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Com líder foragido, principal facção rival do PCC resiste em SP

Rival do PCC, Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC) surgiu em 1999 e chegou a disputar território em presídios paulistas

atualizado

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Luiz Silveira/Agência CNJ
Presos
1 de 1 Presos - Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ

São Paulo – Armados com facas improvisadas, três presidiários entraram no 1º Pavilhão da Penitenciária do Carandiru, na zona norte de São Paulo, com a missão de matar Edson de Souza e Silva, por causa de divergências dele com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Era início de tarde do dia 1º de dezembro de 1998, uma terça-feira, quando Silva foi esfaqueado ao menos 22 vezes. Ele resistiu ao ataque e, no ano seguinte, decidiu criar facção criminosa rival, o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC), que também passou a atuar nos presídios paulistas.

Conhecido no sistema carcerário como Edinho, o fundador do CRBC está foragido desde 23 de novembro de 2021, quando não retornou de uma “saidinha” temporária do presídio, benefício que recebeu por estar cumprindo pena no regime semiaberto. Atualmente, ele responde a quatro processos no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Diferentemente do PCC, que expandiu seu poderio após firmar alianças com facções de outros estados, depois rompidas, o CRBC concentrou suas atividades principalmente em Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo. Foi lá que o grupo criminoso redigiu seu estatuto, dentro da Penitenciária 1 “José Parada Neto.”

Seu isolamento, associado à expansão do PCC, a maior facção do país, fez com que o CRBC perdesse, paulatinamente, território e influência. Ainda assim, o principal rival da organização comandada por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, resiste em São Paulo e mantém confrontos dentro e fora dos presídios.

Ameaça, espancamento e tentativa de homicídio

O Metrópoles localizou três ocorrências registradas no ano passado em que o nome da facção rival do PCC é mencionada. Em uma delas, no dia 7 de abril, um agente penitenciário afirmou em depoimento à Polícia Civil ter sido ameaçado de morte por um preso do regime semiaberto que se dizia membro do CRBC, após o presidiário ter desistido de um trabalho para o qual havia sido designado. O fato ocorreu na zona leste de Sâo Paulo.

Outro caso ocorreu três meses antes, no Centro de Detenção Provisória de Suzano, na Grande São Paulo. Na manhã de 5 de janeiro de 2022, presidiários começarem a bater no ferrolho do portão que dá acesso ao pavilhão 5 para chamar a atenção dos carcereiros.

Eles queriam avisar que Luciano Júnior da Silva Neves estava ferido, após ser espancado por cinco detentos que se declararam membros do PCC. Assim que a vítima foi levada à enfermaria da unidade, constatou-se que as agressões ocorreram porque ela pertencia ao CRBC, como foi registrado pelo 2º DP de Suzano. Os agressores foram indiciados por lesão corporal.

Em Sorocaba, no interior paulista, policiais militares que perseguiram dois suspeitos em uma moto conseguiram interceptar Antônio Carlos Era, de 38 anos, depois que o garupa pulou do veículo em movimento e conseguiu se embrenhar em um matagal. Com ele foi encontrado um revólver calibre 44, com cinco munições.

Segundo o registro da ocorrência, o suspeito afirmou aos PMs que portava a arma para se defender, pois estaria sendo ameaçado em uma “guerra de facções”, e admitiu que estava “indo matar um indivíduo da facção rival CRBC”. Ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo.

Ao lado de policiais armados com fuzis, Marcola, de camisa azul usa algemas durante escolta
Chefe máximo do PCC, Marcola é escoltado para fazer exame em hospital do DF em janeiro de 2020

A origem do “Comando Revolucionário”

Escrito em 1999, o estatuto do CRBC só foi descoberto em setembro de 2002, após ser apreendido no Centro de Detenção Provisória 1 do Belém, na zona leste paulistana, durante uma blitz de rotina. Nele constam 21 artigos que estabelecem regras para os membros da facção.

A rivalidade com a quadrilha de Marcola fica explícita no artigo 7º, no qual consta que onde quer que o CRBC esteja “não poderão existir integrantes do PCC”.

Os rivais são apontados como gananciosos, covardes, despreparados, com “incapacidade mental” e que estariam “colaborando para a vergonhosa caotização [sic] do aparato penal do Estado de São Paulo.” O estatuto também proíbe que o CRBC aceite “ex-PCCs” e simpatizantes da facção rival, descritos como “soldadinhos do inimigo.”

Uma mostra da rápida ascensão do CRBC ocorreu em novembro de 2000, quando a facção de Edinho teria financiado a fuga de 17 presos da penitenciária de Guarulhos. O alerta foi dado pelo ex-capitão da PM e deputado estadual Conte Lopes, atualmente filiado ao PL.

“O grupo nascido na penitenciária de Guarulhos tem como principal rival filiados do PCC, chamados de vermes e com os quais disputa o controle dos presídios. O CRBC, cujo líder é Edson de Souza e Silva, teria alguns milhões de reais em caixa para financiar as fugas como o previsto no estatuto da facção”, discursou Conte Lopes, em uma sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) naquele mês.

Alerta sobre megarrebelião rival

Em fevereiro do ano seguinte, o PCC protagonizou a maior rebelião da história do sistema carcerário nacional. Foram 94 horas durante as quais os presos tomaram conta de 29 unidades. O motim resultou na morte de 14 detentos e em 19 agentes penitenciários feridos.

A ação do PCC teria sido advertida com antecedência às autoridades por Edinho, o líder do CRBC, segundo relatou tempos depois o desembargador aposentado Renato Laércio Talli, que já havia sido corregedor da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo.

Durante depoimento à CPI do Sistema Prisional da Alesp, Talli afirmou ter recebido uma carta de Edinho relatando detalhes sobre o plano arquitetado pelos rivais do PCC, por meio de celulares, “para parar no mesmo dia”, com o apoio de líderes de facções, seus familiares e advogados.

Mãos algemadas atrás das costas e camisa azul

O declínio diante da hegemonia do PCC

Local de fundação do CRBC, o presídio Parada Neto, em Guarulhos, já deixou de ser dominado pela facção de Edinho, segundo relato de um agente penitenciário da unidade que conversou sob reserva com a reportagem. Hoje, a penitenciária é ocupada majoritariamente por presos acusados por crimes sexuais, e ainda conta uma minoria de integrantes do Comando Revolucionário.

Nos últimos anos, os membros do CRBC presos acabaram sendo distribuídos em outras unidades da Grande São Paulo e do interior, sem provocar uma concentração que possa fortalecer a facção. Até por isso, eles demonstram temor pelos rivais do PCC quando são detidos nas ruas. “Eles pedem sempre para serem encaminhados para unidades não dominadas pelo PCC”, conta um delegado da região metropolitana que pediu anonimato.

Por conta da hegemonia do PCC, o cenário atual é menos conflituoso do que foi em um passado não muito distante. Em entrevista, o delegado Wagner Terribilli, titular do Setor de Homicídios de Guarulhos, chegou a associar a alta do número de homicídios na Grande São Paulo, registrada entre 2016 e 2017, a uma disputa por território entre as facções PCC e CRBC.

O Metrópoles apurou que, atualmente, o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade conta com maior número de integrantes na Penitenciária 1 de Guarulhos, nos Centros de Detenção Provisória (CDPs) 2, 3 e 4 de Pinheiros, 1 de Belém, e na Penitenciária de Tupi Paulista, além de seu fundador, Edinho, que está foragido da Justiça há pouco mais de um ano.

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