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Saúde mental: estratégias para superar uma crise sem fim à vista

Encontrar maneiras de aguardar o fim da Covid-19 é um desafio que exige paciência e criatividade, segundo especialistas

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Foto colorida de uma mulher olhando para a janela
1 de 1 Foto colorida de uma mulher olhando para a janela - Foto: Martin-dm/Getty Images

Entre o primeiro caso de coronavírus registrado no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, e a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o mundo estava vivendo uma pandemia, divulgada em 11 de março do mesmo ano, a vida como se conhecia mudou radicalmente. Distanciamento social, lockdown, álcool em gel e máscaras viraram parte da rotina, bem como os sentimentos de medo, perda e exaustão.

Para a psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), Renata Figueiredo, mais do que nunca a resiliência é nos cobrada neste momento. Ela explica que o conceito foi “emprestado” da física. “O termo se refere à capacidade de um material de retornar à sua forma original depois de ter sofrido pressão”, detalha. “Na psiquiatria, consideramos que resiliência é conseguir suportar momentos difíceis para voltar ao que era antes.”

Antes de pensar em superação, contudo, é importante viver o momento, por mais difícil que ele seja. Isso significa, na avaliação da médica, se permitir sentir cansaço e tristeza, por exemplo. Viver como se nada estivesse acontecendo é um caminho perigoso, que pode levar a mais angústia e frustração.

“Vimos muito, especialmente no início da pandemia, estímulos para aprender uma língua nova, fazer cursos e produzir muito, mas esquecemos que somos humanos e que estamos passando por um momento em que muita gente está morrendo. Temos que aceitar que estamos sofrendo”, reforça Renata Figueiredo.

Equilíbrio é tudo na vida — e a máxima também vale para o sofrimento. Se a angústia tornou-se paralisante ou está atrapalhando atividades corriqueiras como trabalhar, praticar exercícios físicos ou se alimentar corretamente, é hora de prestar atenção. “Se ficamos o dia inteiro por conta do ócio, mesmo tendo coisas para fazer, algo não está normal”, alerta Renata. O mesmo vale para atividades que antes davam prazer mas, durante a pandemia, deixaram de ter a mesma graça.

Ela sugere cuidado, também, com a empatia “imobilizante”. Precisamos nos colocar no lugar dos outros, mas não podemos nos render, evitando as responsabilidades que temos de cumprir. “Temos que resolver isso na nossa cabeça e seguir em frente”, pondera.

Criatividade como ferramenta

Após a aceitação, algumas estratégias podem ajudar a passar por momentos tensos, como a pandemia de coronavírus. Relembrar ocasiões ruins, que podem ter gerado cansaço e tristeza, e a superação delas, pode ser útil para não se perder em meio ao caos mental gerado pela Covid-19, segundo a psiquiatra Renata Figueiredo.

Encontrar pessoas, mesmo que virtualmente, é outra medida essencial para superar crises. Isso porque, segundo Luan Diego, psiquiatra especialista em terapia interpessoal, os seres humanos são gregários por natureza. Por isso, é importante continuar em contato com amigos e parentes, conversar sobre o que está se passando e perguntar como eles estão de tempos em tempos.

“A pandemia nos mostrou que a vida precisa constantemente de criatividade”, define o médico. “A própria resiliência é um remodelamento criativo. No início da pandemia, as videochamadas e as lives foram uma forma de ressignificar encontros, lidar com as emoções daquele momento para equilibrá-las.”

Olhar as situações sob uma nova ótica, sem tentar controlá-las, é indispensável para passar pelo período, de acordo com o psiquiatra. “O controle emocional é uma tentativa psíquica que gera ainda mais ansiedade. É preciso não brigar tanto com as emoções”, define Luan Diego.

A ansiedade, inclusive, faz mal à saúde. A sensação pode ser um gatilho desencadeador de outros transtornos emocionais, como depressão, além de ter efeitos no corpo. “Uma pessoa ansiosa não dorme direito, não come ou come muito e deixa de interagir, o que pode facilitar o desenvolvimento de transtornos do humor”, completa Luan.

Outra dica para potencializar a resiliência é iniciar alguma atividade relacionada a trabalhos voluntários, o que pode gerar uma forte sensação de propósito.

Rir é outra arma poderosa contra a ansiedade. Procurar algo para assistir sem a pressão de ter que aprender algo novo é um exemplo de como encontrar pequenos momentos felizes durante a pandemia.

“Sorrir produz relaxamento, sensação de bem estar e faz com que o cérebro queira perpetuar esse sentimento”, explica a psiquiatra Renata Figueiredo.

Praticar exercícios físicos, meditar e manter a alimentação saudável é uma tríade que pode fazer a diferença no enfrentamento da crise de Covid-19. Isso porque as atividades ajudam a controlar a pressão arterial, a frequência cardíaca e reduzem a produção de hormônios relacionados ao estresse, além de acumularem uma longa lista de outros benefícios.

Por fim, uma dica do que não se deve fazer: embora as redes sociais pareçam um ambiente propício para dividir experiências, expor vulnerabilidades na internet sem a mediação de um especialista pode ter o efeito contrário do esperado. Segundo o psiquiatra Luan Diego, buscar ajuda em fontes não profissionais pode trazer outros prejuízos, como a psicofobia em forma de comentários maldosos, o que pode impactar negativamente alguém que já está frágil.

“Se estou me sentindo deprimido e faço grupo com várias pessoas que sentem o mesmo, existe um risco de todas as trocas de informações servirem como combustível para a piora, caso não haja um profissional mediando aquele grupo. Não ter segurança sobre até onde aquelas mensagens podem ir também pode agravar quadros mais sensíveis”, explica Luan.

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