metropoles.com

A arma da ofensa e a arte da retórica (por Gustavo Krause)

As eleições começaram. Aliás, não terminaram. Empossado em janeiro de 2019, o Presidente iniciou a campanha pela reeleição.

atualizado

Compartilhar notícia

Fábio Vieira/Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro (PL), acompanhado pelo filho Flávio Bolsonaro, na cidade de Eldorado, interior de São Paulo, nesta manhã de sábado, 22. A mãe do presidente, Olinda Bonturi Bolsonaro, de 94 anos, faleceu na madrugada de sexta-feira (21). O Presidente cancelou viagem à Guiana e voltou ao Brasil para o enterro. Foto: Fábio Vieira/Metrópoles
1 de 1 O presidente Jair Bolsonaro (PL), acompanhado pelo filho Flávio Bolsonaro, na cidade de Eldorado, interior de São Paulo, nesta manhã de sábado, 22. A mãe do presidente, Olinda Bonturi Bolsonaro, de 94 anos, faleceu na madrugada de sexta-feira (21). O Presidente cancelou viagem à Guiana e voltou ao Brasil para o enterro. Foto: Fábio Vieira/Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Caso inédito: Bolsonaro é líder da oposição ao próprio governo. Gerou recorrentes crises políticas e desafiou a contradição insuperável de ser e não ser ao mesmo tempo. Inicia o último ano do mandato com a gestão desaprovada pela maioria dos brasileiros. Faz do confronto estratégia política. Disseminou socialmente o ódio e abriu caminho para completar sua obra-prima que é eliminar as possibilidades eleitorais do centro político.

O clima de animosidade, o inverso do debate civilizado e fecundo, descamba para ofensas pessoais, insinuações e rótulos injuriosos: corrupto, ladrão, quadrilha, canalha, racista, homofóbico, assassino em série, comunista, fascistas e por aí vai.

Não é à toa que a obra de Schopenhauer “Como vencer um debate sem precisar ter razão”, no trigésimo oitavo e último estratagema, recomenda “o uso de ofensas pessoais”. É a chamada dialética erística. A introdução, notas e comentários são de autoria de Olavo de Carvalho.

Impaciente e constrangido com o uso impróprio da linguagem e a profanação do discurso político, busquei um refúgio. Por sorte, tive momentos de alívio e prazer, com a leitura da preciosa obra de Ruy Castro, A vozes da metrópole – uma antologia do Rio dos anos 20 (Companhia das Letras).

A pergunta é: o que tem isso a ver com a proposta inicial do artigo? Contrapor a elaboração aristotélica da arte da retórica à estupidez. O autor, declarado crítico do modernismo, com base em pesquisa gigantesca, demonstra que o Rio sempre foi moderno e resgata 41 autores, muitos, fora de circulação e moda.

Deles, reproduz crônicas, ficção, poesia, frases e provocações, nem sempre sutis, porém bem construídas. E o mais importante: versavam sobre temas ainda hoje em pauta.

“A burrice é contagiosa. O talento, não”. “Persisto em andar pelas ruas do Rio. A rua é a melhor das bibliotecas”. “Lendo Dostoiévski descobrimos a jaula horrível que cada um trás dentro de si” (Agrippino Grieco), crítico temível pela estocada das provocações a exemplo da frase cruel sobre os livros do integralista Gustavo Barroso: “Dignos de serem encadernados na pele do próprio autor”).

“Não acredito em dragões. Hoje, São Jorge mataria, por exemplo, um automóvel” (Jayme Ovalle).

“Quem derruba uma árvore mata a nossa irmãzinha de tranças” (Gilberto Amado).

“Esqueci o berço. Não esqueci o colo”. “Que mau gosto, odiar. Que beleza, querer bem!” (Álvaro Moreyra).

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?