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Escravas virtuais: MPSP cria canal para vítimas denunciarem abusos

Ponto de partida para abusos é a plataforma Discord, usada para troca de mensagens e reuniões em vídeo, bastante difundida entre jovens

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São Paulo – O Ministério Público (MPSP) disponibilizou o e-mail nai.intolerancia@mpsp.mp.br para que as vítimas de atos ilícitos de intolerância, abusos e misoginia cometidos por meio virtual e eletrônico possam denunciar crimes e serem acolhidas e ouvidas.

O canal foi disponibilizado pela força-tarefa criada pela Procuradoria-Geral de Justiça, em maio deste ano, para investigar a existência de provedores de aplicação, redes sociais de diferentes “comunidades”, como a Discord, e jogos eletrônicos on-line, nos quais os usuários exibem, sem qualquer controle, conteúdos ilícitos.

Por meio de bate-papos, esses usuários seduzem meninas jovens e, após ganhar a confiança delas, pedem vídeos e fotos íntimas. Depois, usam as imagens para fazer ameaças e praticar torturas. As vítimas, chamadas de “escravas virtuais”, sofrem abusos físicos, sexuais e psicológicos.

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Discurso de ódio

Segundo Maria Fernanda Balsalobre Pinto, do Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gegradi), que se trata de atos criminosos e não apenas desafios praticados por crianças e adolescentes.

“A maioria desses delitos é praticada por adultos que se aproveitam da vulnerabilidade da plataforma em relação a crianças e adolescentes para viabilizar e disseminar atrocidades”, destaca.

O promotor Danilo Pugliesi, do Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp), afirma que, embora crimes individuais e episódios isolados ocorram na internet e devam ser combatidos, no caso específico da plataforma Discord há um discurso estruturado de ódio e práticas contínuas de desumanização.

O Metrópoles mostrou, em maio, como agem os grupos no Discord.

Prisão

Nessa segunda (26/6), Carlos Nascimento, conhecido como DPE, foi preso após se apresentar ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), em São Paulo. Ele é acusado de ter estuprado duas adolescentes, de 13 e 16 anos, e era considerado foragido da Justiça.

DPE é apontado como o quarto integrante de um grupo de jovens que usava o aplicativo  Discord para atrair meninas e, depois de ganhar sua confiança, usar seus vídeos e fotos nuas para fazer ameaças e praticar torturas. As vítimas, chamadas de “escravas virtuais”, sofriam abusos físicos, sexuais e psicológicos. Outros três rapazes já estão detidos.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), DPE se apresentou, junto com seu advogado, na sede do Deic, na zona norte da capital. Uma das vítimas de estupro é uma garota de 13 anos que disse ter saído de Santa Catarina para morar com o acusado em São Paulo, onde teria sofrido abusos sexuais.

A Polícia Civil acredita que DPE e os demais presos – Vitor Hugo Souza Rocha, Gabriel Barreto Vilares e William Maza dos Santos – se conheciam e faziam parte da mesma rede de tortura contra adolescentes.

Ponto de partida

O ponto de partida para os abusos era a plataforma Discord, usada para troca de mensagens e reuniões em vídeo, inclusive no meio corporativo, e bastante difundida entre jovens que jogam games on-line.

Ao conhecerem meninas no aplicativo, os integrantes da quadrilha ganhavam sua confiança, chegando a estabelecer um “namoro virtual”, a fim de conseguir vídeos e nudes. Com esse material em mãos, passavam a ameaçá-las de divulgar as imagens.

Para evitar que suas imagens íntimas fossem divulgadas, as adolescentes se sujeitavam a situações extremas de crueldade e sadismo, registradas pelos agressores nas salas do Discord. Segundo a polícia, há registro de automutilações e humilhações de toda espécie. As cenas eram compartilhadas em tempo real por dezenas de jovens em salas da plataforma.

Em nota enviada ao Metrópoles em maio, o Discord disse tratar a questão das torturas ocorridas nas salas virtuais do aplicativo como ações de “fora da plataforma”. Segundo a empresa, esses comportamentos “podem, razoavelmente, criar um risco de segurança — ou até mesmo danos imediatos e graves” para seus usuários.

O Discord informou, ainda, que uma equipe de segurança está capacitada para investigar contas suspeitas, “incluindo a revisão das atividades e postagens do usuário” que estariam pautadas nos comportamentos “fora da plataforma.”

O Metrópoles não conseguiu localizar o advogado de DPE. O espaço segue aberto para manifestações.

Orientação aos pais

A Delegacia de Combate à Pedofilia orienta para que os pais procurem a polícia quando perceberem mudanças de comportamento nos filhos. O uso de roupas compridas, mesmo em dias quentes, pode ser um sinal de que os jovens estão se autoflagelando, por exemplo, e tentando esconder os machucados.

É recomendado também que os responsáveis monitorem onde e com quem os filhos se relacionam nas redes sociais. “Os pais precisam agir com carinho, nunca retaliando os filhos e acionar a polícia imediatamente”, recomenda o investigador chefe Alexandre Scaramella.

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