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Não é fácil ser candidato sem dinheiro e sem as benesses do mandato

Candidatos a deputado que representam a renovação real têm aula prática de velha política

Autor Hélio Doyle

atualizado

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assalto bolso vazio sem dinheiro
1 de 1 assalto bolso vazio sem dinheiro - Foto: iStock

Política é para profissionais, dizem os profissionais da política. A frase, entronizada como se fosse de grande sabedoria, é na verdade um jeito de dizer que devemos deixar a prática política para as velhas e experientes raposas, que se dedicam integralmente a seus mandatos eternos e funções públicas que lhes garantem, lícita ou ilicitamente, suas fontes de sustento.

Ou seja, política é para os que conhecem suas manhas e seus métodos geralmente escusos. Os que querem fazer uma política diferente e sem corrupção são os amadores e, se depender dos profissionais, não há lugar para eles. Todas as dificuldades são criadas para impedir que ingressem nos antros dominados pelos profissionais.

Há alguns amadores que estão tentando entrar. São jovens bem-intencionados, alguns não tão jovens, críticos das velhas práticas, com ideias modernas, desejosos de implementar um novo estilo de fazer política. A maioria disputa pela primeira vez uma cadeira na Câmara Legislativa ou na Câmara dos Deputados.

Pois esses amadores estão tendo uma aula prática e intensiva de como funciona nosso sistema eleitoral, estruturado pelos profissionais em benefício próprio, para garantir a eternização deles – ou de seus parentes e protegidos – no poder e dificultar ao máximo a renovação política.

Os candidatos que propõem mudanças reais – e não apenas nominais, tipo seis por meia dúzia – nas casas parlamentares estão aprendendo também, no dia a dia da campanha, como o tão falado poder econômico age concretamente nas eleições, controlando um mercado eleitoral no qual quem tem dinheiro compra o apoio de “líderes” comunitários, dirigentes de entidades, padres, pastores, blogueiros, jornalistas e, principalmente, candidatos a deputado, mesmo que de outras coligações. Diz-se que nunca tantos candidatos a deputado federal e distrital foram comprados por tão poucos.

Dinheiro
E o dinheiro compra votos, claro. Boa parcela da população, vivendo em más condições, desalentada com a política e com os políticos e indignada com a situação do país e de Brasília, aproveita o período eleitoral para obter alguma vantagem, em espécie ou em bens. Afinal, raciocinam, se os políticos vão roubar dos cofres públicos graças aos votos deles, por que não cobrar pelo menos uma parte disso?

Quem tem mais dinheiro pode também contratar muitos cabos eleitorais e tem à sua disposição mais profissionais e recursos para a propaganda política. Os amadores ainda têm de enfrentar as máquinas montadas pelos candidatos com mandato e usam servidores de seus gabinetes e o dinheiro da verba indenizatória para fazer suas campanhas. Coisa de profissionais, claro. Só o Ministério Público Eleitoral não vê o que está acontecendo.

A disputa é desigual não só para quem não tem dinheiro para gastar na campanha ou não tem a estrutura assegurada pelos mandatos, paga com dinheiro público. Há ainda as desigualdades impostas pelos caciques dos partidos, que decidem quanto cada candidato deve receber do fundo eleitoral e quanto tempo cada um terá nos programas de rádio e televisão. Profissionais geralmente ficam com mais dinheiro e mais tempo.

Para integrar as listas partidárias, aliás, os amadores candidatos tiveram, muitas vezes, de enfrentar ou se submeter a dirigentes partidários que, à esquerda e à direita, também não têm nenhum interesse pela renovação política e privilegiam os profissionais como eles. A ausência de democracia interna nos partidos é mais um instrumento cuidadosamente cultivado pelos profissionais para impedir a renovação dos quadros políticos e das casas legislativas.

Esses candidatos amadores, espalhados em vários partidos, sabem que têm poucas chances de se eleger diante desse cenário, mas mantêm a esperança de que alguns deles consigam chegar agora à Câmara Legislativa ou, se não desistirem, acumulem força política para próximas disputas. Na Câmara dos Deputados, só um milagre possibilitará a vitória de um deles, pois as oito cadeiras estão sendo disputadas por não mais do que 12 candidatos.

Os amadores não acham que política seja só para os chamados profissionais nem aceitam teses conservadoras e elitistas, como as de que para ser candidato a governador tem de entrar na fila (autoria de Joe Valle, PDT) e de que para se candidatar ao Senado tem de ter sido deputado distrital e federal (Izalci Lucas, PSDB). Mas estão vendo, na prática, que essa briga não é fácil. Os profissionais, afinal, são profissionais.

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