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“Como atravessar a noite sabendo que Dom está desaparecido?”

Autorização para matar pode ter custado a vida do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira na Amazônia

atualizado

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Barco flutuando na água com pessoas dentro - Metrópoles
1 de 1 Barco flutuando na água com pessoas dentro - Metrópoles - Foto: Divulgação

“A noite agora se aproxima e Dom está em algum lugar da floresta esperando por ajuda”, escreveu Alessandra Sampaio, mulher de Dom Phillips, jornalista britânico desaparecido há 48 horas no Vale do Javari, na Amazônia, juntamente com Bruno Pereira, funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai).

“Quero implorar às autoridades brasileiras que busquem meu marido, Dom Phillips, e seu parceiro de expedição, Bruno Pereira, com urgência. No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de 30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas”.

“Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida.”

“Só posso rezar para que Dom e Bruno estejam bem, em algum lugar, impedidos de seguir por algum motivo mecânico, e tudo isso vire apenas mais uma história numa vida repleta delas. Conheço, porém, o momento vivido pela Amazônia e conheço os riscos que Dom sempre denunciou.”

“Quero dizer a vocês que Dom Phillips, meu marido, ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil.”

“Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?”

“Amazônia sua linda”, postou o jornalista na semana passada no Instagram ao lado do vídeo de um barco serpenteando por um dos rios da região. Ele escreve um livro sobre meio ambiente, mora em Salvador e faz reportagens sobre o Brasil para jornais como Guardian, Washington Post e The New York Times.

Vasta extensão de selva que abriga mais de 20 grupos indígenas, a região de Javari ficou mais tensa e perigosa nos últimos anos – principalmente após o assassinato em 2019 de Maciel Pereira dos Santos, funcionário da Funai. Sob o governo Bolsonaro, garimpeiros e caçadores saqueiam impunemente florestas e rios.

Não é de hoje que se desmata a Amazônia, reservas indígenas são invadidas por grileiros de terras e crimes ocorrem ali. Alguns alcançaram repercussão internacional, como a morte em 1988 do ecologista Chico Mendes. A missionária católica Dorothy Mae Stang morreu com sete tiros em 2005 por defender os sem-terra.

A diferença, porém, é que nenhum governo deu autorização para matar, e o de Bolsonaro dá quando estimula o garimpo ilegal e defende armas para que os brasileiros “não se tornem escravos de ninguém”. A política armamentista contraria o Estatuto do Desarmamento, mas Bolsonaro não está nem aí para isso.

Está nem aí para crimes cometidos pela polícia. A do Rio, recentemente, matou 26 pessoas no que ficou conhecido como a Chacina da Vila Cruzeiro. Bolsonaro elogiou a polícia e chamou os mortos de bandidos. Agentes da Polícia Rodoviária mataram em Sergipe Genivaldo dos Santos em uma câmera de gás improvisada.

Os agentes continuam soltos, apesar do crime ter sido filmado. Bolsonaro limitou-se a dizer que “lamenta” a morte de Genivaldo. Ontem, Bolsonaro passou o dia muito ocupado à caça de votos para tentar se reeleger e não disse uma só palavra sobre o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira.

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