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Serra concede passaporte diplomático a pastor citado na Lava Jato

O líder religioso pertence a uma igreja que teria recebido R$ 125 mil do executivo Júlio Camargo, segundo delação premiada do próprio empresário

atualizado

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Reprodução/Site Creia em Jesus
Pastor
1 de 1 Pastor - Foto: Reprodução/Site Creia em Jesus

Citado na Operação Lava Jato, o pastor Samuel Cássio Ferreira, da igreja Assembleia de Deus de Campinas (SP), acaba de renovar o passaporte diplomático com autorização do novo ministro de Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP). O benefício, publicado na edição do Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira (18/5), também foi concedido à mulher dele, Keila Campos Costa Ferreira. A igreja em que o líder religioso aparecia como presidente até as denúncias, no ano passado, teria recebido R$ 125 mil do empresário Júlio Camargo, segundo delação premiada do próprio executivo.

O casal fez a solicitação ao MRE em 27 de abril deste ano e conseguiu a autorização menos de 20 dias depois. A validade dos passaportes deles é de três anos. Concedido a diplomatas ou cidadãos brasileiros que desempenham funções de representação no Brasil, o documento permite tratamento diferenciado em aeroportos e alfândegas, como dispensa de revistas e de filas. É obtido gratuitamente. Segundo o Ministério de Relações Exteriores, “seus portadores poderão eventualmente estar isentos da exigência de visto para ingressar no território de outro país”.

As regras para a concessão do documento são definidas no Decreto 5.978 de dezembro de 2006, com uma lista de pessoas que têm direito ao documento. Entre elas estão o presidente da República, o vice-presidente, ex-presidentes, ministros, governadores, diplomatas, militares, parlamentares e magistrados de tribunais superiores. O terceiro parágrafo do artigo 6º permite a emissão do documento “às pessoas que, embora não relacionadas nos incisos do artigo, devam portá-lo em função do interesse do país”.

A Assembleia de Deus Madureira em Campinas (SP), que Samuel Ferreira aparecia como presidente segundo a Receita Federal, teria recebido R$ 125 mil da empresa de Júlio Camargo, investigado na Operação Lava Jato. Na delação, Camargo afirmou que teria feito repasses de US$ 5 milhões a pedido do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Entre os valores, está o recebido pela igreja

Em família
Samuel é irmão do também pastor Abner Ferreira, presidente da Assembleia de Deus no Rio de Janeiro, local frequentado por Eduardo Cunha. O deputado federal afastado esteve na igreja assim que foi escolhido presidente da Câmara dos Deputados para comemorar o resultado.

Na quarta-feira passada (11), de acordo com matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, o Supremo Tribunal Federal (STF) remeteu a investigação envolvendo o recebimento do dinheiro da igreja presidida por Samuel Ferreira ao juiz Sérgio Moro, na Justiça Federal do Paraná. A defesa do pastor alegava que a suspeita de lavagem de dinheiro deveria ser analisada pela Justiça de São Paulo, onde está localizada a igreja.

Esta não é a primeira vez que o casal consegue o benefício. Em janeiro de 2013, com autorização do então ministro de Relações Exteriores Antônio Patriota, os pastores, junto com outros dois líderes evangélicos, conseguiram o passaporte diplomático também. À época, o Itamaraty afirmou que o passaporte havia concedido em “caráter de excepcionalidade”.

O Metrópoles entrou em contato com o Ministério de Relações Exteriores, mas não obteve retorno até esta publicação. O casal também foi procurado.

 

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