Nos próximos 40 dias, o Brasil atravessará o que os pesquisadores do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chamam de “janela de oportunidade”. Será um período favorável para otimizar o combate ao coronavírus, pois a maioria da população estará com a imunidade fortalecida contra a Covid-19 – proteção adquirida por meio da vacinação ou de forma natura, em razão da onda recente causada pela variante Ômicron.
As políticas públicas adotadas neste momento, aliadas ao comportamento coletivo ante a pandemia, podem levar o país ao controle da Covid ainda no primeiro semestre de 2022. “Neste momento, o Brasil reúne algumas condições favoráveis para bloquear o vírus”, afirma o pesquisador Raphael Guimarães ao Metrópoles.

Uma das estratégias de enfrentamento da pandemia de Covid-19 é a vigilância epidemiológica, com o registro e a observação sistemática de casos suspeitos ou confirmados da doença, a partir da realização de testesGetty Images

Segundo especialistas, para se ter um controle da doença e conter a disseminação do vírus, é importante testar, cada vez mais, a populaçãoAline Massuca/Metrópoles

Secretaria de Saúde diz que não faltam testes de Covid-19 no DFBreno Esaki/Agência Saúde-DF

RT PCR: considerado “padrão-ouro” pela alta sensibilidade, o teste é usado para o diagnóstico da Covid-19. Ele detecta a carga viral até o 12º dia de sintomas do paciente, quando o vírus ainda está ativo no organismo. O resultado é entregue em, aproximadamente, três diasVinícius Schmidt/Metrópoles

O teste utiliza a biologia molecular para detectar o vírus Sars-CoV-2 na secreção respiratória, por meio de uma amostra obtida por swab (cotonete)Rafaela Felicciano/Metrópoles

Teste salivar por RT-PCR: utiliza a mesma metodologia do RT-PCR de swab e conta com precisão de mais de 90% para o diagnóstico da doença ativa. O procedimento deve ser feito nos sete primeiros dias da doença em pacientes com sintomas Divulgação

PCR Lamp ou Teste de antígeno: comumente encontrado em farmácias, o exame avalia a presença do vírus ativo coletando a secreção do nariz por meio de swab. O resultado leva apenas 30 minutos para ficar pronto, por isso, ele é indicado para situações em que o diagnóstico precisa ser rápidoGetty Images

De acordo com a empresa que fornece o exame, ele possui 80% de confiança. O método empregado no teste é usado também para outras doenças infecciosas, como a H1N1RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

Teste de sorologia: revela se o paciente teve contato com o coronavírus no passado. Ele detecta a presença de anticorpos IgM, IGg ou IgA separadamente, criados pelo organismo das pessoas infectadas para combater o Sars-CoV-2, a partir de um exame de coleta de sangueShutterstock / SoonThorn Wongsaita

O exame deve ser realizado a partir do 10º dia de sintomas. A precisão do resultado é menor do que nos testes do tipo RT-PCR. Além disso, falsos negativos podem aparecer com mais frequênciaNational Cancer Institute/Divulgação

Teste rápido: o método é semelhante aos testes de controle de diabetes, com um furo no dedo. A amostra de sangue é colocada em um reagente que apresenta o resultado rapidamenteRafaela Felicciano/Metrópoles

O teste imunológico rápido detecta a presença de anticorpos e o resultado positivo sinaliza que o paciente já sofreu a infecção pelo novo coronavírus. A confiabilidade do resultado varia muito, já que o método apresenta alta taxa de falso negativoVinícius Schmidt/Metrópoles

Teste de anticorpos totais: detecta a produção do IgM e IgG no organismo, a partir de um único exame de coleta de sangue, e não faz a distinção dos valores presentes de cada anticorpo. A precisão do resultado chega a 95% iStock

Teste de anticorpo neutralizante: o procedimento é indicado para a avaliação imunológica. O exame detecta os anticorpos e vê a proporção que bloqueia a ligação do vírus com o receptor da célulasDivulgação
O especialista explica que, uma vez que um indivíduo é infectado, está temporariamente imune – já que estudos indicam uma janela entre 70 e 80 dias em que, provavelmente, não ocorre reinfecção. Com a explosão de casos relacionados à Ômicron neste início de ano, espera-se que haja um volume grande de pessoas com imunidade temporária à Covid até meados de março e início de abril.
“Se conseguirmos alavancar a vacinação, vamos reunir um conjunto tão grande de pessoas imunes que é possível pensar em bloquear a circulação do vírus, diminuindo os casos e óbitos”, explica Guimarães.
Fim da Covid
Ao longo da última semana, os governos da Dinamarca e da Suécia e o estado de Nova York, nos Estados Unidos, derrubaram as restrições adotadas nos últimos dois anos, como um sinal de que estão conseguindo controlar a pandemia. A Inglaterra se prepara para aderir a essa mesma medida em 15 dias.
Especialista em saúde pública e diretora regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) na África, Matshidiso Moeti afirmou, na quinta-feira (10/2), que o continente está saindo da fase de pandemia e caminhando para uma situação de controle do coronavírus.
Para o pesquisador da Fiocruz, o Brasil também está próximo desse momento. “O caminho da endemicidade é inevitável e o Brasil tem condições de acabar com a pandemia ainda este ano, mas não é uma via natural. Se os governos agirem da forma correta e a população colaborar, temos muito potencial para ficar em uma posição de mais controle ainda no primeiro semestre”, pontua Raphael Guimarães.
O cenário favorável, entretanto, não permite que as medidas de restrição possam ser flexibilizadas, nem autoriza eventos de aglomeração, como o Carnaval. “É hora de intensificar as medidas de restrição para que o vírus não consiga proliferar. Se a gente colocar o bloco na rua, literalmente, vai acontecer o oposto: o vírus vai ganhar novas oportunidades para circular”, explica Guimarães.
O pesquisador elenca ainda as ações de vigilância epidemiológica como essenciais para o momento. Nesse sentido, é primordial manter a testagem e realizar o isolamento necessário para casos confirmados, de maneira a interromper a transmissão.
Pandemias diferentes
Outro ponto a ser enfrentado consiste nas diferenças regionais em relação à campanha de imunização. O boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado na quarta-feira (9/2), destaca o estágio da pandemia em diferentes partes do Brasil. Há uma disparidade muito grande entre as regiões, em relação ao acesso a vacinas, diagnósticos e tratamentos.
Problemas na logística de distribuição e armazenamento das doses, por exemplo, fazem com que estados na Região Norte, como o Amapá, estejam muito atrás nas campanhas de vacinação, quando comparados às unidades federativas no Sudeste do país.
“Hoje, o Amapá tem a cobertura vacinal com dose de reforço seis vezes menor do que São Paulo. A gente não pode abandonar os bolsões de mais pobreza e vulnerabilidade. Se, nesse momento, conseguirmos investir nisso, a gente caminha para um cenário muito otimista. Se continuarmos priorizando a política centralizada, olhando apenas para o Sul e Sudeste, dificilmente conseguiremos ter isso sob controle no primeiro semestre”, pondera.