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Por qué no te callas? (por André Gustavo Stumpf)

Calado, o presidente Jair Bolsonaro teria obras a mostrar

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Família Bolsonaro
1 de 1 Família Bolsonaro - Foto: Instagram/Reprodução

Revelações obtidas pela ação dos senadores na CPI da Covid indicam que o governo se movimenta de duas maneiras: uma formal e oficial, outra discreta, porém objetiva. É a que vale.

Já ficou claro que no caso específico da Saúde, havia um gabinete paralelo que utilizava os recursos do Ministério da Saúde para organizar o combate à pandemia segundo seu entendimento e métodos. O pessoal da cloroquina mandava e desmandava apoiado por técnicos ou supostos conhecedores da matéria.

Ao ministro cabia obedecer às ordens originárias do grupo, respaldadas pelo presidente da República.

Retorno ao que já escrevi aqui. O governo é o conjunto Bolsonaro&filhos. Este é o núcleo duro. Dele decorrem diretrizes, encaminhamentos, nomeações e decisões estratégicas.

Exemplo claro, recente, é a presença do senador Flavio Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos, organizada pelo ministro de Comunicações com o objetivo de estudar alternativas disponíveis para implantação da rede 5G no Brasil.

O senador não tem nada a ver com o assunto. Não é técnico, nem atua na área. Mas representa os olhos e ouvidos do presidente. Ele, na realidade, deve encaminhar o assunto junto ao chefe de governo. O Ministério das Comunicações apenas realizará a licitação internacional com as empresas do ramo.

Naquela famosa reunião ministerial, revelada por decisão do Supremo Tribunal Federal, o presidente mostrou sua preocupação com o funcionamento de um bom sistema de informações. Afirmou que já tinha bons informantes, mas pretendia melhorar a qualidade do serviço.

Deriva daí a necessidade de ter controle sobre a Polícia Federal no Rio de Janeiro, justamente onde atuam com maior desembaraço as milícias que se misturam com a polícia.

Policiais, de patentes diversas, estão sendo nomeados para posições estratégicas dentro da máquina de governo. É um segundo grupo informal que tem acesso ao presidente, leva impressões, informações e notícias fora dos canais formais.

O deputado Eduardo Bolsonaro é uma espécie de ministro de Relações Exteriores na sombra. Ele fez a cabeça do infeliz Ernesto Araújo para exercer as funções de chanceler e praticar todas as trapalhadas possíveis no exercício do cargo.

Tantas fez que quase arruinou as relações do Brasil com a China. Sorte que os chineses jogam no longo prazo e não se aborrecem com reações estudantis e pouco inteligentes de personagens latino-americanos. Cartas mostradas à CPI revelam que os chineses pediram aos brasileiros algo como ‘nos ajudem a vos ajudar’. Ou seja, é necessário parar com agressões bobas, sem fundamento, destinadas apenas a tumultuar um ambiente pacífico.

Não se deve esquecer que Eduardo Bolsonaro só não foi nomeado embaixador do Brasil nos Estados Unidos porque os senadores sinalizaram que não aprovariam seu nome.

Há o caso do ministro Ricardo Salles indiciado formalmente depois de investigação realizada pela Polícia Federal como personagem em tenebroso processo de exportação ilegal de madeira, mais lavagem de dinheiro e outros pecadilhos.

Em qualquer lugar civilizado do mundo, a primeira decisão seria afastar o ministro para ele organizar sua defesa. Mas o personagem é amigo dos meninos. A reação foi diferente. Ele só entregou o celular duas semanas depois de sofrer a investigação e desapareceu. Não compareceu nem à reunião comandada pelo Vice-Presidente da República. Levou uma bronca pública. Mas nada aconteceu.

O Procurador Geral da República pede arquivamento do processo que investiga ações claras e objetivas contra o Supremo Tribunal Federal, junto com a produção de fake news em larga escala. As investigações não foram concluídas e já se pede o arquivamento. Precipitação só explicável pela perspectiva de assumir uma cadeira no próprio STF.

A essa estranha atitude se junta o caso, ainda mais excêntrico, de um funcionário do Tribunal de Contas da União produzir documento, inseri-lo no sistema daquela casa, e entrega-lo por intermédio dos filhos ao presidente da República. Ele, então, afirma, de público, ter provas de supernotificação da Covid nos estados.  A realidade é inversa. Há subnotificação.

Os dois ministros que estão além do domínio dos filhos, Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, e Teresa Cristina, da Agricultura, têm boas iniciativas a exibir. Mas a política de comunicação do governo, comandada pelo terceiro filho, Carlos Bolsonaro, é desastrosa. Ninguém sabe o que o governo faz. Resta lamentar nas redes sociais que a imprensa não divulga.

Os jornalistas usualmente são mantidos à distância, porque é mais importante, segundo essa estranha doutrina, xingar os repórteres do que fazer as informações chegarem as eles. Calado, o presidente teria obras a mostrar.

André Gustavo Stumpf escreve no https://capitalpolitico.com/

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