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Alta dos preços em supermercados penaliza o consumidor mais pobre

Inflação, falta de insumos em todo o mundo, conflitos geopolíticos e pandemia são alguns dos motivos de tudo estar mais caro

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
carrinho de compras mercado supermercado legumes
1 de 1 carrinho de compras mercado supermercado legumes - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

São Paulo – Uma passagem rápida pelos corredores dos supermercados, pelas feiras ou pelos postos de gasolina evidencia: as coisas estão mais caras do que costumavam ser.

Inflação, falta de insumos em todo o mundo, conflitos geopolíticos e pandemia são alguns dos motivos de estar tudo mais caro – algo que, segundo especialistas, tem um efeito proporcionalmente maior na população mais pobre.

Matheus Peçanha, pesquisador e economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, afirma que havia décadas não se via tanta inflação, e que boa parte daqueles com menos de 30 anos não teve, até então, contato com tamanha alta dos preços.

“O Plano Real zerou a memória inflacionária da população desde 1994. Agora, já são quase três anos seguidos de uma inflação acelerando mais forte. A gente está muito longe da hiperinflação, mas para os patamares a que estamos acostumado, uma inflação de dois dígitos em dois anos seguidos é preocupante”, afirma.

Nos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 11,3%, acima dos 10,54% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, e é o maior registro em 18 anos — em outubro de 2003, o índice foi 13,98%.

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O setor de alimentos e bebidas registrou em março alta de 2,42%, segundo o IPCA, que mede a inflação oficial. Oito alimentos subiram mais de 50% no acumulado de 12 meses e ajudaram a puxar o percentual para cima.

O economista e advogado Alessandro Azzoni destaca que os cidadãos mais pobres são os mais afetados pela alta dos preços de itens básicos. “As pessoas de baixa renda gastam basicamente seu salário em consumo. Alimentos, medicamentos. Então, automaticamente, se os preços aumentam, ela gasta uma maior parte de sua renda. Diferentemente das classes média e alta, que usam uma parte da sua renda em consumo, e outra em investimentos, então elas conseguem se beneficiar um pouco da alta dos juros, da inflação”, explica.

Peçanha diz que isso se explica porque a inflação tem atingido justamente produtos básicos, como alimentos e combustível. “A inflação tem pesado mais para as faixas menores de renda, que sofrem nível de inflação de dois a três pontos percentuais mais alto do que as faixas mais altas de renda”, analisa. Ele ainda cita como razões para o aumento da inflação questões políticas – nacionais e internacionais – e fatores naturais, como a seca em 2020 que afetou energia e alimentos, além da pandemia, que tirou a renda de muitas pessoas.

A pandemia jogou o emprego e a renda no chão, muita gente ficou desempregada, aumentou a informalidade. Preço subindo e renda caindo são os ingredientes para o caos social. A inflação tem uma boa parte dessa causa sim, mas sobretudo isso aliado à renda em depressão”, opina.

Outra questão apontada por Azzoni é que “muitos itens da cesta básica são commodities”, ou seja, produtos produzidos em larga escala destinados ao mercado externo, portanto negociados em dólar. Como o dólar teve alta expressiva nos últimos meses, o preço de diversos alimentos aumentou. Além disso, também puxado por essa alta, produtores de frutas, legumes e verduras, que não são commodities, também privilegiaram o mercado externo por ser mais vantajoso vender em dólar do que em real.

Soja, carne bovina, milho e açúcar são algumas das commodities brasileiras. O petróleo também é uma delas. E, quando o preço do combustível aumenta, mesmo quem não tem carro ou moto é prejudicado: o valor final dos produtos nos supermercados cresce porque o custo do transporte – feito majoritariamente por via terrestre – aumenta.

Saque em supermercado

No último sábado (16/4), uma unidade do supermercado Inter em Inhaúma, na zona norte do Rio, foi saqueado. Os vídeos circularam nas redes sociais e provocaram debates sobre o preço dos alimentos. Veja:

No Twitter, diversos usuários apontaram que “não haveria saque se houvesse comida em preço aceitável”. No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) sugeriu que as restrições em razão da pandemia da Covid-19 poderiam levar a saques em supermercados.

“Até quando nossa economia vai resistir? Se colapsar, vai ser uma desgraça. O que poderemos ter brevemente? Invasão a supermercado, fogo em ônibus, greves, piquetes, onde vamos chegar?”, disse em março de 2021.

As possibilidades de o saque no supermercado de Inhaúma estar relacionado a uma ação motivada por políticos ou mesmo por ordem de criminosos da região também não estão descartadas.

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