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Rotina de agressões: vítima de feminicídio do DF teve casa quebrada e sofreu ameaças antes de morrer

Primeiro registro data de 2014, quando houve a primeira separação. Último caso de ameaça teria ocorrido em junho do ano passado

atualizado

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Arquivo Pessoal
Marley de Barcelos Dias, vítima de feminicídio no DF
1 de 1 Marley de Barcelos Dias, vítima de feminicídio no DF - Foto: Arquivo Pessoal

Xingamentos, destruição da casa e perseguição. O relacionamento da professora aposentada Marley de Barcelos Dias, 54 anos, com Geovane Geraldo Mendes da Cunha, 44, teve vários episódios de violência. Registros feitos pela própria mulher, que acabou sendo vítima de feminicídio nesta terça-feira (12/1), mostram a rotina da relação abusiva.

O primeiro boletim de ocorrência foi feito em 2014. Conforme relato da própria Marley durante a tramitação do processo, em dezembro daquele ano, Geovane ligou para ela pedindo o número do cartão de crédito para fazer uma compra.

Sem óculos, a então diretora acabou por passar uma informação errada. Conforme consta nos autos, o agressor “ligou diversas vezes no telefone e atrapalhou a vítima, pois havia faltado água na escola em que trabalhava e estava cheio de gente”.

Geovane ficou alterado e passou a xingar Marley, inclusive dizendo que iria colocar fogo na casa dela. De fato, quando a professora voltou à residência, estava tudo destruído. O homem quebrou as portas, os guarda-roupas, objetos e plantas. Ao sair do local, ainda xingou a vítima e disse que ela “tinha que aprender a respeitar homem e que ele ia lhe ensinar a respeitá-lo”. Após o episódio, o valor dos bens foi pago, segundo o processo.

Uma testemunha corroborou os fatos e ainda relatou uma ameaça de morte. “Eu posso ir preso, mas vou te matar”, disse Geovane em determinado momento.

Um ano após o caso, os dois se reconciliaram e a medida protetiva dada naquela época foi revogada. Ele moraram juntos até maio de 2020, quando novamente Marley terminou o relacionamento. A razão seria o constante uso de cocaína e bebidas alcoólicas do companheiro. Geovane chegou a ficar internado em clínicas de reabilitação por duas vezes entre os anos de 2015 e 2019.

A separação foi tranquila de início, mas, em junho do ano passado, o agressor passou a ligar constantemente para a vítima, xingando de diversos palavrões. Marley bloqueou o contato de Geovane, mas ele passou a utilizar outros números para fazer ligações.

Em novo processo pedindo medida protetiva, ela disse que estava “com muito medo de Geovane”. No caso, o agressor chegou a falar com o filho de Marley, pedindo o desbloqueio do número.

Polícia não registrou descumprimento

“É importante frisar que não houve nenhuma informação de descumprimento de medida protetiva neste período, chegando para a nossa infeliz surpresa a notícia de que já havia se consumado o crime de feminicídio”, destacou o delegado-chefe da 13ª DP (Sobradinho), Hudson Maldonado.

Segundo ele, os familiares confirmaram que o suspeito era uma pessoa “agressiva”. “A família alega que ele realmente era difícil, conflituoso, autoritário”, descreveu o delegado.

Mesmo sem poder frequentar o condomínio, Geovane não teve dificuldades em entrar. Imagens capturadas pelas câmeras de segurança do Condomínio Império dos Nobres mostram o momento em que o autor do feminicídio entrou no residencial.

A gravação mostra, claramente, o momento em que o suspeito chega ao condomínio, por volta das 3h. Ele dirige e estaciona em frente à casa da vítima, no conjunto B da Quadra 4, às 3h01. Às 3h06, o homem deixa a residência de Marley dirigindo o carro dela, um Jetta branco.

Veja o vídeo:

Geovane  fugiu e usou a própria arma para se matar após ser perseguido pela polícia, em São Gabriel (GO). Ele trabalhava na Companhia Energética de Brasília (CEB).

“Nota-se que ele travou algum diálogo com o porteiro, com o responsável pela guarita. Vamos investigar o que foi que ele disse, qual foi o artifício ele utilizou para ter acesso ao condomínio. Nós não sabemos se ele se apresentou como morador, como visitante… Se ele simulou ter perdido o cartão de acesso. Nós vamos verificar isso”, disse o delegado Hudson Maldonado.

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O filho de Marley viu o momento em que a mãe foi atingida por três disparos de arma de fogo na casa da família. De acordo com o jovem, de 23 anos, houve um princípio de discussão. O rapaz ouviu o barulho e pegou uma moringa de vidro para se defender, quando o suspeito fez um disparo à queima-roupa contra a vítima. Marley caiu na cozinha da casa e, logo em seguida, o suspeito disparou mais duas vezes contra ela.

A mulher sofreu perfuração de arma de fogo na região torácica e não apresentava sinais vitais quando os bombeiros chegaram à residência onde ocorreu o crime.

Esse foi o segundo caso de feminicídio no DF em quatro dias. Por volta das 21h de sexta-feira (8/1), no Conjunto D da QNN 3, em Ceilândia, Isabel Ferreira Alves, 37, também foi assassinada e se tornou a primeira vítima de violência de gênero neste ano no DF.

Veja o vídeo do delegado explicando o caso:

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