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Renato, um soldado no quartel das almas de bem

Nesta sexta-feira (5/2), quando boa parte dos brasilienses tirava do armário suas fantasias, alguém em apuros precisou da ajuda de Renato. Um dia, há 13 anos, ele jurou que, quando isso ocorresse, estaria pronto a servir. Foi o que fez. Poderia pensar duas vezes antes de se arriscar. Renato tinha motivos. Era casado havia dez anos. […]

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Carlos Carone/Metrópoles
Carlos Carone/Metrópoles
1 de 1 Carlos Carone/Metrópoles - Foto: Carlos Carone/Metrópoles

Nesta sexta-feira (5/2), quando boa parte dos brasilienses tirava do armário suas fantasias, alguém em apuros precisou da ajuda de Renato. Um dia, há 13 anos, ele jurou que, quando isso ocorresse, estaria pronto a servir. Foi o que fez. Poderia pensar duas vezes antes de se arriscar. Renato tinha motivos. Era casado havia dez anos. Pai de um garotinho de oito, Wisley. Seria pai mais uma vez. Sua mulher, Patrícia, está grávida de dois meses.

Mas, na tarde chuvosa e quase preguiçosa desta véspera de carnaval, um chamado via rádio da polícia colocou o cabo Renato em alerta. Um Toyota Corolla havia sido roubado e o ladrão fugia em alta velocidade rumo a Águas Lindas (GO). Renato não vacilou. Passou a mão nas chaves da Pajero e foi cumprir o seu dever de ofício. Ele era motorista do Grupo Tático Operacional da PM. Sempre dirigiu para a polícia. Nunca havia se envolvido em acidente sério. Desde que se tornou policial militar em Brasília, em 2003, recebeu 87 elogios em sua ficha funcional.

Arquivo pessoal
Cabo Renato Fernandes

No meio do caminho, com o carro em velocidade e a pista molhada, os policiais foram avisados que o Corolla roubado havia sido encontrado por outra viatura mais próxima à ocorrência. O cabo Renato fez uma manobra para retornar à base. Mas a Pajero que dirigia desestabilizou. O carro capotou e atropelou os planos da família de Renato para sempre. Três policiais conseguiram escapar com vida. Renato ficou preso às ferragens por mais de uma hora.

Seus colegas tentaram reanimá-lo, uma, duas, três, várias vezes. Ele não respondia. Não responderá nunca mais ao meu, ao seu, ao nosso chamado. Não responderá mais ao chamado de seu filho, de sua mulher, de seu bebê, que não terá a chance de sentir as mãos protetoras do pai, porque um dia o cabo Renato prometeu que protegeria quem quer que precisasse de sua ajuda. E cumpriu esse juramento até as últimas consequências.

E, para quem, porventura, ficou preso naquele engarrafamento porque um policial militar agonizava depois de se acidentar à espera de socorro, hoje, amanhã e depois tem carnaval. Para a família de Renato e toda uma corporação doída porque se colocou no lugar daquele colega que teve a vida interrompida aos 37 anos, este sábado já é quarta-feira de cinzas.

Colaborou Carlos Carone

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