Civilização ou barbárie (por Sérgio Vaz)
Essa é a escolha que os eleitores terão que fazer domingo
atualizado
Compartilhar notícia
O segundo turno do próximo domingo, 30 de outubro, é seguramente a eleição mais importante que já houve no Brasil desde a redemocratização. É também a mais polarizada, a que teve a campanha mais suja, a mais cercada por ameaças e temores.
Com toda certeza, nunca houve uma disputa em que as opções colocadas diante do eleitor são tão absolutamente claras, límpidas – e antagônicas, antípodas.
Não é uma escolha entre esquerda e direita. É muitíssimo maior que algo como a defesa de um Estado forte, intervencionista, versus a visão liberal de defesa do mercado, dos agentes econômicos.
É entre democracia e ditadura. Entre civilização e barbárie.
Entre o combate à pobreza, o respeito ao meio ambiente, à educação, à saúde, ao desenvolvimento tecnológico, e o culto às armas, à violência, ao garimpo ilegal, à mineração nas terras indígenas.
De um lado estão políticos respeitados, honrados, de diversos partidos, de Fernando Henrique Cardoso a Marina Silva, juristas, cientistas, compositores, músicos, artistas, acadêmicos das mais diferentes áreas.
Do outro está gente desqualificada como Ricardo Salles, Damares Alves, Carla Zambelli, Bia Kicis. E pitbulls como Daniel Silveira e Roberto Jefferson.
Todo o episódio dos últimos dias envolvendo Roberto Jefferson foi exemplar, simbólico. Escancarou o que está em jogo: a escolha entre a civilidade e o bangue-bangue.
A ofensa de Jefferson contra a ministra Carmen Lúcia – esse ícone de lucidez, inteligência, honradez, chamada de “prostituta arrombada” – tem tudo a ver com “o apartamento pra comer gente” e o “pintou um clima” de Jair Bolsonaro. Com o “passar a boiada” do então ministro do Meio Ambiente, o motosserra de ouro Ricardo Salles. Com as fantasias loucas de “vi Jesus na goiabeira” e da história sem pé nem cabeça sobre as crianças de Marajó de Damares.
Os tiros e a granada contra os policiais têm absolutamente tudo a ver com as ofensas e os ataques de Bolsonaro ao longo destes últimos quatro anos aos tribunais superiores, a seus ministros, ao Judiciário.
Como escreveu Ricardo Noblat, Jefferson, canastrão como sempre, exagerou no papel combinado com Bolsonaro ao recorrer às armas contra os policiais, e com isso o tiro – o simbólico – que eles pretendiam dar na ordem e na democracia atingiu não só o pé como também o peito do presidente-candidato.
A extrema-direita brasileira tem um histórico de tiros no pé. Basta lembrar o planejado atentado ao Riocentro na véspera do 1º de maio de 1981.
Para quem ainda não tinha percebido toda a obviedade, Jefferson colocou todos os pingos nos is. Desenhou.
A opção no dia 30 é entre essa frente ampla pela democracia e o espírito pitbull de Daniel Silveira e Roberto Jefferson.
Civilização ou barbárie.
O cientista social Marco Aurélio Nogueira definiu com precisão: “Votar em Lula é, no mínimo, uma medida cautelar, uma manifestação de cuidado e preocupação com o Brasil. É uma aposta na democracia, na civilidade, na liberdade, na busca de igualdade. No futuro.”
Sérgio Vaz é jornalista (ex-Estadão, estado.com.br, Agência Estado, revistas Marie Claire e Afinal, Jornal da Tarde). Edita os sites + de 50 Anos de Filmes e + de 50 Anos de Textos.