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Choro e emoção marcam início da vacinação contra a Covid-19 em terras indígenas

Metrópoles acompanha ação em Tabatinga (AM). Isabel Cezário, de 68 anos, foi a primeira pessoa a receber a proteção no Alto Solimões

atualizado

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Rafaela Felicciano/ Metrópoles
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1 de 1 Umariaçu_14 - Foto: Rafaela Felicciano/ Metrópoles

Enviados especiais a Tabatinga (AM) – Sob forte chuva e com muita expectativa, a vacinação contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, começou em Tabatinga, município amazonense distante 1,1 mil quilômetros de Manaus. A aldeia Umariaçu foi a primeira da região do Alto Rio Solimões a iniciar a campanha de imunização.

Isabel Cezário, de 68 anos, foi a primeira pessoa a receber a dose da proteção. A indígena da etnia Ticuna comemorou o início da campanha e estimulou a imunização. “Estou muito agradecida por ter tomado a vacina. Esperamos por muito tempo. É a esperança. A vacinação deve chegar para toda população, para as outras etnias”, destacou, logo depois de receber a dose. Após a aplicação, houve palmas, gritos e choro.

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Ao todo, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), 10 mil doses chegaram a Tabatinga. Dessas, 8,9 mil são para a população indígena local. As outras 1,1 mil serão destinadas aos profissionais da saúde do município. A intenção do Ministério da Saúde é imunizar 35 mil pessoas na região.

A movimentação no posto de saúde que atende a área começou logo cedo. Mesmo aqueles que não se imunizaram passavam pelo local com olhares curiosos. Jovens, crianças e idosos acompanhavam o trabalho dos agentes de saúde. A previsão é de que a campanha se estenda por 10 dias. Lá, o deslocamento para algumas aldeias mais distantes pode levar até sete dias de barco.

Mesmo com as dificuldades, o coordenador do DSEI do Alto Rio Solimões, Weydson Pereira, destaca que os indígenas ficaram assustados com a gravidade que a pandemia tomou no país. “Tivemos a atuação da Sesai, e a medicina tradicional — com chás, rezas e que o fumacê — ajudou no combate”, conta.

Uso de máscara

Além das práticas sanitárias, os profissionais de saúde tiveram que orientar os povos indígenas sobre a doença, a prevenção e o tratamento em caso de infecção. Para entrar na aldeia, foi montada uma barreira. No local, técnicos de enfermagem e enfermeiros orientaram os indígenas a respeito do uso de máscara, por exemplo. Essa consciência, segundo Weysdon, foi o mais difícil.

“A barreira foi montada no pico da pandemia. Nossos profissionais, junto dos guardas indígenas, ficavam de segunda a segunda orientando sobre o uso de máscara. Eles passavam sem a máscara quando iam para a cidade, ao banco e ao mercado. Foi a nossa maior dificuldade. Eles entenderam que sem a máscara iriam se infectar”, conta o coordenador.

Medo da vacina

A adesão à vacina não é um consenso na comunidade. Muitos indígenas ficaram com medo de receber a dose. Efeito, segundo profissionais que acompanham o cotidiano do local, de notícias falsas e falas que desacreditaram o imunobiológico. “Quando indígenas são vacinados, falam sobre a vacina, eles se reconhecem. Não tem remédio. A vacina é o caminho. Ela será eficaz contra a doença, e é isso que estamos trabalhando com eles”, explica Pereira.

Essa parcela da população já recebe diversas imunizações regularmente, por exemplo, contra a gripe. A estatística da região mostra que a cobertura vacinal chega a 95% do público-alvo. “Precisamos fazer a informação certa chegar até eles. Há muita coisa errada chegando pela internet”, salienta.

Somente na região do Alto Solimões vivem 70 mil indígenas. São três etnias — Ticuna, Kocama e Kaixana. Esse é considerado o segundo maior distrito indígena do Brasil. Em todo o país, 430 mil indígenas serão imunizados.

Segundo dados do Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena, desde o início da pandemia, 40.125 indígenas adoeceram por Covid-19. Desses, 528 morreram. No Alto Rio Solimões, são 2.026 casos confirmados e 37 mortes em decorrência do novo coronavírus, de acordo com boletim da Sesai.

A campanha na região ocorre após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar o uso de duas vacinas no país no último domingo (17/1). A imunização não é obrigatória. Para receber a dose, o indígena precisa ter mais de 18 anos.

A vacinação de povos indígenas ocorre simultaneamente nos 34 distritos indígenas que abrangem 11 unidades da Federação. Somente para Tabatinga, o governo enviou mil doses do imunizante.

*Os repórteres viajaram a convite dos ministérios da Saúde e da Defesa.

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