“A doença não domina minha vida”, diz pedagoga com câncer em metástase
Maria de Lourdes Silva, de 59 anos, conta que o diagnóstico, recebido no fim de 2020, não lhe tirou a alegria de viver
atualizado
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Mesmo com o avanço no tratamento do câncer de mama, com novas terapias mais eficazes para lidar com os tumores, em alguns casos a doença que parecia controlada reaparece em outros locais do corpo.
É a chamada metástase, quando as células tumorais se dividem de maneira desordenada, circulam pela corrente sanguínea e costumam se alojar no fígado, nos pulmões, ossos ou linfonodos. Apesar de o diagnóstico ser assustador, é possível viver com qualidade de vida se a enfermidade for devidamente tratada.
É o caso de Maria de Lourdes Silva, 59 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de mama em 2017, três anos depois de perder a irmã para um câncer de intestino. “Me senti na fila para morrer”, lembra a pedagoga. Tratada no hospital Sírio-Libanês, fez o “pacote completo”: cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Ela diz que quando o tumor foi encontrado “já não era um menininho, era um rapaz” de grau 2. Maria de Lourdes é uma pessoa positiva e tem muita fé nas intenções que emana para o universo, bem como na devolução delas. “Em nenhum momento, parei de trabalhar. Faço atividade física todos os dias. Fazia quimio na sexta, e sábado já estava correndo no parque com um monte de gente atrás de mim, todos preocupados, achando que eu não pudesse dar conta”, relata.
O tratamento foi um sucesso, e a pedagoga passou a tomar hormonioterapia a fim de evitar que o câncer voltasse, além de seguir com os exames de rotina. Três anos depois, em dezembro de 2020, foi percebido o aumento de um dos marcadores tumorais. A notícia que nem Maria de Lourdes nem a equipe médica esperavam veio: o começo de um processo de metástase em um linfonodo e no osso sacro, que fica na base da coluna vertebral.
“O diagnóstico de metástase é a consolidação de que você tem limite. Mas nunca parei minha vida pela doença. Câncer é uma coisa muito séria, mas nada impede que eu seja atropelada atravessando a rua. O tempo da gente não pode ser definido pelo diagnóstico de uma doença. Enquanto houver tratamento, a gente busca, as coisas estão cada dia mais evoluídas”, destaca a pedagoga.
Hoje, ela faz tratamento com terapia alvo e, no último exame, o tumor da axila já tinha desaparecido e o do sacro estava menos denso. A expectativa é que o quadro permaneça como está, mas a metástase significa que o câncer está na corrente sanguínea e pode reaparecer a qualquer momento em outro lugar.
“A gente vai indo, à disposição do processo. Não tenho poder algum sobre isso. Eu me sinto supersaudável, disposta, acordo todos os dias às 5h30 da manhã para malhar, vivo minha vida independentemente da metástase e do câncer. Não posso dizer que é um detalhe, mas a doença não domina minha vida de forma alguma”, assinala.
Tratamento não é guerra
Maria de Lourdes explica que não gosta de pensar no tratamento como uma batalha. Ela lembra que, toda vez que tomava banho antes da quimioterapia, conversava com o tumor. “Falava que a gente ia ali tomar um remédio, mas que não era para entender aquilo como uma guerra”, conta.
A pedagoga acredita que lidar com o tratamento como se fosse uma luta não é saudável e que isso pode colocar um rótulo no paciente, permitindo que ele entre em um buraco de depressão e ache que não há salvação.
“Não estou lutando, estou vivenciando o processo. Se no final não deu, não é porque fui mais fraca, não lutei o suficiente. É o final de um processo, tudo tem início, meio e fim, e não significa que sempre alguém ganha ou perde”, conclui.