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Acusado de deformar rostos de pacientes, Murakami é indiciado em Goiás

Profissional foi denunciado por 15 pessoas no estado goiano e, pelo menos, 30 pacientes no Distrito Federal

atualizado

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1 de 1 murakami1 - Foto: Reprodução

A Polícia Civil de Goiás indiciou, nessa sexta-feira (28/06/2019), o médico Wesley Murakami por cinco lesões corporais graves. O profissional é acusado de ter deformado o rosto de 15 pacientes no estado de Goiás e, pelo menos, 30 no Distrito Federal durante procedimentos estéticos. Ele chegou a ser preso temporariamente, em dezembro de 2018, mas foi solto em janeiro.

Em 19 de junho, Murakami foi chamado para prestar depoimento no 4º Distrito Policial de Goiânia (GO), mas frustrou as autoridades ao apresentar um atestado médico, alegando depressão. Ele informou aos investigadores que só iria se pronunciar sobre as acusações em juízo.

“Esteve aqui, mas disse que estava em tratamento, sendo submetido a uma série de medicamentos e sofrendo de depressão. Por isso, preferiu se manter em silêncio. Ele disse que a cabeça não estava muito boa, que não se recordava de muitos detalhes”, explicou ao Metrópoles o delegado Carlos Caetano Júnior.

Procurado pela reportagem para comentar o indiciamento, o advogado de defesa do médico, André Bueno, disse que acompanhou o depoimento do cliente, mas ainda não teve acesso aos autos do inquérito. “A defesa aguardará o posicionamento do Judiciário, para, só então, manifestar seu entendimento e a estratégia da defesa”, acrescentou Bueno.

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Traumas

Após o caso se tornar público, mais pessoas criaram coragem para contar suas experiências traumáticas com o cirurgião. O dr. Murakami – como o profissional se apresenta nas redes sociais – usava a estratégia de apontar defeitos na face de quem se interessava pelos seus serviços.

Clientes do acusado ficaram com seus rostos deformados, tiveram traumas psicológicos e chegaram a desembolsar fortunas para fazer a reparação dos danos. Em um dos casos, no ano passado, uma jovem que morava no DF tirou a própria vida. A família dela reside no Rio de Janeiro.

Em outro, uma fisioterapeuta teve tromboembolia pulmonar. Um mulher, também moradora de Brasília, gastou R$ 80 mil para reparar as deformidades deixadas após a aplicação de PMMA.

Denúncias

Tatiane Seles Pereira, 41 anos, contou que quase caiu na lábia do suspeito. Há dois anos, ela procurou o consultório de Murakami no Taguatinga Shopping para tirar dúvidas sobre a remoção de uma mancha no rosto. Durante a conversa, foi convencida por ele a realizar outros procedimentos estéticos.

Eu me senti horrível. Fui para remover uma mancha e ele saiu prometendo muita coisa. Apresentou mil defeitos em mim. Saí de lá acabada

Tatiane Seles Pereira, paciente

Uma outra paciente, sob condição de anonimato, reconheceu o poder de persuasão do médico. “Não gostava muito do meu queixo e tinha mesmo de fazer uma cirurgia para corrigir um problema na mordida, mas ele me colocou em frente ao espelho e saiu apontando vários defeitos.”

O resultado, no entanto, não foi como o planejado, e a paciente passou a sentir vergonha de sair de casa. A mulher chegou a procurar o profissional após a cirurgia, descrita por ela como um “completo fiasco”. Murakami teria se comprometido a ressarcir os R$ 9 mil gastos, mas não cumpriu com a palavra.

“Fizemos um acordo. Inicialmente, ele me pagou R$ 1,5 mil e prometeu pagar o resto, mas está sempre adiando.” Após denunciá-lo, ela diz ter sido procurada pela equipe do médico, pressionando-a com tom ameaçador. “Hoje recebi uma mensagem que dizia: ‘Eu vi você na televisão, tá?’ Estamos todos com medo, esse cara nos dá muito medo. É aterrorizante.”

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“Bumbum irregular”

Além de ser acusado de deformar o rosto de dezenas de pessoas, Wesley Murakami é apontado como autor de erro médico ao realizar bioplastia nos glúteos da enfermeira de Goiânia (GO) Kellyane Fonseca, 28. Ela procurou o profissional a fim de tornear o bumbum. Murakami garantiu que o procedimento seria feito com PMMA, mas uma outra substância usada provocou queimaduras de segundo grau na mulher.

Kellyane voltou a procurar o médico, que teria se prontificado a fazer uma segunda intervenção. “Meu bumbum ficou todo irregular. Fui atrás e ele prometeu fazer outra aplicação e corrigir. Nessa nova aplicação, reclamei de dor o tempo todo, ameacei desmaiar, e a todo instante ele me dava água com açúcar. No término, precisei usar oxigênio, pois apresentei insuficiência respiratória.”

Oito dias após a segunda cirurgia, o estado de saúde de Kellyane piorou. “Tive febre e precisei procurar um médico. Estava com infecção. Imediatamente, optaram pela minha internação, quando fiquei oito dias à base de antibióticos.”

 

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