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A luta contra corrupção não é um ato de violência à mulher

Exaltados, alguns apoiadores do impeachment xingam a presidente de impropérios sexistas e chegam a pregar a violência física

atualizado

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No metrô, um passageiro rasga o silêncio do vagão e engata um inesperado discurso anticorrupção. Clama pelo fim da passividade do povo contra Dilma. Há uma certa preguiça entre os ouvintes. Talvez, por conta, do pensamento senso-comum que se alastra pela boca do indignado. Sem a recepção da plateia, ele visivelmente se irrita, emenda palavrões sexistas contra a presidente e, ao final, num ato de desespero, expõe a origem do ódio.

Aquela ali, nunca deveria sair de frente da pia de pratos

O incômodo fica insuportável. Cabe a uma jovem puxar uma vaia que estimula outra e outra. Sob o som da desaprovação, o homem vocifera e roga que nunca mais uma mulher chegará ao cargo de presidente da República. As portas se abrem e ele segue em sua sina triste de reproduzir preconceitos e pensamentos que perpetuam a decadente sociedade patriarcal brasileira.

Tratores patrióticos

Parte desse Brasil medieval, aliás, está nas ruas, veste-se de verde e amarelo, canta o Hino Nacional com a mão sobre o coração e enche o peito para chamar a presidente de “vaca e vagabunda” (entre outros, vocábulos bem mais desagradáveis). Essa mesma turma patriótica vai às redes sociais para postar memes que desclassificam a presidente da República pela sua condição de mulher.

É lógico que não seria diferente se o mais importante mandatário do país fosse negro, homossexual, portador de necessidade especial ou anão. Não sendo homem heterossexual e branco, qualquer suspeita de improbidade seria untada com as tintas violentas do preconceito.

Profunda dor
No caso de Dilma Rousseff, esse procedimento se alastra desde as duas campanhas eleitorais. Agora, com os nervos inflados pelas denúncias de corrupção envolvendo o governo do PT/PMDB, são enfileirados todos impropérios e piadas machistas. Afinal, a presidente antes de tudo é uma mulher comandando uma sociedade que partilha o ódio ao feminino e à tentativa desse feminino se estabelecer como poder.

A falta de respeito e de dignidade à figura da mulher-presidente chega ao ponto de se postarem memes em que Dilma apanha no rosto ou está prestes a ser decapitada pelo Estado Islâmico. Muitas vezes, para profunda dor de quem se depara com as imagens, essas metáforas da barbárie são compartilhadas por outras mulheres, instigando à violência e passando, como tratores, sobre os princípios da Lei Maria da Penha, da Constituição e do Código Penal.

Independentemente de qualquer crime em que venha a ser julgada, Dilma Rousseff deve ser criticada pelo cargo que ocupa e não pelo fato de ter nascido mulher e se tornado a personalidade mais importante de uma sociedade de oportunidades díspares entre os sexos.

Nenhuma discordância política ou protesto pode abrir margem e/ou justificar a banalização da violência de gênero – prática patriarcal e misógina que invalida a dignidade humana

Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil

 

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