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“Como assim você reprovou de ano?” Que tal falarmos sem julgar?

Este texto é um convite para nos ouvirmos mais e ouvir o que dissemos para aqueles que mais amamos. Sem culpas, acusações e julgamentos

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Há uns meses, li uma postagem excelente da conta do Instagram do Instituto da Comunicação Não Violenta intitulada de “No fundo, no fundo”. A postagem esclarece o que há por trás de cada expressão. Por exemplo: quando eu digo “não aguento mais!”, eu, no fundo, no fundo, quero dizer: “Está difícil continuar, preciso de descanso”.

Esta postagem me remeteu aos desafios que nós, pais, enfrentamos em lidar com tantas questões delicadas na educação dos nossos filhos, a pressão que esta vida “de sucesso” nos impõe e a dificuldade inerente em conduzir com sabedoria um diálogo assertivo e amoroso com os nossos filhos.

Como professora, passei anos da minha vida ouvindo alunos dizendo que seus pais falaram “coisas” duras, principalmente em momentos delicados, e que tudo aquilo era injusto. E durante esses anos, eu me vi sempre tentando traduzir para os pequenos o que, no fundo, no fundo, seus pais queriam dizer. Um deste momentos delicados era a reprovação.

Quando dizemos, no calor da emoção algo como “Não acredito que você tirou nota baixa de novo!” ou “Como assim, você reprovou?”, nós, no fundo, no fundo estamos preocupados com os nossos pequenos. Estamos preocupados com o futuro deles, estamos também perdidos por não termos encontrado uma saída para que eles tirem notas boas. No fundo, no fundo, estamos, também, precisando de ajuda.

Este texto é um convite para nos ouvirmos mais e ouvir o que dissemos para aqueles que mais amamos, nossos filhos. Sem culpas, sem acusações e sem julgamentos. É sempre tempo para ressignificar diálogos e comportamentos. Estudar sobre comunicação não violenta é um bom início.

Quando falamos “Não acredito que você tirou nota baixa de novo!” ou “Como assim, você reprovou?”, estamos julgando e não nos conectando aos nossos filhos.
Achei bem interessante como a CNV explica e diferencia “observação” e “julgamento” (os dois textos a seguir foram retirados da página da própria CNV – https://www.institutocnvb.com.br/sentimentos-e-necessidades):

Observação
É a explicação dos fatos que todos podemos observar.

Exemplo: Ele entrou na sala às 9h15.

Não é observação e sim julgamento
• Quando usamos adjetivos. Ex: Ele foi egoísta
• Quando usamos “Você é..” Ex: Você é irresponsável
• Quando generalizamos e usamos “sempre”, “nunca”,
todo mundo”, ninguém”. Ex: Você sempre se atrasa

Vamos tomar cuidado com algumas palavrinhas usadas no nosso cotidiano? Ao invés de julgarmos – a nós mesmos, nossos filhos, colegas, amigos etc. – que tal apenas observarmos, compreendermos o outro, quem realmente ele é, e agirmos com empatia, nos conectando com os sentimentos daquela pessoa.

Assim, falar sobre comunicação não violenta é falar sem julgar, é, acima de tudo, falar com uma linguagem empática. Esta linguagem requer uma escuta ativa, responsiva, curiosa e conectada com os sentimentos e necessidades do outro (e de si mesmo). Mais do que as palavras em si, a linguagem empática é toda aquela que nos aproxima, que nos faz conectar, ou seja, acreditar que temos abertura o suficiente para sermos entendidos e podermos generosamente colaborar com as necessidades uns dos outros. É com essa maneira de se comunicar que geramos espaços cocriativos (criação em conjunto) de resultados de benefício mútuo.

Observar sem julgar é uma técnica, ou seja, é possível aprender. Te convido a ler sobre comunicação não violenta, existem materiais gratuitos sobre o assunto. Conduzir um conflito sem julgamento é conduzi-lo de modo que esta relação seja transformada e não acabada.

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