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Bolsa 2022: guinada populista do governo deve afastar investidores

“A corrida eleitoral será determinante nesse jogo. Ela mexe muito com os investimentos”, afirmou analista ouvido pelo Metrópoles

atualizado

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1 de 1 Dinheiro, Economia, Bolsa de Valores, Real, aumento, Baixa, money, gráficos, divida, pago, bancopoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Depois do Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, B3, encerrar ano com o segundo pior desempenho do mundo em 2021, atrás somente da Venezuela, o mercado financeiro ainda não está otimista para 2022. Investidores e empresários temem que a política fiscal do governo ceda a uma tendência populista em ano de corrida eleitoral, o que “provavelmente deve ocorrer”, na avaliação de economistas ouvidos pelo Metrópoles.

As expectativas podem mudar, entretanto, se o país guinar em direção a um crescimento econômico. Atualmente, o cenário é de inflação e juros em alta, o que corrói o poder de compra da população e indica uma possível retração do Produto Interno Bruto (PIB). Juntamente a isso, se o presidente Jair Bolsonaro (PL) liberar programas sociais fora do teto de gastos, pode haver uma queda significativa do investimento estrangeiro no Brasil.

“Nos últimos anos, Bolsonaro vem flertando com uma gestão mais populista e o ministro Paulo Guedes (Economia) não está conseguindo segurá-lo. Na reeleição isso será ainda mais forte, o que é muito preocupante. Precisamos de alguém que se importe com a questão fiscal. Por esse motivo, e outros, o cenário para 2022 não é muito positivo”, afirmou Alex Augustin. “A corrida eleitoral será determinante nesse jogo. Ela mexe muito com os investimentos”, acrescentou.

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, Guedes está cada vez mais “queimado” no mercado financeiro. O descrédito do ministro se intensificou em outubro de 2021, quando os principais técnicos da equipe econômica pediram exoneração do cargo.

debandada ocorreu na esteira da oficialização do furo no teto de gastos. Para viabilizar a promessa de Bolsonaro – de distribuir um Auxílio Brasil de R$ 400 –, Guedes admitiu ter uma “licença” para gastar acima do limite fiscal. Essa sinalização caiu como uma bomba sobre o Ibovespa. No fechamento do dia, o índice desabou 2,75%, aos 107.735,01 pontos. Desde então, a bolsa vem patinando.

“Bolsonaro, ainda que tenha levantado bandeira liberal, é liberal-gastador, e Guedes não consegue segurá-lo. Por esse motivo, ele não é a razão dos amores do mercado financeiro. É muito difícil Guedes recuperar a confiança novamente. Eles deram total apoio ao Paulo Guedes, mas o tempo foi passando e eles foram se decepcionando”, explica o ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Sarney Raul Velloso.

Além disso, a desaceleração dos mercados chinês e norte-americano também devem impactar os investimentos no Brasil. As principais economias do mundo deixaram de ter um crescimento robusto em razão de crises no mercado imobiliário e de ondas agressivas da pandemia da Covid-19.

Isso é motivo de preocupação para o Brasil, uma vez que a China é o principal parceiro comercial para exportação e importação do país. De acordo com Jason Vieira, economista-chefe da Infinit Asset, é difícil mensurar o que se pode esperar da gigante asiática, que vive sob um regime de governo fechado.

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Covid-19

Outro fator determinante para o futuro do mercado financeiro é o recrudescimento da pandemia da Covid-19 com o descontrole de novas variantes. A ômicron, por exemplo, que escapa à imunidade concedida pelas vacinas, provocou o desabamento de bolsas em diversos lugares do mundo quando descoberta, em novembro.

Na época, o Ibovespa caiu 3,39%, a 102.224 pontos. O dólar comercial fechou em alta de 0,53%, a R$ 5,5950. E na máxima do dia, a divisa chegou a saltar a R$ 5,6730.

Investidores também fugiram de ativos considerados mais arriscados. Bolsas, câmbio, criptomoedas, juros futuros e preços de commodities, especialmente o petróleo, foram os mais afetados.

Caso novas medidas de restrição precisem ser impostas para conter outra onda da doença, o Brasil seria especialmente prejudicado, de acordo com Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. “Uma nova paralisação reduziria drasticamente a perspectiva de crescimento para os próximos anos, que já não é grande coisa”, diz.

Ele explica que o governo precisaria gastar mais para equilibrar os gastos, o que derrubaria os investimentos nas empresas do país.

Neste cenário, onde aplicar meu dinheiro em 2022?

Apesar do contexto não ser o mais otimista, ainda é possível fazer aplicações rentáveis. Pensando nisso, o Metrópoles separou uma lista de quais os melhores investimentos para 2022, de acordo com fontes do mercado financeiro.

Segundo os analistas, “por enquanto, o melhor seria alocar os investimentos em títulos pós fixados, que sobem com o aumento da Selic (taxa que regula os juros no país) e da inflação”. São eles:

  • LTF – Tesouro Selic (atrelado à Selic)

Letra Financeira do Tesouro é hoje o que antes era conhecido como Tesouro Selic, e oscila com base na Selic, taxa básica de juros da economia. A LFT é um título público de renda fixa que cria a possibilidade do investidor emprestar dinheiro ao governo, sendo a quantia mínima R$ 30. É considerada acessível pois não é preciso um valor muito alto para começar um investimento. 

A aplicação também apresenta baixo risco de oscilação; no entanto, os rendimentos são menores do que de outros ativos. Sua rentabilidade é representada pela Selic e um percentual sobre essa taxa, com pagamento de juros e principal apenas no vencimento. Assim, a posição irá acumular a taxa contratada diariamente até a data final.

  • NTN-B – IPCA com juros semestrais (atrelado à inflação)

A sigla refere-se às Notas do Tesouro Nacional do tipo B e é uma aplicação de renda fixa na qual o investidor empresta dinheiro para o governo em troca de uma taxa de juros previamente determinada mais o IPCA (taxa que regula a inflação).

A principal vantagem do NTN-B é que, além do resgate no final do contrato, há um retorno semestral. Outro ponto é a rentabilidade garantida, caso o investidor mantenha o título até a sua data de vencimento. Dessa forma, o investidor recebe os juros de maneira semestral e o valor corrigido pela inflação na data final.

  • NTN-B Principal – IPCA (atrelado à inflação)

Enquanto o NTN-B tem um resgate semestral, o NTN-B Principal, conhecido como Tesouro IPCA+, é do tipo pós-fixado e rende de acordo com a inflação. Neste caso, o investidor recebe os juros, a inflação do período e o valor investido na data de vencimento do título.

 

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