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Venda de “biqueira” e fuga da cadeia: quem é tesoureiro morto pelo PCC

“Luiz Conta Dinheiro” foi fuzilado quando chegava de carro em casa, em Atibaia, no dia em que foi beneficiado com a “saidinha” temporária

atualizado

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Reprodução/MPSP
Foto colorida de homem pardo, sem barba, cabelo curto e camisa polo branca - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de homem pardo, sem barba, cabelo curto e camisa polo branca - Metrópoles - Foto: Reprodução/MPSP

São Paulo – A execução, na terça-feira (12/3), de Luiz dos Santos Rocha, conhecido como “Luiz Conta Dinheiro” e apontado como tesoureiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi mais um duro golpe contra a facção e trouxe à luz a biografia de um integrante que exercia importante papel na organização criminosa.

“Luiz Conta Dinheiro”, também conhecido como “Morais”, foi fuzilado quando chegava em sua casa, na área rural de Atibaia, logo após ter sido beneficiado com a “saidinha” temporária. Ele cumpria pena desde 2019, quando a Polícia Militar apreendeu com ele armas, drogas e celulares — os aparelhos foram, inclusive, determinantes para estabelecer sua importância na administração das finanças do PCC.

Câmeras de monitoramento registraram a execução de Luiz (assista abaixo).

 

Além de Luiz, a esposa dele, Paloma Herica Alves de Oliveira Rocha, também foi presa no flagrante de 2019. Foi no celular dela, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtida pelo Metrópoles, que investigadores identificaram a negociação de uma “biqueira” por R$ 400 mil. O ponto de venda de drogas ficava em São Bernardo do Campo, no ABC.

“Biqueiras” e rifas

Na residência do casal também foram apreendidas anotações (veja galeria abaixo) com os valores da venda de drogas em diferentes pontos. A contabilidade indicava os valores a serem recebidos das “biqueiras”, monitoradas por Luiz, em toda a capital paulista, Grande São Paulo e interior. Foi também encontrada a relação de imóveis e veículos, avaliados entre R$ 40 mil e R$ 250 mil, que seriam rifados pela facção.

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Mensagens trocadas entre o tesoureiro e outros criminosos, em um dos celulares apreendidos, ainda indicam que ele negociava a venda e a locação das bocas de fumo.

De acordo com investigações da Polícia Civil, mesmo que um criminoso seja dono de uma “biqueira”, ele precisa pagar o arrendamento do ponto, mensalmente, ao PCC. O traficante não precisa ser membro da facção, mas a prestação de contas é obrigatória. A apreensão das anotações contábeis de Luiz revelou a importância de seu papel na organização criminosa.

“Em qualquer lugar do estado de São Paulo, para se vender droga, precisa ser do PCC ou ter a venda permitida pela facção”, destacou o promotor Lincoln Gakiya, em entrevista ao Metrópoles.

Fuga da prisão

Aos 54 anos, o tesoureiro passou grande parte de sua vida atrás das grades, conforme registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Na folha de antecedentes do criminoso consta que ele começou a cumprir pena em 17 de maio de 1991, na Cadeia Pública de Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana.

Quase dois anos depois, ele foi transferido para o Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Bauru, interior paulista, de onde fugiu em 28 de abril de 1993. Luiz foi recapturado pouco mais de um ano depois e levado para a Cadeia Pública de Itaquaquecetuba.

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Mais tarde, o criminoso foi transferido novamente para a Cadeia Pública de Ferraz de Vasconcelos, de onde conseguiu fugir em 9 de maio de 1996. Sua recaptura ocorreu em 5 de junho de 1997 — na época, ele ficou recolhido na carceragem do 99º DP (Campo Grande) da capital paulista até ser transferido para a Penitenciária de Marília, no interior, em junho de 1998.

Luiz ficou atrás das grandes por quase 24 anos, concluindo o cumprimento de sua pena, originalmente de 21 anos, em 19 de novembro de 2015. Segundo a polícia, o tesoureiro foi batizado no PCC dentro do sistema carcerário, onde foi indiciado por promover rebeliões — razão pela qual teve sua pena aumentada, segundo apurou o Metrópoles.

A folha corrida de Luiz inclui passagens por roubo, receptação, falsidade ideológica, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas.

“Jurado de morte”

Antes de ter sido assassinado, “Luiz Conta Dinheiro” tinha sido alvo de outro atentado, em janeiro deste ano, também quando estava em uma saída temporária do presídio. Ele foi ferido de raspão. O tesoureiro teria afirmado, após o atentado, que estava jurado de morte por ter “rachado” com membros da facção da capital paulista.

A suspeita é de que a morte do tesoureiro não seja um acerto de contas isolado, mas mais um capítulo do racha histórico na cúpula do PCC. A execução de Luiz, segundo a polícia, se soma à de pelo menos outros dois integrantes da facção ocorridas recentemente.

Os três assassinatos estariam na conta da guerra que opõe o líder máximo da organização criminosa, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, a outros três líderes: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. Todos estão presos na Penitenciária Federal de Brasília.

No mesmo dia em que “Luiz Conta Dinheiro” foi fuzilado em Atibaia, horas mais tarde, Cristiano Lopes da Costa, o Meia Folha, foi morto a tiros em uma lanchonete no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujálitoral paulista.

Meia Folha era considerado um dos líderes do PCC na região e, segundo testemunhas, foi baleado por um pistoleiro que passou de moto pelo local atirando.

Segundo moradores, um “toque de recolher” foi imposto na região após a morte de Meia Folha. Comércios fecharam mais cedo e, em Santos, pelo menos dois ônibus foram incendiados, supostamente por causa da morte do criminoso.

Amigo de Marcola

A primeira morte ocorrida após o racha na cúpula do PCC a se tornar pública foi a do traficante Donizete Apolinário da Silva, de 55 anos, aliado de Marcola. Ele foi morto a tiros quando caminhava com a esposa, de 29, e com a enteada, de 10, em Mauá, na Grande São Paulo.

Donizete era integrante da chamada “Sintonia Final” – setor correspondente à cúpula da facção criminosa composta por sentenciados considerados fundadores da organização – e mantinha estrita lealdade ao chefão do PCC. Ele já havia sido denunciado pelo MPSP, em 2013, junto com Marcola e outros 174 integrantes da facção.

O que motivou racha

O principal motivo do racha histórico na cúpula do PCC seria um diálogo gravado entre Marcola e policiais penais federais, na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o líder máximo da facção chegou a afirmar que Roberto Soriano, o Tiriça, número dois na hierarquia da facção, era um “psicopata”.

A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo. A fala de Marcola teria sido interpretada por Tiriça como uma espécie de delação.
O então número 2 do PCC teria se unido a Vida Loka e Andinho, também presos em Brasília, para pedir, por meio do chamado “salve”, a morte e a expulsão de Marcola do PCC. Em fevereiro, contudo, a cúpula da facção emitiu comunicado que decretou a expulsão de Tiriça, Vida Loka e Andinho da organização criminosa, por “traição”.

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