metropoles.com

A Repartição do Tempo: Dedé Santana estrela filme de viagem no tempo

Dirigido por Santiago Dellape, longa ambientado em Brasília estreia nesta quinta-feira (1º/2) em circuito nacional

atualizado

Compartilhar notícia

Luciana Melo/Divulgação
ART Foto Oficial 05 – Dede Santana foto Luciana Melo_e
1 de 1 ART Foto Oficial 05 – Dede Santana foto Luciana Melo_e - Foto: Luciana Melo/Divulgação

Os paradoxos causados por uma viagem no tempo são tema por excelência da ficção científica e capazes de embolar a mente de pessoas do mais alto QI. Tudo isso graças aos inúmeros arranjos que linhas temporais diversas adquirem ao alterarem o passado ou o futuro. Afinal, vale a velha máxima: se eu voltar no tempo e matar meu avô, não terei nascido para… voltar no tempo e matar meu avô!

Filmes, livros e produtos diversos se embrenharam nesse matagal da viagem no tempo para explorá-la com as mais diversas nuances, seja num estilo pop e “for dummies” como De Volta Para o Futuro, seja numa rede impenetrável de realidades distintas – como no ridiculamente hermético Primer, de Shane Carruth (desafio você a entender qualquer coisa).

Há também, é claro, uma abordagem mais filosófica, como fez Isaac Asimov no romance O Fim da Eternidade. A viagem no tempo interessava inclusive a Einstein, que chegou a afirmar ser possível voltar ao passado, já que, quando atingida a velocidade da luz, o espaço-tempo começaria a voltar para trás.

Digo esse introito todo para justificar meu entusiasmo pela produção brasiliense A Repartição do Tempo, de Santiago Dellape, que estreia nesta quinta-feira (1º/2) em cadeia nacional. O filme abocanhou uma menção especial do júri no prestigiado Fantasporto International Film Festival, além de participação no Festival de Tiradentes em 2017.

A premissa é tão insólita quanto hilária: o chefe de uma repartição pública decadente, usando uma máquina do tempo, duplica e prende seus funcionários para que eles trabalhem com “eficiência máxima”. A partir daí, os paradoxos temporais abundam em situações que vão da ficção científica descolada até Zorra Total.

Dellape e o roteirista Davi Mattos apostaram em uma muito curiosa fusão de elementos e gêneros que tornam A Repartição do Tempo uma comédia ao mesmo tempo “cult” e viável comercialmente: estão lá, trapalhadas à la Sessão da Tarde (não à toa, o filme conta com a fundamental participação de um trapalhão por excelência, Dedé Santana); maloqueirice estilo Cheech and Chong; um certo ar fantástico que lembra o cinema de Tim Burton; além de uma notável produção que deixa o longa tecnicamente redondo, pronto para todos os públicos e idades (ou quase…).

Luciana Melo/Divulgação
Essa guinada pop, capaz de unir, de um jeito pós-moderno, tantas facetas diferentes, se alinha à tendência do cinema mundial e até brasileiro (vide Bingo: o Rei das Manhãs) em reconhecer na nostalgia um filão que restaura uma memória coletiva, traz solidez à identidade de uma geração e busca reconhecimento a produtos antes considerados inteiramente descartáveis, como filmes tipo Curtindo a Vida Adoidado e a série dos Trapalhões.

Além de fazer essa costura, buscando equilíbrio entre o estritamente comercial (beirando o padrão Globo) e avalanche de memórias e afecções, A Repartição do Tempo lança um olhar cômico que se aproveita do estereótipo de Brasília e do brasiliense para soltar várias piadas internas, conseguindo traduzir um sotaque local não muitas vezes visto no cinema da cidade.

Luciana Melo/Divulgação
Brasília já havia sido retratada como sci-fi em outras ocasiões, como no estranho Insolação, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch, com resultado enfadonho. Já o recente cinema de Adirley Queirós é outra proposta, mais ferina e cheia de potência, lançando olhar crítico sobre a desigualdade social do DF. A Repartição do Tempo, inteiramente dentro da “cultura pop”, surge como uma terceira via. Para aqueles capazes de desenovelar os malucos paradoxos temporais, é claro!

A ZIP enviou duas perguntas ao diretor Santiago Dellape:

A ficção científica é um gênero incomum na produção brasileira. Como você conciliou a ideia de se aventurar numa história de viagem no tempo e ainda assim manter a viabilidade comercial do filme?

Eu e Davi Mattos, roteirista do filme, sempre tivemos uma certa fixação por histórias de viagem no tempo e já desenvolvemos alguns roteiros nessa linha. Nos sentimos desafiados a pensar sobre os paradoxos temporais que geralmente surgem nesse tipo de narrativa. Acho que é um tema que causa fascínio nas pessoas pelo que ele tem de surreal e fantástico.

Sinceramente, não posso responder sobre a viabilidade comercial, pois sequer sei se o filme é viável comercialmente. Ele está tendo um lançamento bem modesto, em poucas cidades, num período bastante complicado de Carnaval e concorrendo com filmes do Oscar. Embora meus trabalhos tenham algum apelo de público, reconheço que a trama de A Repartição do Tempo pode se mostrar inacessível a uma parcela da audiência, já que as idas e vindas na história, em dado momento, ficam confusas até mesmo para os roteiristas! (risos). Mas, de qualquer maneira, acho que o público pode gostar pelo tom leve e despretensioso do humor que estamos propondo, e por ser um tipo de comédia que destoa do usual para o cinema brasileiro.

Luciana Melo/Divulgação
A Repartição do Tempo tem elementos de humor dos anos 1980, Sessão da Tarde e coisas como O Grande Lebowski. Como você vê o apelo nostálgico do filme para plateias dos anos 2010?

Acho que A Repartição do Tempo vem nessa onda nostálgica de resgate da estética dos anos 1980, da qual o maior expoente hoje em dia seria Stranger Things. Mas não acho que seja um simples modismo, mesmo porque o projeto de A Repartição do Tempo foi concebido em 2011. Percorremos um longuíssimo caminho desde o filme sair do papel até chegar nas telonas, no qual esbarramos principalmente na dificuldade de levantar recursos para a produção e, já com o filme pronto, de colocá-lo nas salas de cinema.

Mesmo antes de chegar no longa-metragem, eu e Davi já estávamos bebendo nessa fonte dos anos 1980, como fica claro no curta Ratão (2010), que nada mais é do que uma grande homenagem a filmes que fizeram nossa cabeça quando crianças, como Goonies e Os Aventureiros do Bairro Proibido. Já O Grande Lebowski, que você mencionou, embora não faça parte desse mesmo recorte cinematográfico, é sempre uma referência máxima e contínua nos nossos roteiros, pois nos consideramos “dudeístas não praticantes” nesse singular culto que o filme dos irmãos Coen inaugurou.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?