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Dia do Professor: não temos o que comemorar

Em artigo, Rafael Parente afirma que os docentes estão desvalorizados, restando pouco a celebrar neste 15 de outubro

Autor Rafael Parente

atualizado

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Milton Michida/Governo do Estado de São Paulo/Arquivo EBC
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1 de 1 sala_de_aula_sao_paulo (1) - Foto: Milton Michida/Governo do Estado de São Paulo/Arquivo EBC

“Se não morre aquele que escreve um livro e planta uma árvore, com mais razão não morre o educador que semeia vida e escreve na alma”. Essa frase, do escritor e dramaturgo Bertolt Brecht, revela o quanto o ofício de professor deveria ser encarado como o mais nobre de todos. Os profissionais de todos os tipos precisaram frequentar uma escola e aprender com professores para, depois, contribuir com a sua comunidade, exercendo a sua prática.

No entanto, neste 15 de outubro, o professor brasileiro não tem o que comemorar. Segundo dados divulgados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nossos professores ganham menos do que a metade da média salarial paga a docentes em 46 países e trabalham mais do que eles.

Segundo a organização, na rede pública, a média entre os professores da educação básica, no Brasil, é de US$ 12.337 por ano. Nos outros países, US$ 28.700. Nem o piso salarial de pouco mais de R$ 2 mil é respeitado. Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, mais de 10 estados brasileiros não pagam esse mínimo.

O que vemos, em grande parte, é um cenário onde os professores não recebem pela importância e complexidade do seu trabalho, enfrentam salas de aula cheias e sem condições adequadas para exercer o ofício. Ao mesmo tempo, estão entre os que mais trabalham, segundo a mesma pesquisa. Nos países analisados, o professor passa, em média, 40 semanas em sala de aula por ano. Os nossos permanecem duas semanas a mais trabalhando.

A desvalorização do professor é um processo histórico no país, que caminha lado a lado ao sucateamento das políticas públicas de Educação. Um país que não valoriza a construção de futuro da sua juventude não vai valorizar, por conseguinte, um dos principais responsáveis por isso.

O resultado desse descaso com os professores tem reflexos sobre como os jovens veem essa profissão. Uma outra pesquisa da OCDE, realizada com adolescentes de 15 anos durante o Pisa, em 2015, revelou que nenhum dos entrevistados quer se tornar professor (primário ou secundário). É um dado assustador e que precisa ser levado a sério. Se não conseguimos motivar nossos jovens a se tornarem professores dos que virão, o que será do futuro?

Além da valorização financeira da profissão e de se investir nas condições de trabalho, é fundamental transformar completamente a formação dos professores. Segundo dados do MEC, dos mais de 1,4 milhão de estudantes matriculados em cursos de licenciatura, só 16% concluem a graduação. São pouco mais de 230 mil formados, 33% nas universidades públicas e 67% nas particulares. Além disso, após a graduação, as políticas de formação continuada são ineficientes e incapazes de estimular os docentes a continuarem atualizando seus conhecimentos.

A decisão de se tornar professor no Brasil é maior do que a escolha por uma determinada carreira profissional. É uma decisão que carrega ideais e sonhos de se contribuir com a construção de um Brasil melhor para as próximas gerações. Se a própria sociedade brasileira não reconhece a importância e complexidade desse ofício com salários e condições de trabalho adequadas, ou políticas públicas efetivas, não temos, sob qualquer aspecto, o que ser comemorado.

 

*Rafael Parente é PhD em educação (NYU), CEO da Aondê/Conecturma (empresa de educação e tecnologia), cofundador do Movimento Agora!, criador e apresentador do Canal Educação na Veia, membro do conselho do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (FGV/EBAPE Rio) e sócio-efetivo do Movimento Todos pela Educação.

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