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Pesquisadores estudam utilizar vacina BCG contra coronavírus

BCG, usada contra tuberculose, está sendo testada por cientistas e é testada no combate à Covid-19

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Vacinação contra gripe posto 612 Sul Ministério da Saúde
1 de 1 Vacinação contra gripe posto 612 Sul Ministério da Saúde - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma vacina desenvolvida há 100 anos contra o flagelo da tuberculose na Europa agora está sendo testada contra o coronavírus por cientistas que anseiam por encontrar uma maneira rápida de proteger profissionais da saúde entre outros.

A vacina Bacillus Calmette-Guerin (BCG) ainda é amplamente usada nos países em desenvolvimento, onde os cientistas descobriram que ela faz mais do que prevenir a tuberculose. A vacina evita mortes infantis por várias causas e reduz drasticamente a incidência de infecções respiratórias.

Ela parece “treinar” o sistema imunológico para reconhecer e responder a uma variedade de infecções, incluindo vírus, bactérias e parasitas, dizem os especialistas. Ainda existem poucas evidências de que a vacina atenue a infecção por coronavírus, mas uma série de ensaios clínicos pode responder à pergunta em apenas alguns meses.

Na segunda-feira, cientistas em Melbourne, na Austrália, começaram a administrar a vacina BCG ou um placebo em milhares de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas respiratórios e outros profissionais da saúde – o primeiro de vários ensaios clínicos aleatórios que pretendem testar a eficácia da vacina contra o coronavírus.

“Ninguém está dizendo que isso é uma panaceia”, disse Nigel Curtis, chefe do departamento de doenças infecciosas do Royal Children’s Hospital, em Melbourne, que planejou o ensaio clínico. “O que queremos fazer é reduzir o tempo de indisposição de um profissional de saúde infectado, para que ele se recupere e possa voltar ao trabalho mais rapidamente”.

Um ensaio clínico com mil profissionais de saúde começou há 10 dias na Holanda, disse Mihai Netea, especialista em doenças infecciosas no Radboud University Medical Center, em Nijmegen. Oitocentos profissionais de saúde já se inscreveram para participar dos testes. (Como na Austrália, metade dos participantes receberá um placebo.)

Denise Faustman, diretora de departamento de imunobiologia do Hospital Geral de Massachusetts está buscando financiamento para iniciar um ensaio clínico da vacina em profissionais de saúde de Boston também. Resultados preliminares podem estar disponíveis em menos de quatro meses.

“Temos dados realmente fortes de ensaios clínicos com seres humanos – e não com ratos – de que esta vacina protege você contra infecções virais e parasitárias”, disse Denise. “Gostaria de começar hoje.”

Como outras vacinas, a BCG tem um alvo específico: a tuberculose. Mas as evidências acumuladas na última década sugerem que a vacina também tem efeitos fora do alvo, reduzindo doenças virais, infecções respiratórias e sepse, e parece reforçar o sistema imunológico do corpo.

A ideia é uma derivação da “hipótese da higiene”, que sugere que a ênfase moderna na limpeza privou as crianças da exposição a germes. A falta de “treinamento” resultou em sistemas imunológicos enfraquecidos, menos capazes de resistir a doenças.

Um dos primeiros estudos sugerindo os amplos benefícios da vacinação com a BCG foi um teste aleatório com 2.320 bebês na Guiné-Bissau, na África Ocidental, publicado em 2011, que relatou que as taxas de mortalidade entre bebês com baixo peso ao nascer foram drasticamente reduzidas após a vacinação. Um estudo de acompanhamento apontou que as taxas de mortalidade por doenças infecciosas em bebês com baixo peso ao nascer que foram vacinados foram reduzidas em mais de 40%.

Outros estudos epidemiológicos – incluindo um que acompanhou mais de 150 mil crianças em 33 países durante 25 anos – indicaram um risco 40% menor de infecções agudas do trato respiratório inferior em crianças que receberam a vacina BCG. Uma pesquisa realizada com idosos constatou que vacinações consecutivas de BCG reduziram a incidência de infecções agudas do trato respiratório superior.

Uma revisão recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a BCG teve “efeitos fora do alvo” benéficos e recomendou a realização de mais testes da vacina contra uma ampla gama de infecções.

“Esta vacina salvou tantas vidas quanto a vacina contra a poliomielite – é uma história incrível”, disse Curtis, que projetou e lançou o ensaio clínico com a BCG em Melbourne há menos de um mês, esperando ficar um passo à frente da disseminação do coronavírus na Austrália.

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