Passagens de até R$ 5 para ônibus e metrô revoltam brasilienses
Aumento na tarifa chega a 25%, dependendo da linha, enquanto a inflação acumulada desde o último reajuste não chega a 8%
atualizado
Compartilhar notícia
Os brasilienses não digeriram bem o reajuste de até 25% nas tarifas de ônibus e metrô a partir da próxima segunda-feira (2/1). Vários segmentos da sociedade ouvidos pelo Metrópoles se mostraram surpresos e revoltados com os novos valores das passagens e reclamam que não foram consultados pelo GDF. O aumento está bem acima da inflação acumulada entre setembro de 2015 (data da última alteração) e novembro deste ano. No período, o IPCA brasiliense ficou em 7,69%.
“O governo pode até ter argumentos financeiros sólidos, mas esse aumento é um exagero, é incompatível com a inflação, com a evolução dos preços. Quem é que teve aumento de 17% nos últimos anos? Ninguém. Na verdade, o que se viu foi o aumento do desemprego, a queda da renda do trabalhador e a recessão econômica”, destaca o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli.
As justificativas de que o reajuste se tornou necessário para manter as gratuidades de estudantes e pessoas com deficiência também foram alvos de críticas do economista. Para Piscitelli, o GDF deveria adotar mecanismos eficientes para reduzir o número de fraudes no sistema, além de criar uma auditoria para comprovar os custos apresentados pelas empresas de ônibus.“Com certeza, vamos nos organizar contra isso. É um absurdo. Não sei o que o governador está querendo”, disparou Paíque Duques, um integrante do Movimento Passe Livre (MPL). De acordo com ele, em momento algum o Palácio do Buriti se reuniu com o grupo para discutir o aumento no preço das passagens.
Quem também não ficou nada satisfeito foi o setor empresarial. Para o presidente da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF), Cléber Pires, a mudança é reflexo da falta de gestão do Governo.
A sociedade não suporta mais. O GDF dá atenção especial para os aumentos no IPTU, IPVA, luz… Na calada da noite, o GDF decide que quem vai pagar essa conta é o empresário
Cléber Pires (ACDF)
Com os novos valores, as passagens sobem de R$ 2,25 para R$ 2,50 as linhas circulares internas; de R$ 3 para R$ 3,50 as de ligação curta; e de R$ 4 para R$ 5 as viagens de longa distância e integração e as de metrô.
Usuários reclamam
Quem anda de ônibus ou metrô ainda faz as contas para saber quanto terá que desembolsar a mais a partir de segunda. Mas sabe na ponta da língua que a qualidade do serviço oferecido pelo sistema não aumenta na mesma proporção.
“Eu, geralmente, gasto R$ 20 por dia com passagem para um serviço que não é tão bom. Os ônibus estão sempre cheios, fico muito tempo esperando nas paradas. É uma rotina sofrida, pegando de cinco a oito ônibus por dia. Agora, nem sei como vou fazer para arcar com o aumento. Como sempre, o trabalhador fica na pior”, afirma Lindaura Ximenes de Paiva (foto de destaque), 46 anos, moradora da Ceilândia.
“Esse aumento é péssimo. Não consigo sentar nos ônibus de tão cheios que eles ficam e quando sento ainda corro o risco de me sujar nas poltronas”, conta a vendedora Roneide da Conceição, 41 anos, moradora do Itapoã.
É sério mesmo que aprovaram esse aumento? O transporte que o governo oferece é um lixo. Podiam ter pensado em outra saída. Mas isso acontece porque não temos outra saída e vamos ter que pagar
Cristiano Azevedo, 37 anos, técnico de informática
O outro lado
Por meio da assessoria de imprensa, a Associação das Empresas de Transporte Público e Coletivo do DF informou que não vai se pronunciar sobre o reajuste, pois é uma decisão do governo. Sobre a qualidade do serviço prestado, explicou que as concessionárias trabalham com “a frota mais nova do país, ônibus com Wi-Fi e câmeras de vigilância”.
De acordo com a Secretaria de Mobilidade, o reajuste é necessário para acompanhar a elevação de custos do sistema, manter as gratuidades para estudantes e pessoas com deficiência e compensar os quase dez anos de congelamento das tarifas, enquanto outros índices cresciam, como salários e combustível, por exemplo.