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A triste história da liberdade de expressão (Por António Rodrigues)

Os nazis dão dinheiro

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A Substack, uma plataforma norte-americana para distribuição de newsletters, tem a ambição de desempenhar um papel importante na campanha eleitoral dos Estados Unidos de 2024. E sem a moderação a que outras plataformas recorrem para controlar a difusão de discursos radicais, a Substack transformou-se num paraíso para a extrema-direita, de supremacistas brancos a nazis, passando por nostálgicos confederados.

A denúncia de que “a Substack tem um problema nazi” feita pela revista The Atlantic no final de Novembro não levou, no entanto, a empresa a rever a sua política. Antes pelo contrário, Hamish McKenzie, um dos co-fundadores, publicou uma mensagem a defender a posição da plataforma de não interferir na liberdade de expressão, garantindo que censurar as opiniões extremas apenas serve para lhes dar mais força. Que é como quem diz, os nazis não vão desaparecer, por isso o melhor é ganhar dinheiro com eles.

Como tem sido habitual nos últimos anos, McKenzie usou os mesmos argumentos a que a extrema-direita recorre para defender o seu discurso de ódio, racista, xenófobo, antidemocrático: o direito à liberdade de expressão. Os fundadores da Substack sublinham que “submeter as ideias a um discurso aberto é a melhor maneira de retirar o poder às más ideias”. O que a prática tem demonstrado é que se trata de uma falácia.

Promover este tipo de ideias inflamatórias através das redes sociais e deste género de plataformas acaba por fazer uma espécie de lavagem ideológica que permite separar o discurso da sua origem e dar oportunidade da sua adoção por políticos mainstream.

“Mesmo com o desenvolvimento das normas e da vigilância, é muitas vezes difícil distinguir a comunicação perigosa da liberdade de expressão, em especial quando aqueles que a promovem são eleitos por cidadãos que apoiam as suas ideias”, refere um estudo académico publicado o ano passado.

O veneno do cálice e a higienização

A escritora e activista indiana Arundhati Roy chamava a atenção recentemente, no discurso de entrega do prémio com o nome do líder e pensador comunista indiano P. Govinda Pillai (publicado esta semana pelo jornal mexicano La Jornada Zacatecas), que “o cálice envenenado do mundo moderno” é que hoje a informação, e a sua difusão, não está nas mãos dos media, mas sob controle das empresas de tecnologia.

Isso contribui para aquilo a que chama “o mais desconcertante enigma do nosso tempo”, o de as pessoas no mundo inteiro estarem aparentemente a votar “para ficar sem poder”, consequência da tomada de decisões com base na informação que recebem, a que lhes é fornecida pelas empresas tecnológicas.

O poder de uma empresa como a Meta em termos globais é astronómico. Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger, todas as plataformas da empresa criada por Mark Zuckerberg, têm mais de mil milhões de utilizadores (o Facebook chegava a quase 3 mil milhões em Julho de 2022): 77% dos utilizadores da Internet no mundo inteiro usam pelo menos uma das plataformas da Meta.

A escritora indiana acredita que esse poder incomensurável acabará por resultar em revoluções, quando as novas gerações se rebelarem contra esse controlo excessivo por empresas privadas. No entanto, o desenvolvimento da inteligência artificial poderá tornar-nos ainda mais dependentes, se não for das empresas, dos governos. A revista Economist perguntava esta semana em relação ao que Pequim anda a fazer neste domínio: “O Partido Comunista criou uma economia digital próspera, mas higienizada. Poderá fazer o mesmo com a inteligência artificial?”

(Transcrito do PÚBLICO)

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