Caso raro: homem é curado do HIV após transplante de medula óssea
Paciente dos Estados Unidos é a quarta pessoa no mundo a ser curada de HIV. Registro da cura veio após transplante para tratar leucemia
atualizado
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Um paciente norte-americano que vivia com HIV foi surpreendido ao receber a notícia que foi considerado curado depois de quase 30 anos convivendo com o vírus. Ele passou por um transplante de medula óssea para o tratamento de leucemia e, segundo médicos, o doador da medula transplantada era naturalmente resistente ao HIV. O Paciente Cidade da Esperança, como ficou conhecido, foi a quarta pessoa no mundo a ser considerada curada, e é a pessoa mais velha a se recuperar completamente da infecção.
O homem, que não quis ser identificado, tem 66 anos, e relatou à BBC que muitos de seus amigos morreram com o vírus no passado, antes de existirem medicamentos que permitissem melhor qualidade de vida a pessoas com HIV. Hoje, com os remédios, quem tem o vírus pode viver de forma praticamente normal. “Nunca imaginei que eu viveria para ver o dia em que não tivesse mais HIV”, disse o paciente, em comunicado.
Ele recebeu o transplante de medula óssea para substituir as células doentes por células sadias como parte do tratamento para leucemia. No entanto, o doador é resistente ao HIV, apresentando mutações na proteína CCR5, que impede a entrada do vírus nos glóbulos brancos do corpo humano. É justamente a presença de HIV nessas células que causa as complicações aos pacientes.
O Paciente Cidade da Esperança foi monitorado por 17 meses após o transplante e, desde o procedimento, os níveis de HIV foram abaixando cada vez mais em seu organismo. “Ficamos empolgados ao comunicar a ele que o HIV está em remissão, e que ele não precisa mais da terapia antirretroviral que tomava há mais de 30 anos”, afirmou a médica Jana Dickter, especialista em doenças infecciosas e responsável pelo caso.

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida Getty Images

A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids Anna Shvets/Pexels

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico Hugo Barreto/Metrópoles

O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas iStock

O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais iStock

Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Hugo Barreto/Metrópoles

A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos Arthur Menescal/Especial Metrópoles

O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus Arthur Menescal/Especial Metrópoles

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus spukkato/iStock

O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses iStock

O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais Joshua Coleman/Unsplash

Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV iStock

É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo Keith Brofsky/Getty Images
Apesar do sucesso, ela explica que o procedimento é complexo, com efeitos colaterais potencialmente significativos. “Então, não é uma opção adequada para a maioria das pessoas que vivem com HIV”, afirmou, à BBC. No entanto, pesquisadores buscam maneiras de atuar sobre a proteína CCR5 a partir da terapia genética.
O caso foi divulgado na conferência Aids 2022, em Montreal, no Canadá. “A cura continua sendo o Santo Graal da pesquisa do HIV“, afirmou a presidente da Sociedade Internacional da Aids, Sharon Lewin, em comentário sobre o anúncio. Ela diz estar esperançosa com o aumento de casos de cura da Aids, afirmando que eles são “esperança contínua para quem vive com HIV e servem de inspiração para a comunidade científica”.
Em 2011, Timothy Ray Brown, conhecido como Paciente de Berlim, foi considerado a primeira pessoa curada do HIV. Estima-se que atualmente existam 38 milhões de pessoas vivendo com o vírus em todo o mundo.
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