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Inspiração fez Dulcina de Moraes trocar o Rio por Brasília inacabada

A série Teatro 061 conta como a atriz resolveu trocar o endereço em Copacabana, no Rio, por um apartamento funcional da Marinha

atualizado

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Dulcina de Moraes
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O caso de amor entre Dulcina de Moraes e Brasília foi fulminante. A atriz chegou à nova capital em abril de 1963 com o espetáculo “Oito Mulheres”, de Robert Thomas. A peça foi apresentada no Cine Teatro Cultura e provocou um rebuliço no vazio cultural. A direção era de Luís de Lima, ator português que trouxe para o Brasil técnicas avançadas de mímica dramática, montando assim importante repertório, com destaque, para montagens de textos de Ionesco, expoente do teatro do absurdo.

Luís de Lima e o elenco deslumbrante de “Oito Mulheres”

 

A imprensa reclamou da curtíssima temporada e do monopólio cultural, que estava nas mãos do empresário Paulo Sá Pinto, empresário que revolucionou o circuito cinematográfico no Brasil.

A produção era da Companhia de Nicette Bruno. Dulcina estava ao lado de grandes atrizes. Iracema Alencar, Margarida Rei, Suely Franco, Nathália Timberg, Maria Sampaio, Sônia Morais Maria Fernanda. Veio acompanhada do marido e empresário, Odilon Azevedo.  Quando botou os olhos em Brasília, foi arrebatada.

O elenco estelar de “Oito Mulheres”

 

Prédios surgindo da terra vermelha, brancos, brotando dramaticamente do chão batido, ainda sem muito verde ao redor

Dulcina de Moraes

O encontro foi místico. Dulcina contava que havia uma força naquele local.

Tanta! Enfim, tanto que criar, que realizar. Era um mundo que estava começando. Senti uma vontade de estar ali.

Dulcina de Moraes

 

Dulcina estava convicta: Brasília é o destino

 

Diante da inspiração, virou-se para Odilon e revelou o desejo de vir para essa terra. De crescer com a cidade. O impacto foi muito tão potente que Dulcina voltou para o Rio com a sensação de que tinha encerrado a sua missão.

Acho que foi um caso de amor à primeira vista

Dulcina de Moraes

Quem conhecia Dulcina sabia que o ocorrido em Brasília não tinha volta. Era impossível demovê-la da ideia de vir para capital. “Odilon sabia e cedia, calado e sereno, ponderado e exato”, observou o ator e biógrafo Sérgio Viotti.

Dulcina entrou em contato com a Novacap. Falou das suas intenções. Abrir uma Faculdade de Artes no centro do país com a missão de irradiar talentos. Não teve respostas positivas. Os terrenos estavam ocupados.

 

Não desistiu. Combinou uma nova viagem para Brasília. Dessa vez, no Ministério da Educação. Teve uma audiência frustrada. Antes, no elevador, conheceu um homem amabilíssimo que os convidou para passar na sala dele depois do compromisso. Dulcina não deu a mínima. Estava preocupada com os desdobramentos. Odilon ponderou: “Seria uma falta de educação”. Ao final, eles foram, falaram do projeto e receberam um convite desse senhor: passar no dia seguinte na Novacap. Quando o casal chegou, encontrou uma equipe à espera. Estavam todos diante de um grande painel com o mapa do Plano Piloto

Parecia um favo de mel gigantesco, cheio de buraquinhos. A maioria com bolinhas vermelhas dentro. Outros estavam vazios

Dulcina de Moraes

O homem amabilíssimo olhou para Dulcina, que estava controladamente tensa, e disse: “Se quiser um terreno para localizar a Fundação Brasileira de Teatro (FBT) e uma casa de espetáculos é este aqui, No Setor de Diversões Sul”. Dulcina não sabia o que fazer. Conta que fechou os olhos diante do queijo suíço e orou:

Guie meu dedo, meu Pai. Deus meu, por favor

Dulcina de Moraes

Guiou o dedo indicador e cavou um buraco com a unha pintada. Escolheu o lote.

Tinha escolhido meu terreno. Era ali que a Faculdade seria construída. Bendita educação de Odilon

Dulcina de Moraes

Dulcina veio morar em Brasília em 1972. Inicialmente, ocupou o Hotel Alvorada. Depois, o Nacional. Mais tarde, foi transferida para um prédio funcional da Marinha. Começa nesse momento a luta pela construção da sede da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), que vai mudar e influenciar o modo de se fazer teatro em Brasília.

Fontes:

Acervo do Correio Braziliense
Dulcina e o Teatro do Seu Tempo, de Sérgio Viotti
Dulcina de Moraes – Memórias do Teatro Brasileiro, de Michelle Bastos
Série Teatro Brasileiro – Bastidores, de Simon Khoury

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