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Equilíbrio instável (por Antônio Carlos de Medeiros)

A aprovação do presidente Lula caiu para 51%. A desaprovação subiu para 46%. No limite do empate técnico

atualizado

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Imagem colorida do presidente Lula, no Planalto, em frente à bandeira do Brasil desenrola - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida do presidente Lula, no Planalto, em frente à bandeira do Brasil desenrola - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Copo meio cheio ou meio vazio. Esta parece ser a melhor interpretação da Pesquisa Quaest publicada nesta semana. O sistema político brasileiro permanece em equilíbrio instável. É cada vez mais difícil a formação de maiorias de governo.

Copo meio cheio ou meio vazio.  A aprovação do presidente Lula caiu para 51%. A desaprovação subiu para 46%. No limite do empate técnico. A avaliação do governo Lula-III tem um empate entre a positiva (35%) e a negativa (34%). Polarização explícita.

Usando-se um dos critérios europeus de análise de pesquisas, pode-se admitir um “regular +” para a análise do governo: 35% de positivo mais 28% de regular, resultando em 63%. Setores do governo estão usando este critério para buscar a conquista dos eleitores que se incluem no universo de “regular”.

Para além dos números, está claro que o país continua dividido. Está claro, também, que fatos relevantes recentes (a manifestação bolsonarista na Av. Paulista e a inflação de alimentos) contribuíram para o aumento da desaprovação. Cresceu 6% nos evangélicos e chegou a 62%.

Além dos fatos recentes, há os fatos recorrentes e os fenômenos sócio-políticos recorrentes.

Fatos recentes. Primeiro, o novo Congresso tem maiorias flutuantes na análise dos projetos do governo. Um caso a caso.  Segundo, formou-se uma partidocracia (expressão de Norberto Bobbio) no Brasil. O império das oligarquias partidárias.

Para formar maiorias menos instáveis no Congresso, o governo Lula III vai precisar ainda conquistar melhores resultados na entrega de serviços e ganhar mais força e aprovação na sociedade. O Congresso é a expressão da sociedade e age sob pressão da sociedade, principalmente na mídia e nas redes sociais. É preciso um aggiornamento do programa de governo e das políticas públicas.

Para conviver de igual para igual com a partidocracia, é necessário retomar reformas políticas. Há forças convergentes para fazer as reformas? Enquanto isto, Lula precisa continuar cuidando cada vez mais pessoalmente das articulações e negociações.

Fenômenos sócio-políticos recorrentes. Primeiro, a crescente insatisfação da sociedade com a política e os políticos. O novo “zeitgeist” que explodiu nas manifestações de 2013 e resultou na eleição de Jair Bolsonaro em 2018. O bolsonarismo.

Segundo, o fato que o mantra do “é a economia estúpido” não sustenta, sozinho, a aprovação do soberano. É preciso cuidar dos valores e dos costumes. Na prática, significa caminhar mais para alianças ao centro e à centro-direita do espectro político.

O governo Lula III precisa, ainda, construir uma resultante para a dialética lulismo-petismo. Não há coesão e consenso na ação governamental. Este consenso é um pré-requisito para um novo projeto de governo e de país. O governo avançou com programas relevantes e corrigiu rotas na saúde, na educação e na economia. Mas ainda precisa mais. Um aggiornamento.

Voltando ao copo meio cheio ou meio vazio. Vale repetir que a Pesquisa Quaest mostra a dificuldade de formação de maiorias. É um calcanhar de Aquiles. Que leva a permanente equilíbrio instável.

Uma Espada de Dâmocles. A ameaça que paira sobre o soberano e produz o fantasma constante de “deadlook” (jargão americano) ou “stalemate” (jargão europeu), na Política e no processo político: impasses constantes, paralisia decisória, “apagão” de políticas públicas.

Haja negociação e diálogo constante, enquanto as reformas não vêem!

 

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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