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Parlamentares, anões ou gigantes? (por Gustavo Krause)

Sistema político disfuncional é a forma elegante de reconhecer a persistência das oligarquias como promessa não cumprida pela democracia

atualizado

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1 de 1 Plenário-da-Câmara-votação-Previdência - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A maior prova de resistência física e mental a que se submete o ser humano não é a disputa por uma medalha olímpica: é disputar, no Brasil, uma eleição para qualquer mandato nos diferentes espaços de poder.

Tive experiências em duas majoritárias: como Vice-Governador na chapa do candidato Roberto Magalhães (1982/1986) com sucesso; em 1994, como candidato a Governador, eleição vencida por Miguel Arraes; duas para mandatos proporcionais de Vereador pelo Recife (01/01/1989-01/02/1991) e Deputado Federal por Pernambuco (01/02/1991-01/01/1995).

A maratona começa diante do enigma: a indecifrável cabeça do eleitor. Não faltam especialistas na “arte” de encontrar o Santo Graal. Há um jargão que serve como escudo para justificar o fracasso das análises e das previsões: “Foi um eleição atípica”. Ora, toda eleição é atípica. Única. As conjunturas são voláteis. Os motivos do voto permanecem misteriosos entre os impulsos da emoção e a serenidade da razão.

Aí se misturam os mais diversos saberes de comunicólogos e as magias de bruxo. Das cores da campanha a uma frase-síntese, ferve a cabeça do/a candidato/a. Um sorriso, não! Sisudo. Forçar a barra soa falso! O eleitor prefere a autenticidade. Mas beijar criancinhas é um mandamento sagrado.

Isso sem falar no “salve-se quem puder” das prévias. No troca-troca de partidos, a moeda é Real. A cauda eleitoral robusta ajuda.

Sistema político disfuncional é a forma elegante de reconhecer a persistência das oligarquias como promessa não cumprida pela democracia. A salvação é saquear o Orçamento Público.

Antes de assumir o mandato na Câmara Federal, recebi dois conselhos de experientes parlamentares: “cachorro novo não entra muito no mato” e “faça constar no seu currículo que não fez parte da Comissão do Orçamento”.

Bingo! Em 1993, o então Deputado Roberto Magalhães, relator da CPI dos Anões do Orçamento, pediu a cassação de 18 dos 37 deputados investigados. Os “anões” eram, de fato, homúnculos morais que fraudaram, algo em torno de R$ 100 milhões de verbas orçamentárias, pixuleco quando comparado às futuras “tenebrosas transações”.

Os tempos mudaram e trouxeram obscena novidade: os “gigantes do orçamento” que abocanham R$ 16,2 bilhões sob o manto opaco das Emendas do Relator, atropelando o princípio constitucional da transparência em troca de apoio ao governo. De quebra, R$ 5 bilhões no Fundo Eleitoral.

Recente decisão da Ministra Rosa Weber negou ampliação do prazo pedido pelo Congresso para adotar medidas que deem publicidade ao espúrio “orçamento secreto”.

Vistos pelo retrovisor, os “anões do orçamento” seriam meros “flanelinhas”.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

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