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China ou EUA: qual país afeta mais a bolsa brasileira?

A bolsa traduz a importância que a China ganhou na economia brasileira, mas movimentações dos EUA seguem decisivas nos mercados globais

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Imagem colorida mostra aperto de mão entre Joe Biden, presidente dos EUA, e Xi Jiping, presidente da China - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra aperto de mão entre Joe Biden, presidente dos EUA, e Xi Jiping, presidente da China - Metrópoles - Foto: Reprodução/Redes sociais

Na economia real, China e Estados Unidos respondem por mais de um terço do Produto Interno Bruto mundial. Por isso mesmo, as movimentações dos dois gigantes podem causar um enorme impacto na bolsa. O brasileiro Ibovespa que o diga: só neste mês, o índice acumula 12 dias de queda, a sua pior sequência na história – e analistas apontam que parte importante desse resultado é causada pelo cenário internacional.

Nas últimas semanas, dados fracos da China derrubaram as bolsas pelo mundo, enquanto, nos EUA, a trajetória de inflação e a possibilidade de que não tenha acabado o ciclo de alta dos juros continuam no radar dos investidores.

Para ajudar a entender o quanto as duas maiores economias afetam o vai e vem da bolsa brasileira, um levantamento feito pelo TC/Economática, a pedido do Metrópoles, mostra os setores com maior peso no Ibovespa e como China e EUA impactam os papéis das maiores empresas.

Inicialmente, os dados indicam que a China tem amplo efeito direto. Petróleo, gás, mineração e siderúrgicas respondiam no início do mês por mais de 30% do Ibovespa, segundo o levantamento do TC/Economática.

Vale e Petrobras, sozinhas, têm peso de 13% e quase 12%, respectivamente.

Essas são áreas com forte influência da China, que compra do Brasil commodities como grãos, carnes e minério de ferro.

Na agropecuária, por exemplo, a JBS não rivaliza com o peso de Vale e Petrobras, mas, ainda assim, responde por 1% do Ibovespa, assim a BRF, com 0,8%.

“A China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil: exportadores, frigoríficos, minério e siderúrgicas têm suas performances diretamente impactadas pelo nível de atividade da China”, diz a equipe do TC/Economatica sobre o levantamento. “Principalmente no campo de infraestrutura, dado que é uma das principais áreas de crescimento econômico por lá.”

A bolsa traduz a importância que a China ganhou na economia brasileira como um todo: os chineses superaram os EUA como maior parceiro comercial ainda em 2009. No ano passado, a China comprou US$ 89 bilhões do Brasil, 27% do total exportado, contra 11% dos EUA.

O Brasil foi ainda o maior destino dos investimentos diretos feitos pela China em 2021, com US$ 5,9 bilhões, segundo os últimos dados do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

Além do comércio e do investimento direto, as movimentações na economia chinesa, na frente macroeconômica, impactam os preços globais das commodities e, assim, as ações de empresas.

Ao contrário das ações da Petrobras, cuja ações têm o preço determinado principalmente por causas domésticas, como o aumento recente do preço dos combustíveis, por exemplo, a Vale é diretamente afetada pela China, sem maiores complexidades.

“É imediato: se o minério de ferro cai na China, a Vale abre em queda. Acredito que o Ibovespa só não superou 130 mil, 135 mil pontos naquele momento de alta, por causa dos dados da China que seguraram a ação da Vale”, diz Daniel Abrahão, assessor na iHub Investimentos.

Um espirro nos EUA, uma gripe na bolsa brasileira

Apesar da crescente importância chinesa, ainda é válido dizer que “quando os EUA espirram, o mundo pega uma gripe”. Essa é uma realidade principalmente na bolsa, cujas reações são mais rápidas e voláteis.

Por isso, analistas afirmam que é difícil cravar, numericamente, qual país afeta mais o Ibovespa, se China ou Estados Unidos. “Essa resposta provavelmente muda todos os dias”, diz Abrahão.

“Se olharmos a bolsa pela composição do nosso Ibovespa, com certeza é a China – porque nossa bolsa é muito pesada em relação a commodities“, diz o economista. “Porém, os EUA ainda são a maior economia do mundo. Qualquer movimento impacta todas as bolsas, sem exceção, e afeta a bolsa brasileira diretamente.”

Os EUA seguem causando efeitos quase imediatos, por exemplo, em frentes como juros e câmbio. Pregões no Brasil acompanham com frequência as altas e baixas das bolsas em Nova York e as decisões do Fed, o banco central americano.

“Os EUA possuem um dos mercados de capitais mais desenvolvidos e ditam bastante o ritmo do nosso mercado. Por exemplo, a decisão do Fed de alterar as taxas de juros pode influenciar fluxos de capital ao redor do mundo, afetando moedas, taxas de desconto e valuation das ações e títulos soberanos”, escrevem os especialistas da TC/Economática.

Esses fatores macroeconômicos globais podem impactar até mesmo empresas que não são exportadoras e só vendem no mercado interno. Exemplo disso são varejistas como Raia Drogasil (1,6% do Ibovespa), ou a Localiza, de aluguel de carros (2,7% do Ibovespa), que estão entre as 20 principais ações do Ibovespa (veja abaixo).

Os analistas chamam a atenção, ainda, para o alto peso do setor de Finanças e Seguros no Ibovespa (acima de 22%), mais diretamente afetado pela macroeconomia, no qual a influência dos EUA é determinante.

Juntos, os três maiores bancos contam com mais de 11% do Ibovespa. O Itaú Unibanco é o maior banco da bolsa, com 6,4% de participação no Ibovespa, seguido por Bradesco (3,9%) e Banco do Brasil (3,2%).

“O setor financeiro brasileiro, por outro lado, também é muito consolidado. Se falamos de bancões, eles conseguem ter uma certa blindagem, não é qualquer crise global que os impacta”, diz Abrahão, da iHub.

“Mas as condições são extremamente complexas e mudam toda hora. E isso nada mais é que o reflexo da hiper-globalização: tudo é conectado com tudo. Isso foi muito fácil de perceber no momento da pandemia – um navio que deixa de sair de um porto, que a gente mal conhece, impacta um pedaço do nosso carro, que vai impactar nos preços do nosso dia-dia”, diz o economista.

Assim, para o Ibovespa voltar ao patamar acima de 120 mil pontos perdido neste mês, uma coisa é certa: movimentos mais favoráveis no exterior serão necessários, tanto de Washington quanto de Pequim.

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