lo da importância para a saúde das contas públicas dos mais de R$ 28 bilhões que a volta dos impostos vai garantir este ano.

Oposição surfa

Logo após o anúncio sobre a reoneração dos combustíveis, influenciadores digitais e parlamentares ligados à oposição bolsonarista ao governo começaram a criticar fortemente a medida, numa tática que deve ganhar as tribunas da Câmara e do Senado ao longo da semana, amplificando o desgaste.

“O governo Bolsonaro reduziu impostos de 4 mil produtos e, mesmo assim, aumentou a arrecadação. O governo do PT, em dois meses, penaliza a população aumentando tributos”, disparou o senador Rogério Marinho (PL-RN), que foi o candidato bolsonarista à presidência do Senado e perdeu para Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas se consolidou como um dos líderes da oposição.

“Nada mais irresponsável do que defender uma medida que custará caro para o povo brasileiro, sobretudo aos mais humildes, sob a mão pesada da inflação, enquanto o desgoverno aumentou vertiginosamente os gastos com inchaço da máquina pública”, criticou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

“Infelizmente é só tragédia neste governo”, disparou o deputado federal Mário Frias (PL-SP). “Lula mentiu durante toda a campanha dizendo que iria ‘abrasileirar’ a gasolina. Eis a verdade”, postou o parlamentar, junto a uma notícia sobre a reoneração.

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O tom dos opositores mostra que Haddad pode ter ganhado uma batalha, mas que a disputa política em torno do preço dos combustíveis deve seguir no centro do debate público nas próximas semanas.

Nas jogadas seguintes, o ministro da Fazenda deverá contar com apoio mais explícito do mercado, mas continuará sendo visto com desconfiança pelos próprios companheiros petistas, como já antecipou a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann.

Apesar disso, Haddad conseguiu colher defesa de um vice-líder do governo, o deputado federal Bohn Gass (PT-RS).

Veja:

De toda maneira, o governo agora tenta encontrar alternativa no sentido de não deixar a conta tão salgada para o consumidor. O Ministério da Fazenda buscará, junto a Petrobras, alguma saída para que o impacto na bombas seja menor.

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