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PCC turbina lucro com máfia italiana e fatura até em criptomoeda

Facção criminosa PCC é o principal fornecedor de cocaína para Europa e tem como maior cliente a máfia italiana, segundo investigação do MPSP

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Michael Melo/Metrópoles
PCC
1 de 1 PCC - Foto: Michael Melo/Metrópoles

São Paulo — O Primeiro Comando da Capital (PCC) mantém há tempos relações comerciais com a máfia italiana que alçaram a facção paulista ao posto de principal fornecedor de cocaína da Europa. Nos últimos dois anos e meio, esse tráfico internacional prosperou, resultando em um lucro bilionário para a organização criminosa que nasceu há quase 30 anos em São Paulo.

Investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) mostram que a ‘Ndrangheta, máfia calabresa considerada atualmente a organização criminosa mais poderosa da Europa, é o principal cliente do PCC. Por causa da grande demanda por drogas do outro lado do Atlântico, a facção paulista já recruta integrantes naquele continente e também modernizou a forma de blindar as suas receitas da ação policial.

“Eles [PCC] estão realmente se expandindo em vários sentidos pela Europa. O combate à máfia italiana ocorre em todos os países europeus e os olhos se voltaram ao PCC, por ele ser o principal fornecedor de cocaína para a Europa”, afirma ao Metrópoles o promotor de Justiça Leonardo Romanelli, coordenador do Núcleo de Inteligência e Gestão de Conhecimento do MPSP.

A mesma mobilização das forças de segurança e justiça europeias para combater a máfia calabresa — mais de 100 integrantes da ‘Ndrangheta foram presos em maio na Europa — ocorre no Brasil com as forças daqui. No mês passado, por exemplo, 14 lideranças do PCC foram presas durante uma megaoperação contra o crime organizado, deflagrada em 13 estados brasileiros.

Negócio bilionário

Uma estimativa conservadora da Promotoria paulista aponta que o PCC lucra, anualmente, R$ 1 bilhão. Essa cifra foi turbinada nos últimos anos pelo crescimento dos negócios com a máfia italiana. Os lucros aumentaram por volta de 2020, ao ponto de a facção paulista extinguir a cobrança de mensalidade de seus integrantes, chamada entre eles de “cebola.”

O rentável tráfico internacional também obrigou o PCC a aprimorar seus métodos de transações financeiras. Segundo Romanelli, para não deixar rastros dos negócios ilícitos e despistar a evasão de divisas, a facção paulista tem feito operações de dólar-cabo — transação entre contas no exterior com pagamento equivalente em dinheiro feito por doleiro no Brasil — e até o uso de criptomoedas.

Esse engenharia financeira é um dos principais desafios da investigação. O MPSP já identificou que vários membros da ‘Ndrangheta residem no Brasil — alguns foram presos nos últimos anos —, assim como integrantes do PCC estão na Europa para ajudar no narcotráfico. Romanelli esteve recentemente na Itália para trocar informações com autoridades locais sobre as duas organizações criminosas.

Inspirado na máfia italiana, o PCC também tem feito a lavagem de dinheiro do tráfico investindo em imóveis, fazendas, postos de gasolina, hotéis e restaurantes.

Diretor da Polícia Judiciária de Portugal, Artur Vaz

Chegada por Portugal

Uma das principais portas de entrada da droga vendida pelo PCC na Europa é Portugal. Como revelado pelo Metrópoles, a polícia portuguesa apreendeu o equivalente a R$ 628 milhões em cocaína que traficantes brasileiros tentaram enviar ao país europeu, somente no ano passado.

Dados oficiais da polícia portuguesa mostram que foram apreendidos, tanto em bagagens enviadas nos aviões como em containers transportados por via marítima, 3.772 quilos de cocaína que saíram do Brasil, a maior parte no esquema de tráfico internacional do PCC.

A facção criminosa paulista está na mira das forças de segurança portuguesas, que já identificaram um esquema de aliciamento de funcionários nos aeroportos locais para facilitar a entrada da droga, a exemplo do que ocorre no Brasil para os despachos ilícitos.

Drogas no aeroporto

Como o Metrópoles mostrou, há pelo menos oito anos o PCC opera um esquema de envio de drogas para a Europa em bagagens despachadas no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A facção paga o equivalente a um ano de salário para funcionários da área restrita trocarem malas de passageiros pelas bagagens com cocaína, driblando a fiscalização.

Quando as bagagens com drogas chegam até Portugal, os funcionários corrompidos já sabem quais malas devem procurar. Para isso, recebem fotos das bagagens, enviadas por mensagens de celular. Eles procuram se antecipar aos profissionais que não foram aliciados, de acordo com a polícia europeia, retirando as malas das aeronaves e levando-as para “um local seguro”, longe da fiscalização, de onde saem do aeroporto.

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