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Heróis do Joelma: bombeiro de folga foi o 1º a chegar no telhado

Augusto Carlos Cassaniga, hoje com 83 anos, foi um dos bombeiros que trabalharam no resgate das vítimas do incêndio que completa 50 anos

atualizado

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William Cardoso/Metrópoles
Imagem colorida mostra o capitão reformado da PM Augusto Carlos Cassaniga, um idoso calvo com cabelos brancos ao redor da cabeça, vestido com um terno preto e uma camisa azul recebendo homenagem pelo trabalho no combate ao incêndio no Edifício Joelma, em 1º de fevereiro de 1974 - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra o capitão reformado da PM Augusto Carlos Cassaniga, um idoso calvo com cabelos brancos ao redor da cabeça, vestido com um terno preto e uma camisa azul recebendo homenagem pelo trabalho no combate ao incêndio no Edifício Joelma, em 1º de fevereiro de 1974 - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo – O bombeiro Augusto Carlos Cassaniga, atualmente com 83 anos, estava de folga no dia 1º de fevereiro de 1974. Mas os bombeiros receberam um chamado para combater um incêndio de grandes proporções e, com a notícia, ele pediu autorização para se apresentar e entrou em uma viatura em direção ao Edifício Joelma, no centro de São Paulo.

Cassaniga, capitão aposentado da Polícia Militar, morava no quartel do 1º Batalhão Tobias de Aguiar, na avenida Tiradentes, e trabalhava no Comando de Operações Especiais da PM, o COE.

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No local, ele conta que o comandante da operação pediu um voluntário entre os bombeiros para subir em um helicóptero e saltar em cima do prédio para socorrer as vítimas que estavam no telhado do Joelma.

“Eu me apresentei e embarquei no helicóptero. Em cima do Joelma, saltei de uma altura de 2 ou 3 metros, saltei no telhado onde estavam as vítimas. Bati com a perna na laje, fui ferido, mas apertei bem o coturno e continuei fazendo o que podia lá em cima. Aquele pessoal que chegou ao telhado, corria de um lado para o outro por causa das chamas que vinham e saltavam lá de cima”, conta.

Segundo Cassaniga, ele usou da psicologia para acalmar as pessoas no local da tragédia: “Com a minha chegada, ninguém mais saltou lá de cima. Consegui fazer com que eles ficassem no centro do telhado e, assim, as chamas não alcançavam nem de um lado nem de outro”.

O capitão aposentado lembra que as solas dos sapatos derretiam no concreto com o calor do fogo. Entre a laje e o telhado, ele viu outro grupo de pessoas e foi tirar elas do local, as arrastando para o telhado. Uma cena daquele momento não sai da sua cabeça.

“Uma moça que estava deitada ali debaixo, eu peguei essa moça, com dificuldade, carreguei, coloquei em cima do telhado. Ela mexia os lábios e eu interpretei que ela dizia ‘não me deixe morrer’. Fiz de tudo, fiz a massagem, fiz a respiração boca a boca, ela soltou um líquido quente e morreu nos meus braços. Isso aí, eu nunca mais esqueci essa passagem”.

Cassaniga foi um dos 25 bombeiros que ficaram feridos na tragédia. Após cerca de quatro horas trabalhando no telhado, desmaiou e só acordou no hospital. Ele tem duas condecorações por bravura: pelo trabalho no combate ao fogo no Edíficio Joelma e  também no Andraus, que passou por um incêndio em 24 de fevereiro de 1972.

O incêndio no Edifício Joelma

O incêndio no Edifício Joelma, no centro de São Paulo, completa 50 anos nesta quinta-feira (1°/12). A tragédia que abalou o país deixou 187 mortos e mais de 300 feridos. Dos mortos, 13 nunca foram identificados.

Cerca de 800 pessoas estavam no prédio, localizado no Vale do Anhangabaú, na manhã daquele 1° de fevereiro de 1974, uma sexta-feira. O fogo começou, às 8h45, após o curto-circuito no ar-condicionado do escritório de um banco no 12º andar e se alastrou por móveis de madeira, carpetes e divisórias.

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Foram mais de três horas de incêndio, que destruiu 14 pavimentos. Segundo os relatos, os botijões de gás nas copas das empresas explodiram e lançaram blocos de paredes.

Dezenas de pessoas correram desesperadamente para o topo do prédio, mas os helicópteros que tentavam fazer o resgate não conseguiam pousar, porque não havia heliponto ou qualquer espaço na cobertura.

Mais de 60 vítimas que fugiram para o terraço morreram carbonizadas. Outras pessoas caíram após ficarem penduradas ou se atiraram do prédio — cena que ficou marcada na memória de quem acompanhou a tragédia.

“As 13 Almas”

Outra marca dessa tragédia foram os 13 corpos encontrados dentro do elevador do prédio. Os restos mortais estavam tão danificados e misturados que não puderam ser identificados.

Eles foram enterrados no Cemitério São Pedro, na zona leste de São Paulo. Os corpos ficaram conhecidos como “As 13 Almas” e ganharam uma placa em homenagem.

Os túmulos das “13 Almas” viraram local de peregrinação e espaço de manifestações de fé por parte dos visitantes do cemitério.

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