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Chuva fraca pode levar a acionamento da bandeira vermelha

Os dados da EPE sobre consumo de fevereiro ainda não foram divulgados, mas dados preliminares apontam para um aumento de 1,5% no consumo

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
Chuva
1 de 1 Chuva - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Chuvas abaixo da média histórica no chamado período úmido e sinalização de um potencial início da retomada da demanda têm impulsionado os preços da energia no mercado livre e a expectativa é de custo crescente ao longo do ano, num ritmo que será definido pelo volume de água armazenada que os reservatórios das usinas hidrelétricas conseguirão reter e pela recuperação da atividade econômica. Diante dessa perspectiva, especialistas já consideram a possibilidade de acionamento da bandeira vermelha, mas salientam que isso ainda depende do comportamento da pluviometria nos próximos meses.

Com afluências abaixo da média de longo termo (MLT) desde outubro, quando historicamente se inicia o período úmido, e frustrações em relação a volumes mais elevados de chuva no início deste ano, o preço spot de energia, tecnicamente conhecido como Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), escalou da mínima de R$ 121,44/MWh, na média de janeiro, para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, e superou o patamar dos R$ 200/MWh neste mês, chegando a registrar uma alta de 96,4%.

E diante da expectativa de que os índices pluviométricos seguirão fracos, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que fixa os preços semanalmente, indicou que o PLD para o submercado Sudeste/Centro-Oeste deve alcançar um pico de R$ 270/MWh em outubro.

Mas agentes de mercado já vislumbram a possibilidade de o PLD para este submercado superar os R$ 300/MWh a partir de maio. O salto está relacionado não só com a hidrologia, mas também com uma mudança nos parâmetros de aversão a risco incorporados no modelo matemático de formação dos preços, o chamado CvAR (Valor Condicionado a um Dado Risco). Na prática, o governo decidiu aumentar o peso dos piores cenários hidrológicos, de maneira a antever o despacho térmico para evitar uma potencial falta de energia.

Até agora, considera-se como parâmetro que 50% das séries são ruins, dando a elas um peso de 25%. Pelo novo critério, válido a partir de maio, será mantido o parâmetro das 50% piores séries, mas seu peso será elevado a 40%.

“A revisão de parâmetro de risco do CvaR gera um viés de preço mais alto, em especial para anos de hidrologia ruim”, explicou o presidente da comercializadora de energia Compass, Marcelo Parodi. O valor final de PLD a ser fixado ainda depende das afluências registradas em março e abril e a prevista para maio, mas uma simulação feita pela comercializadora indicou que, se o novo parâmetro já estivesse valendo, haveria um impacto de R$ 81/MWh no PLD atual.

Conforme estimativas feitas pela Compass, se considerado uma afluência de 80% a 85% para abril e maio, o PLD já alcançaria a casa dos R$ 300/MWh. E esse padrão de chuvas não é muito pessimista se comparamos com o que está previsto para março.

Na revisão mais recente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima que as chuvas no Sudeste/Centro-Oeste ficarão em 71% da média histórica. Se considerada a repetição de um ano ruim da série histórica, como 1969, em que abril registrou 59% da média de longo termo e maio ficou em 58% da MLT, o PLD de maio ficaria próximo de R$ 600/MWh.

Neste último caso, possivelmente a bandeira vermelha seria acionada, já que seu acionamento é determinado quando o custo variável unitário da mais cara usina térmica despachada ultrapassa os R$ 422,56/MWh. A decisão sobre o despacho térmico depende do cálculo do Custo Marginal de Operação (CMO), que também é utilizado como referência para a formação do PLD.

“Com o final da temporada de chuvas em abril e a introdução dos novos parâmetros de risco em maio, a chance de vermos uma bandeira vermelha na tarifa já em maio é bastante relevante”, disse um analista de setor elétrico de um grande banco. A expectativa, salientou, não considera qualquer tipo de recuperação de demanda.

E o que se viu em janeiro foi um primeiro sinal positivo com relação à demanda. Conforme a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo de energia no primeiro mês do ano subiu 2,8%, impulsionado pelos 4,4% de aumento da demanda industrial.

Agentes do setor elétrico, no entanto, analisam o dado com cautela e ainda aguardam uma confirmação de que se trata efetivamente de uma retomada do consumo. “Os agentes estão atentos a esses números, mas precisamos tomar cuidado com o efeito temperatura, que pode ter impulsionado o consumo com refrigeração. Além disso, vale lembrar que esse crescimento se deu em cima de uma base baixa”, disse o consultor sênior da Thymos Energia, Renato Mendes.

Os dados da EPE sobre consumo de fevereiro ainda não foram divulgados, mas dados preliminares divulgados pela CCEE apontam para um aumento de 1,5% no consumo. Para Mendes, esse número pode estar influenciado pela sazonalidade do carnaval e também pela temperatura.

O analista de mercado do Grupo Safira, Lucas Rodrigues, considera que “a pequena melhora da carga, ainda que tímida”, pode influenciar a revisão da carga projetada para o ano pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O número, que anualmente é revisto em maio, é um dos fatores considerados no cálculo do PLD. “Este pode ser um vetor adicional de elevação do preço”, comentou.

Ele lembrou, porém, que ao projetar a carga, o ONS, além de observar a demanda, também considera a previsão de geração eólica, de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e térmicas a biomassa, com base na média dos últimos cinco anos, e este montante estimado funciona como um redutor da carga projetada.

A atualização deste número ocorre anualmente em maio. Como o Brasil tem registrado volume crescente de geração eólica, esse “redutor” deve crescer na próxima revisão. “Talvez os números se equilibrem”, disse Rodrigues, sinalizando com uma tendência de carga revisada estável ou ligeiramente maior do que a já projetada pelo ONS.

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