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Pesquisa com picolés testa a honestidade dos alunos na UnB

Um freezer com vários sorvetes, um cartaz indicando o preço único (R$ 2) e uma urna para o cliente depositar o dinheiro. Propositalmente sem fiscalização, os resultados impressionaram os organizadores do projeto

atualizado

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Lava Jato, Pandora, Custo Brasil, Turbulência, Caixa de Pandora. Essas são operações policiais para combater a corrupção no Brasil e fazer com que políticos paguem pelos valores exorbitantes desviados dos cofres públicos. Mas você já parou para pensar como essas pessoas começaram seus atos de desonestidade?

Com certeza os envolvidos não acordaram roubando milhões. Os atos vão crescendo, crescendo, até perderem a proporção. Você consideraria corrupta uma pessoa que pega um picolé sem pagar?

Para medir o nível de honestidade dos alunos da UnB foi instalado no campus um freezer cheio de “Picolés da Verdade – O picolé que diz a verdade sobre você”. Na frente foi colado um cartaz explicando o processo e uma urna de vidro onde as pessoas deveriam depositar R$ 2 pelo produto.

Isso mesmo, ninguém cobrando, sem alarmes, sem câmeras de segurança, apenas os consumidores e suas consciências. O certo seria abrir o freezer, pegar o sorvete escolhido, depositar o dinheiro cobrado na urna e ir embora. Mas não foi bem isso que os idealizadores do projeto encontraram ao analisar os números.

Quando os alunos da oficina de Controle Social e Transparência por Demanda, da Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Gestão de Políticas Públicas (FACE/UnB) procuraram os irmãos Lana e Rudi Vieira Martins, criadores e proprietários da Eppop – Picolés e Sorvetes Artesanais, para fechar uma parceria no projeto, a ideia foi aceita na hora. A empresária conta que já havia pensando em realizar um estudo com essa temática na cidade, mas ainda não tinha encontrado tempo.

“Teríamos que arcar com os possíveis prejuízos, então os picolés – fabricados especialmente para o projeto – são menores (em comparação aos vendidos normalmente pela marca), mais baratos (o sorvete mais barato da Eppop custa R$ 7) e também escolhemos os sabores mais populares”, explica Lana.

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Três alunos do sexto semestre de Economia, Thainá Targino Paixão, Gabriel Vaz Hecht, e Daniel Ribeiro dos Santos, contam os picolés e o dinheiro diariamente, fazem o balanço das vendas e passam as informações e o dinheiro para os irmãos Martins. O projeto começou no dia seis de junho e vai até terça-feira (28/6).

Lana confessa que esperava resultados melhores, mas a “taxa de esquecimento” – como é chamada educadamente pelos responsáveis do projeto – não para de crescer. Na primeira semana a taxa foi de 2%, mas, na última sexta-feira (17/6) chegou a 34,01%, ou seja, dos 199 picolés que se encontravam no freezer, 68 foram levados sem pagamento. Os números dessa semana ainda não foram fechados.

“Até a sexta-feira (24/6) levamos 4.800 picolés para a UnB. Reabastecemos em horários diferentes para ver se faria diferença e fez. À noite e aos finais de semana a ‘taxa de esquecimento’ aumenta muito”, conta Lana.

Nem tudo está perdido. Apesar do resultado não ter sido tão positivo, a proprietária do Eppop alega que a experiência também tem seu lado bom. Muitas pessoas colocam bilhetes na urna pedindo para o projeto continuar, agradecendo pela confiança, elogiando os picolés e a iniciativa.  Até a página oficial do sorvete no Facebook está recebendo recados.

“Não ganhamos dinheiro com isso, muito pelo contrário, acabamos tendo um pequeno prejuízo. Foi mais para saber como as pessoas se comportariam, perceber a índole das pessoas ao nosso redor e saber que a marca está plantando semente para alguma coisa diferente”, declarou Lana.

Uma segunda etapa do projeto para o segundo semestre ainda não está descartada. Enquanto isso, fica a reflexão: existe diferença entre uma pessoa que pega alguns picolés sem pagar e outra que pega alguns milhões que não lhe pertencem? Ou é só uma questão de oportunidade?

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