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Operadoras terão dificuldade em vender planos de voz, diz CEO da Vivo

Amos Genish acredita que, com a explosão da demanda por dados, as empresas terão que praticamente oferecer minutos falados como cortesia aos clientes

atualizado

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Fernando Braga/Metrópoles
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1 de 1 amos-genish - Foto: Fernando Braga/Metrópoles

São Paulo – O presidente da Vivo, Amos Genish, admitiu que nos próximos anos as operadoras de telefonia móvel terão dificuldades para cobrar por planos de voz, uma vez que os usuários têm mostrado um interesse cada vez maior por tráfego de dados. “Vivemos em um mundo onde as pessoas demandam cada vez mais conectividade e focar em voz é algo ultrapassado. Atualmente já é difícil convencer os clientes a pagar por minutos de voz, imagine daqui a cinco anos”, declarou nesta terça-feira (18/10), na Futurecom, maior evento de telecomunicações do país.

A constatação tem uma razão lógica. No último ano, a receita líquida proveniente de dados e TVs por assinatura representou 52,9% da receita líquida das telecoms no Brasil, superando pela primeira vez o volume proveniente de voz. Na Vivo, a participação é ainda menor. Segundo Amos Genish, os tradicionais serviços de voz respondem por apenas 45% das receitas da companhia.

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O executivo explicou que não se trata de uma tendência, mas de uma realidade, já que a quantidade de minutos falados, em média, por cliente, cai a cada ano. “Você (a operadora) precisa mudar ou não será relevante nos próximos cinco, dez anos”, afirmou.

Para se adequar à nova realidade e tentar manter a lucratividade em um nível saudável, a empresa concentrará a maior parte dos investimentos em redes 4G e de fibra, deixando de apostar em infraestruturas baseadas em 2G e 3G. Além disso, a Vivo pretende conduzir uma mudança de paradigma, com o intuito de se tornar uma operadora efetivamente digital.

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Operadora digital
A ideia é dar um passo à frente e se antecipar a alguns movimentos da sociedade. Um verdadeiro desafio para uma companhia que vive em um setor marcado por novidades, mas que, por vezes, insiste em manter rotinas analógicas. Uma das mudanças propostas é permitir que os usuários realizem cada vez mais autoatendimentos por meio de aplicativos do próprio celular, sem ter que passar, necessariamente, por um atendente.

Por conta disso, de acordo com Amos Genish, a quantidade de funcionários que trabalham em calls centers deve cair de 30 mil para 10 mil nos próximos anos. “É claro que teremos operadores humanos, mas eles farão muito mais do que apenas emitir segundas vias de faturas ou realizar mudanças de planos”, previu.

Além disso, a Vivo passou a investir em algo que grandes players da internet fazem, que é tirar proveito do big data. “O Google e o Facebook defendem uma tese certa, que é a de que eles conhecem os seus usuários melhor do que ninguém. Isso é verdade. No caso da Vivo, contamos com 90 milhões de clientes e deixar de usar o que sabemos deles é abrir mão de um tesouro”, defendeu.

Nesse caso, não se trata de nenhuma invasão de privacidade ou compartilhamento ilegal de dados, mas de entender os hábitos dos usuários de telefonia móvel para poder entregar mais benefícios competitivos. “Quando alguém ligar para o call center, na tela do computador do atendente aparecerá três sugestões de planos que estarão alinhados com o perfil daquele cliente específico”, emendou Genish. “Essa é uma nova fronteira que devemos desbravar. Acreditamos que a análise de dados transformará esse negócio.”

Essa inteligência já está sendo utilizada para exibir publicidades no celular de acordo com os critérios definidos por anunciantes parceiros. A partir de um recurso batizado de “Vivo Ads”, os clientes que excedem a franquia de dados podem ter a navegação móvel patrocinada por uma marca. Basta assistir alguma publicidade oferecida na plataforma para desbloquear pacotes pré-definidos de internet. “Os usuários são famintos por dados. Não dá para imaginar que as teles não iriam entrar nesse jogo tendo tantas possibilidades a oferecer”, brincou o CEO.

Por último, a Vivo vem ampliando o portfólio de conteúdos oferecidos nas áreas de educação, entretenimento, segurança, serviços financeiros, e-health, entre outros. A intenção é abrir o leque de opções de serviços para a base de clientes e, assim, diversificar a geração de receitas. Um exemplo é o Studio+, aplicativo lançado em parceria com a francesa Vivendi, que permite assistir minisséries produzidas especialmente para as telas de smartphones. “Essa nova estratégia de ser uma operadora digital é uma forma de sair do modelo de negócio baseado apenas em conectividade. Não é uma mudança simples, mas acreditamos que ao focarmos em inovação, eficiência nos custos e efetividade dos investimentos estaremos no caminho certo”, concluiu.

O jornalista viajou a convite da Vivo

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