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Política externa (por André Gustavo Stumpf)

A política externa foi o principal objetivo do primeiro ano do governo Lula

atualizado

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Ricardo Stuckert/Divulgação
Imagem colorida de Lula cumprimentando o presidente da França, Emmanuel Macron, durante viagem à França-- Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Lula cumprimentando o presidente da França, Emmanuel Macron, durante viagem à França-- Metrópoles - Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O ano de 2023 terminou e o tratado entre a União Europeia e o Mercosul não foi assinado. Não se fala mais nisto porque o presidente da França, Emmanuel Macron, disse ser contra o acordo mal redigido e mal negociado. O que ele não disse é que em seu país boa parte da economia tem fortes ligações com o estado. Há subsídios por todos os lados. No caso da agricultura, que é ineficiente e cara, o setor não conseguiria competir em preço e qualidade com produtos brasileiros e argentinos. Além disso, os europeus, sobretudo os franceses, são ciosos de suas vantagens comparativas e continuam a enxergar os povos do sul como habitantes de suas colônias. São os povos de “la bas”, lá de baixo.

O ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, deve ter batido algum recorde de viagens internacionais. Ele esteve nos quatro cantos do mundo em busca de soluções em alto nível no concerto das políticas internacionais. O trabalho foi importante, mas os resultados são desproporcionais ao esforço despendido. O Brasil não ficou bem na fita quando o presidente Lula deu controvertidas declarações sobre a guerra Rússia x Ucrânia. Ele chegou a ser classificado como adversário do Ocidente. Além disso, recebeu o chanceler russo, Sergey Lavrov, que saiu daqui dizendo que Brasília e Moscou tinham posições semelhantes.

O mesmo ocorreu em relação à estranha e inoportuna recepção que Lula concedeu a Nicolás Maduro no início de seu mandato. O objetivo era pacificar a política sul-americana, mas ocorreu o contrário. Os presidentes da Colômbia, do Chile e do Uruguai, não gostaram da iniciativa e protestaram. Depois de ser acolhido em Brasília, Maduro, que começou a negociar com os norte-americanos alívio nas sanções desde que retomasse o caminho democrático, anunciou a disposição de anexar dois terços do território da Guiana, antiga Guiana Inglesa. A relação entre Brasil e Venezuela, especialmente entre Lula e Maduro, se deterioraram rapidamente.

O Brasil presidirá a reunião do G-20, o grupo das vinte maiores nações do mundo, que vai se encontrar no Rio de Janeiro, no final deste ano. E a diplomacia nacional conseguiu levar para Belém do Pará a COP-30, que será realizada no próximo ano. São esforços relevantes para recolocar o país no mapa da diplomacia internacional. Mas o presidente Lula deixou de comparecer a Davos, onde os ricos se encontram para definir os destinos do mundo. Javier Millei, o argentino anarcocapitalista, foi lá e deu seu recado. O Brasil foi representado pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cujo discurso é previsível em defesa do meio ambiente.

Na guerra entre Israel e o grupo Hamas, os brasileiros descobriram que este é assunto da diplomacia de Washington. O Brasil não foi ouvido, nem consultado sobre o inferno que desabou sobre a Faixa de Gaza. Itamarati e FAB montaram, com eficiência, uma operação para retirar brasileiros que estavam no cenário da guerra, trouxeram também parentes, e animais de estimação. Sem cobrar nada. Os ingleses e os norte-americanos retiraram seus nacionais, mas cobraram as passagens. A guerra prossegue e as ideias de paz levantadas pelos brasileiros não foram objeto de qualquer análise. Lula pregou no deserto.

A política externa foi o principal objetivo do primeiro ano do governo Lula. O presidente visitou 24 países. Nesta semana iniciou a etapa de visitar todos os estados do país. O foco agora é a eleição municipal. Apesar das boas relações com os governos europeus, ele percebeu que no momento de assinar o acordo eles respondem a seus próprios interesses. Agora, a tentativa é fazer o acordo entre China e Mercosul para evitar que o Uruguai, sozinho, faça seu tratado com Pequim.

A intensa movimentação que ocorreu no Itamarati ano passado demonstrou aos diplomatas que o poder do Brasil, o chamado soft power, tem limites. As grandes potências assumem os principais temas e não abrem espaço para ninguém. Resta ao Brasil e seu voluntarioso presidente falar de meio ambiente, discutir comercio e integração no âmbito latino-americano. Nada mais. Não custa lembrar que, se Trump for eleito para presidência dos Estados Unidos, tudo isso mudará. Israel e Rússia ganharão novo aliado em suas guerras. E Bolsonaro voltará a ter sonhos presidenciais.

Errei – A Petrobras informa que não construiu novo aeroporto na cidade de Oiapoque, no norte do Amapá, como afirmei no artigo da semana passada. A empresa esclarece que apenas reformou o aeródromo lá existente para dar apoio ao trabalho de pesquisa que tem a duração prevista de cinco meses. O aeroporto já estava em funcionamento para atender as forças armadas e aviação privada.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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