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Cirurgia é sonho distante para maioria dos transexuais

Pessoas trans relatam suas dificuldades e especialistas apontam desafios. Ministério da Saúde não tem informações centralizadas

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Edilene Pereira, em sua casa, na Ceilândia: expectativas suspensas

Todo dia, Edilene Pereira espera por um telefonema. Aos 67 anos, a moradora de Ceilândia sonha com o dia em que poderá, finalmente, ter a vagina com a qual ela sempre se imaginou. Ao nos receber em sua casa, ela abre a porta com um sorriso. Já são mais de sete horas da noite e Edilene desliga a televisão diante da cama. Foi nesse mesmo lugar que, em 2008, ela viu no jornal que o Ministério da Saúde daria início a uma política voltada para pessoas transexuais.

“Eu soube pela televisão que tinha uma lei aí que fazia a cirurgia de homem pra mulher, daí fui no hospital pra ver como era”, explica a senhora que, na época, ainda não havia iniciado o processo formal de transição do sexo masculino para o feminino. Viúva da esposa com quem foi casada por mais de três décadas e com quem teve dois filhos e uma neta, ela conta que sempre se sentiu mulher. “Só não botava em prática por causa da época, que não permitia. A época era muito rebelde contra gays e isso tudo.”

Desde a notícia na TV, Edilene percorreu um longo caminho pela rede de saúde do Distrito Federal, até ser chamada para realizar a operação no Hospital das Clínicas de Porto Alegre – já que não há hospitais habilitados para o procedimento em Brasília. Por duas vezes, ela viajou para o Rio Grande do Sul, com a promessa de que finalmente sua cirurgia seria feita.

Mas não consegui nada lá. Disseram que sou muito parecida com um homem, que pra operar tinha de parecer mais com mulher. Aí, eu fiquei fora dos planos deles. Voltei pra lista de espera. Mas minha cabeça não é assim, minha cabeça é feminina, não consta aqui que eu sou homem não.

Edilene Pereira, funcionária da construção civil aposentada

Questionada se sete anos depois do início do percurso ela ainda teria esperanças de fazer a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde, ela responde: “Eu já ‘tava’ pensando que não ia conseguir fazer, aí, quando vocês ligaram hoje, eu pensei que era pra fazer a cirurgia”. Pedimos desculpa pelo engano e explicamos que estamos ali para ouvir sua história. “Só ouvir história?”, lamenta Edilene, com um quase-sorriso ainda esperançoso, “não trouxeram nenhum resultado pra mim, não?”.

Sem muita perspectiva de solucionar seu desejo pela rede pública, ela passou a economizar. “Pelo SUS é difícil, pelo particular que não é, com uns R$ 30 mil se faz”, diz Edilene. Pelos seus cálculos, ela não deve demorar muito para juntar o dinheiro e pagar a cirurgia de readequação sexual. Só que, para isso, ela decidiu adiar a reforma da casa em Ceilândia e todo mês deposita R$ 500 da aposentadoria numa poupança. Durante a apuração, entretanto, a entrevistada descobriu a existência de um câncer de estômago e, mais uma vez, viu seu desejo ser adiado.

Rafaela Felicciano

Imagens: Rafaela Felicciano

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