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Publicitária cria projeto para empregar refugiados no Brasil

As ambições e a história de Luciana Maltchik Capobianco a impulsionaram a criar o “Estou Refugiado”

atualizado

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Rafael Yamamoto
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1 de 1 luciana - Foto: Rafael Yamamoto

Imagine se mudar para um país novo sozinho, você não conhece o idioma, se encontra sem recursos e sem oportunidades. Entre os muitos desafios de quem vem morar no Brasil, um dos mais complicados é conseguir um emprego. O projeto “Estou Refugiado” foi criado pensando justamente nessas dificuldades, para que os estrangeiros possam ter trabalhos dignos e seguir seus sonhos.

Uma espécie de fada madrinha, o programa é fruto da empresa social Planisfério. Para a coordenadora paulista Luciana  Maltchik Capobianco, de 50 anos, o tema tem um toque pessoal. O avô dela veio da Romênia para o Brasil devido à perseguição aos judeus na União Soviética.

Além da questão familiar, a publicitária, empresária e ativista queria buscar uma causa para abraçar. Através do projeto, o time conseguiu inserir 300 refugiados no mercado formal de trabalho em São Paulo nos últimos dois anos. Luciana é ambiciosa e pretende que o número cresça cada vez mais.

Conheça melhor a história dela e do “Estou Refugiado”:

De onde surgiu a ideia do projeto?
Começou informalmente como um movimento e agora está se solidificando como um negócio social. Nosso objetivo é ser uma empresa sustentável e ajudar as pessoas. Veio também de uma vontade meio pessoal. Queria abraçar uma causa social, já tinha trabalhado bastante em iniciativas e tinha vontade de fazer a diferença, buscar um mundo melhor.

A questão do refugiado veio para ficar, porque hoje temos milhões de pessoas se deslocando pelo mundo, são vítimas de problemas, guerras e catástrofes naturais e esse número tende a se perpetuar. Pensamos como nós, publicitários, podíamos fazer alguma diferença. Fizemos um monitoramento nas redes sociais para saber como estava essa pauta no Brasil e percebemos o preconceito existente. Sempre que via uma matéria ou algo falando dos refugiados no Brasil, apareciam muitas menções xenófobas e racistas.

Por isso, começamos a contar histórias: como chegaram ao Brasil, por que vieram, qual profissão exerciam antes, o que desejam. Fazemos então os bancos de dados e disponibilizamos no portal do “Estou Refugiado”.

Como funciona o contato entre os refugiados e quem quer contratar?
Desde que nosso grupo começou a se dedicar a isso, recebíamos ofertas de trabalho. Então identificávamos o melhor perfil dos inscritos que davam match com aquela proposta e acompanhávamos. Inicialmente, falávamos com as ONGs parceiras. Hoje, os refugiados já nos conhecem e vem até nós.

É muito bacana, porque através de parcerias conseguimos fazer trabalhos diferenciados. Vamos colocar um totem na Livraria Cultura da Avenida Paulista. É um objeto com apelo, parece peça de museu. Tem um loop de fotos passando, a pessoa vai até lá e interage. Ela aperta um botão e ouve um história, sai um currículo e pede ajuda a encontrar um trabalho.

Essa peça é legal porque abre muitas portas para a questão do refugiado como um todo, mexe com o cidadão comum e o empresário. Com ela, já conseguimos agendar reuniões. É um retorno bom.

De onde vem sua veia humanitária?
Sou judia. Meu avô veio criança com a família da Romênia fugindo da perseguição na União Soviética. Na verdade, essa história se repete na história. Considerando a forma que o mundo está, as desigualdades que existem, o poder da Internet como um agente para trazer à tona essas questões. Não fazer alguma coisa a respeito, para mim, é quase impossível.

Quero desfazer a desigualdade no mundo. Muitas pessoas perguntam o motivo de ter optado por refugiados e não moradores de rua, por exemplo. Já existem ONGs, pessoas e coletivos trabalhando para esse grupo. Tem a ver com a minha história pessoal e tem a ver com o momento atual.

Rafael Yamamoto

Quais as reações do público ao “Estou Refugiado”?
Superpositivas e negativas. A grande maioria é boa, mas quando a gente comemora um êxito com alguma pessoa e conta o lado feliz de ela estar empregada, sempre tem uma pessoa para falar “Por que refugiado? E o brasileiro?”. Vamos resistindo.

Você lembra quem foi o primeiro refugiado empregado pela empresa?
Foi o Israel, do Congo. Depois que fizemos uma campanha, uma empresa de propaganda mandou um e-mail avisando sobre uma vaga de artes lá. A gente saiu procurando algum refugiado e acabamos o conhecendo. Ele tinha chegado ao país há menos de um ano e não falava uma palavra de português.

Israel vendia seus quadros na Praça da República na época, chegou na agência de bermuda e chinelo e bateu supercerto com a empresa. O que achei mais bacana foi ele ter virado uma inspiração lá dentro. Ele está pintando superbem, vendendo os quadros, criou um site e está fazendo a primeira exposição agora. É muito transformador poder ajudar no caminho dessas pessoas.

Quais suas próximas metas?
Quero continuar a trabalhar com negócio social, é uma via de mão única. A meta é conseguir 400 empregos em 2018 e criar negócios que gerem renda para refugiados e imigrantes.

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