No dicionário, censura significa julgar a conveniência de liberação de algo à exibição pública, publicação ou divulgação. Tanto os jornalistas da Rússia quanto da Ucrânia trabalham sob a interferência direta do governo em seu trabalho.
Na Rússia, a guerra não pode ser chamada de guerra. A cobertura jornalística é pautada pelas obrigações de ressaltar as “medidas anti-Rússia”, como as sanções econômicas sofridas pelos russos são tratadas no país, e propagar a tese de que a ação das tropas de Vladimir Putin foi tomada para combater “grupos neonazistas na Ucrânia”.
Na Ucrânia, a imprensa mostra a destruição das cidades e o sofrimento da população, também sempre defendendo o posicionamento do governo — mesmo que signifique exagerar nas tintas.
O Metrópoles selecionou imagens das coberturas jornalísticas dos dois países para mostrar, em vídeo, as divergências nas informações que russos e ucranianos recebem da guerra.
Desde a invasão russa, em 24 de fevereiro, uma guerra de narrativas domina as supostas justificativas da investida militar e na cobertura sobre a guerra.
Tanto russos quanto ucranianos têm acesso a menos informações do conflito e de seus impactos do que outros países não envolvidos diretamente. Só são veiculadas as informações que o respectivo governo quer.
Na Rússia, o conflito é tratado como “operação militar especial”. Quem descumpre a regra pode até ser preso.
Os jornais mostram o que está acontecendo na Ucrânia sob o mantra da “operação militar especial para desnazificar a Ucrânia”, construção imposta pelo presidente russo, Vladimir Putin.
Imagens
Imagens do conflito e de líderes, como dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e do ucraniano, Volodymyr Zelensky, são publicadas.
Contudo, as reportagens os tratam como inimigos do povo russo e disseminadores da “russofobia”, que seria, segundo a avaliação do governo, um sentimento estimulado pelo Ocidente.
Na Ucrânia, diariamente são mostrados vídeos e fotos de ataques, como bombardeios a áreas residenciais, hospitais e até ambulâncias, além do drama dos refugiados.
Outra abordagem são os impactos da guerra, como perdas econômicas e o desemprego. A imprensa ucraniana tenta continuar a cobertura mesmo com a intensificação dos bombardeios.
A imprensa ucraniana também repercute com bastante ênfase os discursos do presidente Zelensky e ressalta a necessidade de ajuda do Ocidente, como a doação de armas e sanções econômicas mais duras.
No governo russo, a censura é mais clara, e Putin deixa explícito o que pode ou não ser divulgado. Na Ucrânia, Zelensky uso a lei marcial, que dá poderes especiais em momentos de exceção, para controlar a cobertura de TVs do país.

A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerraAnastasia Vlasova/Getty Images

A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito Agustavop/ Getty Images

A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse localPawel.gaul/ Getty Images

Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 kmGetty Images

Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideiaAndre Borges/Esp. Metrópoles

Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do paísPoca/Getty Images

A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiroKutay Tanir/Getty Images

Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta OTAN/Divulgação

Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por territórioAFP

Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu territórioElena Aleksandrovna Ermakova/ Getty Images

Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do EstadoWill & Deni McIntyre/ Getty Images

O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários delesVostok/ Getty Images

Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo Vinícius Schmidt/Metrópoles