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Foi-se a última Rainha do Rádio: a eterna Sapoti, Ângela Maria

A última vez em que fiquei diante da voz de Ângela Maria foi em julho de 2012. A Rainha do Rádio, eterna Sapoti (apelido que lhe foi dado pelo presidente Getúlio Vargas), estava em Brasília para comandar um disputado show que passeava por sua longeva carreira de quase 70 anos. Naquele ano, aos 83 anos, […]

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Foto colorida de Angela Maria - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de Angela Maria - Metrópoles - Foto: Reprodução/Facebook

A última vez em que fiquei diante da voz de Ângela Maria foi em julho de 2012. A Rainha do Rádio, eterna Sapoti (apelido que lhe foi dado pelo presidente Getúlio Vargas), estava em Brasília para comandar um disputado show que passeava por sua longeva carreira de quase 70 anos. Naquele ano, aos 83 anos, estava com o fôlego de uma menina tranquina. Posou para fotografia simulando os gestos efusivos de Carmem Miranda e soltou a voz em agudos inalcançáveis.

Só não me peçam para cantar Babalu. Quer saber? Estou de saco cheio dessa música

Ângela Maria

A frase saiu com uma sonora gargalhada. Babalu é um capítulo à parte na história fantástica de Ângela Maria. Ela conta que, certa feita, encontrou o pianista Waldir Calmon, quando ele estava gravando um disco de 33 rotações. Na hora, ele sugeriu a Ângela uma palinha com duas canções. Uma delas: a fantástica “Babalu”.

Trouxeram a letra em espanhol e então fiz a canção com aquele passeio vocal fantástico. Quando terminou, ele sorriu e me disse: já está gravado

Ângela Maria

Ângela Maria era a maior cantora viva desse país, com uma trajetória inigualável. Aos 89 anos, com mais de 115 discos gravados, 60 milhões vendidos, caminhava entre as melodias e letras que por si compõem a história de ao menos 70 anos de MPB. De Herivelton Martins a Cazuza, cantou as dores e os amores para muitas gerações.

“Não houve (e por certo não haverá) nenhuma cantora na nossa música com história semelhante em termos de produtividade, importância e longevidade. Tenho muito orgulho de ter Ângela Maria na minha história e, principalmente, de ter dado a elas todas as flores em vida. Para sempre te amarei, Estrela da nossa canção popular”, declarou Thiago Marques Luiz, diretor e produtor musical

Ângela Maria era um motor. Mesmo com dificuldades de visão, não parava com os shows e os planos para expandir a carreira. Quando estava em fase de preparação de um disco, ouvia cautelosamente cada música antes de selecioná-las. Gostava de remexer em discos antigos para pescar pérolas esquecidas. Ao chegar em estúdio, vinha com as canções estudadas. Algumas se tornariam únicas em sua voz. Gente Humilde, de Chico Buarque, era uma delas. Impossível, não ouvir essa obra-prima e não pensar em Ângela Maria.

Tomei como um hino meu. Minha infância no subúrbio do Rio. Minha mãe tinha uma casa avarandada e uns bichinhos

Ângela Maria

À frente de seu tempo, Ângela Maria enfrentou o preconceito da família ao optar em ser cantora. Sabia de sua predestinação e seguiu firme rumo ao estrelato:

“Diziam que as cantoras não prestavam. Eu respondia. Eu presto. Assim, já em 1954, era eleita Rainha do Rádio. Passei por muitos julgamentos morais, até nas escolhas pessoais da vida. Mas entendi que a força da minha voz era maior por encantar multidões. Era uma missão. Então sou uma mulher de agora, de 1950, de 1960, de 1970, de 1980, de 1990, de 2000 e de até do dia em que eu puder viver.”

O dia chegou neste sábado de primavera (29/9) e interrompeu a carreira de shows marcados. Em sua casa, Agnaldo Timóteo, que foi motorista particular de Ângela, estava com a voz embargada ao atender o telefonema do Metrópoles.

Conheço essa mulher desde 1953, conduzia ela pela cidade para as gravadoras e os shows. Depois, tive minha carreira atrelada à sua voz, em parcerias imortalizadas. Eu me sinto muito angustiado com sua morte e peço que os céus a recebam com muita luz e acolhimento”

Em Manaus, com a turnê de Eu Vou Tirar Você Deste Lugar – As Canções de Odair José, a cantora Watusi, amiga e admiradora de Angela, decidiu homenageá-la após as duas sessões deste domingo (30/9).

Vou dedicar o espetáculo a essa mulher fantástica que tanto dignificou a nossa música

Watusi

Ângela Maria ficará eterna em nossos corações.

“No caso da Ângela, foi-se com ela a última testemunha dos melhores momentos da Música Brasileira. Ângela era a derradeira representante da Era de Ouro do Rádio no Brasil. Sim, certamente, alguém me lembrará de um ou outro nome muito amado ainda entre nós… Porém, no patamar da Ângela, ninguém… E Ângela era do bem, afável, dada… Jamais se fez de estrela inalcançável”, avaliou o biógrafo Rodrigo Faour.

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