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De Ratinho a Marcão: qual o limite da popularização do jornalismo?

A questão do critério de noticiabilidade passou a ser cada vez mais relativa: o que não é relevante para uma TV pode ser para outra

Autor Gabriel Souza

atualizado

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Dudu Camargo
1 de 1 Dudu Camargo - Foto: null

Fazer jornalismo, atualmente, não é uma tarefa nada fácil. Com o boom das redes sociais, todo mundo passou a ter um lado jornalista – e isso está longe de ter feito com que todos passassem a ter credibilidade, muito pelo contrário. A questão do critério de noticiabilidade passou a ser cada vez mais relativa: o que não é relevante para uma TV pode ser interessante para sua emissora vizinha.

Hoje em dia, todo mundo pode ser jornalista por 5 minutos. E isso é estimulado por todos os veículos de comunicação: da emissora de bairro até os grandes portais, todos têm um número de WhatsApp para o envio de flagras do dia a dia. É barato, simples e fácil. Ao primeiro olhar, é uma tentativa de fazer o público se sentir acolhido e parte da construção daquela reportagem.

Até mesmo a Globo, que há pouco tempo se recusava a citar nomes de redes sociais e aplicativos de mensagens durante seus programas, cedeu. Em maio do ano passado, iniciou um processo gradual de reformulação de seus noticiários regionais, com o intuito de se aproximar mais do público e da linha editorial de suas concorrentes. O projeto chegou em Brasília no último dia 5: as edições do DFTV foram renomeadas para DF1 e DF2. Com a mudança plástica, os telejornais também passaram a adotar hashtags personalizadas. Os telespectadores são estimulados a enviar conteúdo com elas, na esperança de ir ao ar.

Pioneira no jornalismo mais popular, a Record se vê numa crise de identidade desde a morte de Marcelo Rezende, em setembro de 2017. A emissora percebeu-se obrigada a migrar Luiz Bacci, que registrava bons índices de ibope no Balanço Geral e no São Paulo no Ar, para a condução do Cidade Alerta, e não teve tempo hábil de preparar um sucessor para ele nos programas matinais.

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Bacci, que apresentou os telejornais por três anos, impôs a eles um perfil extremamente pessoal e difícil de ser copiado: ele conseguiu ter personalidade e ser popular sem apelar para o escracho. As tentativas da Record em ter um substituto com esses mesmos atributos fracassaram miseravelmente: William Travassos e Matheus Furlan já tiveram êxitos na emissora, mas, ao serem jogados na fogueira, num dos horários mais competitivos da televisão brasileira, viram-se sem rumo e com queda iminente.

Nas manhãs do SBT, Dudu Camargo é responsável por ancorar a parte realmente jornalística do Primeiro Impacto – algo um tanto contraditório. Surgido de uma aposta sem sentido de Silvio Santos no Dia das Crianças de 2016, o adolescente de 19 anos ainda não iniciou a faculdade de jornalismo, mas já deixou de ser caricato com o passar dos meses. Seus episódios constrangedores deram lugar a um Dudu que ao menos tenta ser levado a sério. Aos trancos e barrancos, ele conseguiu: herdou boa parte do público de Luiz Bacci e firmou-se na vice-liderança das 6h.

Às 7h30, Dudu dá espaço ao polêmico Marcão do Povo. Expulso da Record após ter chamado a cantora Ludmilla de “pobre macaca” em pleno Balanço Geral, no início de 2017, o ex-político goiano foi acolhido pela emissora de Silvio Santos, que disse não se importar com o passado problemático de seu âncora.

Em seus 60 minutos no ar, Marcão não faz um telejornal. Ele tenta reproduzir o formato que consagrou Ratinho nos anos 1990, mas sem ter um décimo de seu carisma e nem uma plateia para tentar rir de suas palhaçadas.

Dudu, Marcão e o recém-chegado Bruno Peruka fazem jornalismo, sim – de uma forma incontestavelmente controversa, mas eficiente. Com a Globo passando a utilizar o popular e o opinativo, Record e SBT viram-se obrigadas a adotar uma linha cada vez mais escrachada para não sufocar na audiência.

Se esse tipo de jornalismo tem qualidade ou não, cabe ao público dizer. Assim como certos conteúdos não são interessantes para um canal e o são para outros, há público para todos os tipos de jornalismo na televisão. Seja ele tradicional, como o Jornal Nacional, seja completamente freak, como Marcão no Primeiro Impacto. De uma forma ou de outra, a informação está chegando até o público. E viva a diversidade – por mais controversa que ela seja.

Gabriel Souza é jornalista com especialização em crossmedia e mídias digitais. Fez parte da implantação do novo formato do Balanço Geral da Record Brasília, em 2016, e esteve na equipe do Primeiro Impacto com Marcão do Povo, no SBT. Assina o perfil @RickSouza no Twitter desde 2009.

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