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Ameaça terrorista força órgãos a reverem segurança para posse de Lula

Bolsonaristas que não aceitam a derrota nas eleições têm provocado tensão entre petistas às vésperas da posse do futuro presidente

atualizado

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Matheus Veloso/Metrópoles
Bolsonaristas tentam invadir sede da PF, entram em confronto com a polícia e causam terror no centro de Brasília após indígena ter prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Ônibus incendiado por manifestantes - Metrópoles
1 de 1 Bolsonaristas tentam invadir sede da PF, entram em confronto com a polícia e causam terror no centro de Brasília após indígena ter prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Ônibus incendiado por manifestantes - Metrópoles - Foto: Matheus Veloso/Metrópoles

A tensão em torno da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou após a tentativa de ataque terrorista ocorrida em Brasília na véspera de Natal. A preocupação é sobre a segurança do petista e também de quem deseja participar do evento na Esplanada dos Ministérios, marcado para o dia 1º de janeiro. Passagens já foram compradas, hospedagens reservadas, com mais de 90% do setor hoteleiro na capital ocupado. O medo, porém, tem colocado em xeque as decisões e já não há garantia nem de que o futuro mandatário da República desfilará em carro aberto.

Um largo esquema de segurança já era montado para o evento, que prevê 61 atrações de peso da música brasileira, além de exposições, posse de Lula no Congresso e passagem de faixa no Palácio do Planalto. Com os mais recentes episódios, as medidas estão sendo revistas, como avisou o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, já no dia do atentado frustrado.

O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), Flávio Dino e o futuro ministro da Defesa, José Múcio, reúnem-se nesta terça-feira (27/12) para discutir o esquema de segurança na Esplanada durante a posse.

Na véspera de Natal, um extremista bolsonarista plantou uma bomba com o objetivo de explodir um caminhão com combustível no Aeroporto de Brasília. O próprio motorista percebeu o artafato acoplado ao veículo e acionou as forças de segurança. A tragédia foi evitada, e um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) está preso.

Veja a postagem do futuro ministro da Justiça:

Apesar da promessa de Dino de segurança na posse, famílias que previam curtir as atrações famosas da festa já cogitam não levar seus filhos ou sequer participar do evento, como é possível ver nas respostas à postagem do futuro ministro.

Tensão na capital

Brasília tem sofrido ataques nas últimas semanas. Militantes bolsonaristas insatisfeitos com o resultado das eleições começaram os atos na cidade no dia 12 de dezembro, quando tentaram invadir a sede da Polícia Federal, no começo da Asa Norte, área nobre de Brasília. Eles atearam fogo em carros, ônibus, quebraram uma delegacia, entre outros atos de vandalismo.

O que começou como vandalismo e teve a participação de pessoas vindas de um acampamento no Quartel-General do Exército virou terrorismo na noite de Natal. Um homem foi preso por tentar explodir uma bomba acoplada a um caminhão-tanque, no Aeroporto de Brasília, o que provocaria uma tragédia.

O empresário George Whashington de Oliveira Sousa está preso no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele falhou no plano de cometer um atentado na capital do país, às vésperas da posse, mas foi autuado por crimes graves, como terrorismo. A Polícia Civil do DF investiga ainda se ele teve ajuda de pelo menos mais dois comparsas para executar o plano.

Apurou-se, inclusive, a intenção do grupo de instalar artefatos explosivos em estações de energia a fim de provocar estado de sítio, um dispositivo constitucional acionado em momentos em que a ordem do Estado Democrático de Direito está gravemente ameaçada.

Homem tinha arsenal

Ao ser preso, George Washington confessou que estava planejando um atentado para o dia da posse de Lula. No apartamento alugado por ele, no Sudoeste, região nobre de Brasília, foi encontrado um arsenal de armas, avaliado em cerca de R$ 160 mil.

Além do episódio no aeroporto, no dia 23 de dezembro, a polícia foi acionada após uma ameaça de bomba em um ônibus na região central, na Asa Sul. No dia 25, diversos explosivos (totalizando cerca de 40 kg) foram encontrados no Gama, região a cerca de 40 km do centro.

Veja imagens do ataque à sede da PF:

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Reuniões e mudanças de planos

Diante do cenário de tensão, Flávio Dino afirmou que vai rever os procedimentos para a posse. A reportagem do Metrópoles também entrou em contato com o atual secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo. Ele é o responsável por coordenar as ações na Esplanada.

O secretário afirmou que todos os fatos estão sendo considerados e que medidas serão tomadas. “Temos algumas reuniões ainda essa semana para os ajustes no planejamento. Diversas ações em andamento”, disse.

O Senado se antecipou e anunciou reforço nos protocolos de segurança.

Veja alguns detalhes das medidas estipuladas pelo Senado Federal, onde será realizada a cerimônia de posse, após os eventos de terrorismo na cidade: 

  • É obrigatório que todas as pessoas passem pelos pórticos de Raio-X e detectores de metal para adentrar nas dependências do Senado Federal. A medida direciona-se a servidores, funcionários terceirizados e prestadores de serviço. Durante esse período, não será permitida a entrada de visitantes;
  • O acesso a entregadores de alimentos ou motoristas de aplicativo não será concedido;
  • As entregas de alimento e o embarque ou desembarque de passageiros deverão ser procedidos na área externa ao Senado Federal;
  • Não será permitida a entrada de correntistas nas agências bancárias da Casa que não integrem o quadro de colaboradores. Apenas senadores, servidores, profissionais terceirizados e estagiários poderão utilizá-las.

Segurança do STF

Em meio às confusões, o prédio do STF também foi alvo de vândalos. Um grupo de indígenas apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiu a marquise da Corte, em Brasília, na noite de domingo.

O objetivo do ato foi pedir a soltura do cacique José Acácio Tserere Xavante, preso no último dia 12 de dezembro por participar de manifestações contra o resultado das urnas que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva.

A Suprema Corte já tem um esquema de segurança previsto para a posse, que será mantido. De forma preventiva, o órgão será protegido por carros vigilantes e policiais. Viaturas da Polícia Judicial serão estacionadas na frente do prédio do STF, que fica atrás do Congresso Nacional.

A expectativa é que sejam escalados cerca de 50 vigilantes armados e outros 98 desarmados. Os agentes estarão munidos de diferentes tipos de armamentos, desde tasers (armas que disparam choques elétricos) até armas longas, como submetralhadoras.

O esquema de segurança a ser aplicado será similar ao do desfile de 7 de Setembro e do segundo turno das eleições. Nessas ocasiões, havia o temor de a estrutura física do STF ser atacada por bolsonaristas.

A Via S1 será interditada com acesso restrito à região do Congresso Nacional e da L4 até a Esplanada para a posse.

Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) faz, junto à Polícia Federal e à equipe de transição do governo de Lula, os planejamentos do esquema de segurança para a posse do petista.

O esquema é preparado pela Polícia Federal em conjunto com GSI, Congresso, Supremo, Itamaraty e Comando Militar do Planalto (CMP). A Secretaria de Segurança Pública do DF participa da coordenação da cerimônia de posse com os órgãos federais.

Sem cancelamento, por enquanto

Mesmo diante das ameaças terroristas, a alta ocupação prevista para a semana da posse em hotéis de Brasília está mantida. De acordo com o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, quase não há vagas mais para o dia 1º de janeiro.

Ao todo, são cerca de 17 mil vagas em hotéis, quase 100% ocupadas. Para garantir a segurança dos hóspedes, o Sindhobar pediu reforço no perímetro hoteleiro de Brasília.

A Secretaria de Segurança Pública concedeu. “A segurança foi intensificada, quase dobrada. Já tem policiais na frentes dos hotéis da cidade”, disse o presidente do Sindhobar.

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