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Soldados da ONU abandonaram centenas de filhos no Haiti

Segundo estudo, agentes das Forças de Paz do Uruguai e do Brasil são os principais responsáveis por abuso e exploração sexual no país

atualizado

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ONU/Divulgação
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1 de 1 forcas-paz-onu - Foto: ONU/Divulgação

Mais de 200 mulheres haitianas relataram abusos sexuais sofridos por membros das forças de paz das Nações Unidas (ONU). Com o fim de missões e a repatriação dos soldados, elas foram deixadas para trás com mais de 300 filhos abandonados no país, lutando contra a pobreza, o estigma social e a maternidade solo. Os dados são de um estudo acadêmico de duas pesquisadoras, publicado na terça-feira (17/12/2019) no site The Conversation.

A pesquisa, baseada em entrevistas feitas no verão de 2017 com 2.500 haitianas que moravam próximo a bases das forças de paz, deixa claro o rastro de exploração sexual por alguns dos soldados e civis que serviram na missão da ONU no Haiti, a Minustah, sigla de seu nome em francês.

Sabine Lee, que é professora de história na Universidade de Birmingham, e Susan Bartels, cientista clínica na Universidade Queen’s, em Ontário, documentaram relatos de 265 mulheres, que relataram ter filhos de membros das forças de paz oriundos de ao menos 13 países, mas principalmente do Uruguai e do Brasil. “Meninas de 11 anos foram abusadas sexualmente e engravidadas”, explicaram. As forças de paz estiveram no Haiti de 2004 a 2017.

Já é de conhecimento da  ONU os numerosos casos de exploração e abuso sexual por parte das forças de paz no Haiti e em outros lugares. As pesquisadoras, no entanto, destacam que no caso das vítimas haitianas a situação descreve um cenário mais alarmante do que supunham no país mais pobre do Hemisfério Ocidental.

Petit minustahs

Há relatos de estupros, mas em vários casos, a exploração sexual ocorria por meio de encontros sexuais entre mulheres e meninas locais e os soldados. Enquanto algumas mães contaram aos pesquisadores sobre a violência sexual praticada por eles, a maioria das histórias incluía formas mais sutis de coerção, com a troca de pequenas quantias em dinheiro ou comida por sexo com mulheres e meninas que eram extremamente pobres.

Em outros casos, as mulheres e seus parentes descreveram relacionamentos consensuais que terminaram quando as forças de paz deixaram o Haiti. Meses depois, essas mulheres deram à luz seus filhos, que hoje são conhecidos na região como “petits minustahs”.

“Comecei a conversar com ele, então ele me disse que me amava e eu concordei em sair com ele. Três meses depois, eu estava grávida e, em setembro, ele foi enviado para seu país. A criança está crescendo e sou eu e minha família que estamos lutando com ele”, descreveu uma das mulheres às pesquisadoras.

Não havia apenas histórias de mulheres e meninas sendo agredidas sexualmente pela Minustah, mas também homens e meninos sendo igualmente vítimas de abuso. “Mas em nossa pesquisa, a agressão sexual foi a minoria dos encontros sexuais relatados. Em vez disso, nossos dados destacaram um problema muito mais difundido, embora tenha sido relatado menos na mídia – sexo transacional com o pessoal da ONU”, escreveram as autoras.

Segundo Lee, a principal autora do estudo, os Estados membros que contribuem com tropas para os esforços de manutenção da paz da ONU também têm a responsabilidade direta de ajudar a apoiar mães e filhos.

“Não é um problema só da ONU, é um problema militar brasileiro ou um problema militar uruguaio. A ONU, porém, não encontrou uma maneira de responsabilizar as tropas”, lamentou.

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