Tesouro preservado: arquivos inéditos recontam a história das posses dos presidentes em Brasília

Menos de seis décadas depois de inaugurada, a capital sediou 14 mudanças de governo

Eumano Silva

Em Brasília, as posses de presidentes da República retratam com rara nitidez o ambiente político do país. No ritual de troca de governo, as autoridades se apresentam ao público segundo o protocolo oficial e, ao mesmo tempo, expõem os símbolos cultuados pelos grupos em movimento no poder. Revelam também a relação dos titulares do Palácio do Planalto com a população.

Menos de seis décadas depois de inaugurada, a capital sediou 14 posses presidenciais. Vistas no conjunto, as cerimônias de passagem de comando representam um passeio privilegiado por momentos marcantes da história do Brasil.

O Metrópoles teve acesso a arquivos inéditos – ou pouco conhecidos – que registram imagens originais e preciosas das solenidades de mudança na cúpula do governo federal. O material audiovisual encontra-se nos acervos do Arquivo Nacional, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Fotografias e vídeos produzidos por instituições públicas preservam cenas de fatos determinantes da política nacional.

Desde 1961, quando Jânio Quadros substituiu Juscelino Kubitschek, Brasília abrigou presidentes de diferentes estilos, tanto na trajetória para chegar ao poder quanto no exercício das funções. O resgate do acervo sobre as posses permite buscar, em fontes primárias, os sinais emitidos pelos poderosos quando assumem seus cargos.

Brasília abrigou nesse tempo governantes eleitos em processos democráticos mas também atravessou 20 anos de ditadura, com presidentes escolhidos pelas Forças Armadas. As imagens da Praça dos Três Poderes e do gramado da Esplanada dos Ministérios evidenciam o grau de interação entre o chefe do Executivo e a sociedade.

Chama atenção, por exemplo, a ausência da população nas posses dos generais Emílio Garrastazu Médici, em 1969, e Ernesto Geisel, em 1974. A ditadura mantinha o povo distante do poder. Nas democracias, independentemente da ideologia, os presidentes são empossados amparados por multidões. Foi assim com Jânio Quadros, João Goulart, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva.

A memória preservada pelos arquivos públicos, por fim, evidencia a fugacidade do poder. Sejam ditadores ou democratas, civis ou militares, todos um dia deixam o Palácio do Planalto. Pela porta da frente ou pelos fundos, os presidentes vão embora. A capital permanece como sede do governo seguinte.

Jânio da Silva Quadros

31 de janeiro de 1961

Janio

Menos de um ano depois de inaugurada, Brasília sediou a primeira posse de um presidente da República. Ex-governador de São Paulo, Jânio da Silva Quadros recebeu no dia 31 de janeiro de 1961, das mãos do fundador da cidade, Juscelino Kubitschek de Oliveira, a faixa verde-amarela, símbolo maior do cargo mais importante do país.

Por causa da chuva mansa que caía do céu da capital, a troca de comando teve como abrigo uma tenda armada sobre o parlatório do Palácio do Planalto. No meio do povo, Jânio percorreu em carro aberto o trajeto entre o Congresso e a rampa do Planalto.

Apesar do tempo fechado, o sucessor de JK assumiu a Presidência da República cercado por uma multidão de apoiadores. Eleito depois de campanha com forte apelo populista, ele teve carreira meteórica até chegar à Presidência.

Em 1947, Jânio obteve o primeiro mandato de vereador de São Paulo, pelo pequeno PDC. Venceu em 1953 as eleições para a prefeitura da capital paulista e, no ano seguinte, rompeu com o partido para se candidatar pelo PTN e ganhar o pleito para governador do estado.

No governo federal, Juscelino representava um campo associado ao legado de Getúlio Vargas, liderado pelo PTB e pelo PSD. Desde a redemocratização, em 1946, esses dois partidos venciam as eleições. Popular e hábil na política, JK enfrentou no fim do mandato o crescimento da inflação e de denúncias de corrupção no seu governo.

Excêntrico e carismático, Jânio prometeu realizar uma “limpeza” na administração pública e combater a corrupção. Para reforçar o discurso, adotou a vassoura como símbolo da campanha. Também defendeu a modernização do Estado.

O ex-governador de São Paulo conquistou a Presidência à frente de uma coligação de pequenos partidos e, principalmente, da UDN, legenda responsável por dura oposição a Juscelino. Obteve 48,26% dos votos e derrotou o candidato de Kubitschek, marechal Henrique Teixeira Lott, do PSD, e Adhemar de Barros, do PSB.

Na mesma disputa, os brasileiros deram a João Goulart, herdeiro político de Getúlio, o segundo mandato de vice-presidente. Ocupava o cargo no governo JK e fazia parte da chapa de Lott. A legislação permitia a eleição do vice e do titular por coligações diferentes.

No mesmo dia da posse, Jânio concedeu uma entrevista de 40 minutos à Hora do Brasil. Prometeu implementar “um governo rude e áspero” que buscaria combater “o favoritismo”, “o filhotismo” e o “compadrio” que vinham “sugando a seiva da nação e obstando caminho aos mais capazes”.

Menos de sete meses depois da posse, Jânio renunciou ao mandato. Errático no jeito de fazer política e sem sintonia com o Congresso, mostrou-se incapaz de comandar o país.


João Belchior Marques Goulart

7 de setembro de 1961

Goulart

João Belchior Marques Goulart, o Jango, assumiu a Presidência da República com o Congresso e a frente do Palácio do Planalto cercados de brasileiros, com forte presença de políticos. A cerimônia de transmissão do cargo transcorreu sob forte tensão política.

Quando Jânio renunciou, Jango encontrava-se em missão diplomática na China. Setores militares e civis, boa parte deles antigetulistas, opuseram-se à posse do vice. Apontavam sua ascensão como uma ameaça comunista e diziam que iriam prendê-lo caso retornasse ao país.

Os seguidores de Jango mobilizaram-se para defender o cumprimento da Constituição. No Rio Grande do Sul, o então governador, Leonel Brizola, transformou o palácio de governo no centro da resistência contra um golpe institucional. Apoiado por militares locais, comandou a Campanha da Legalidade, mobilização política e popular em favor da posse do vice.

Sob boatos de possível eclosão de uma guerra civil, a cúpula do Legislativo e os militares construíram uma solução intermediária. Para limitar os poderes do presidente, o Congresso aprovou uma emenda que instituiu o sistema de governo parlamentarista.

Jango prestou juramento em sessão do Parlamento no dia 7 de setembro de 1961, quase duas semanas depois da renúncia de Jânio. Aos congressistas, o novo presidente afirmou que chegava ao poder “ungido pela vontade popular”. No discurso, registrou também a “impressionante manifestação de respeito pela legalidade e pela defesa das liberdades públicas” da população.

No mesmo dia, em cerimônia interna no Palácio do Planalto, o presidente da Câmara à época, Ranieri Mazzilli, entregou a Jango a faixa verde-amarela simbolizadora do poder. Ao lado, posicionou-se o ex-ministro da Justiça Tancredo Neves, escolhido primeiro-ministro no parlamentarismo recém-instalado.

Jango logo se mostrou crítico da solução parlamentarista e apoiou a realização de um plebiscito para decidir se o sistema presidencialista seria reinstaurado.

Antes prevista para o final de 1965, a consulta popular sobre esse tema foi antecipada para janeiro de 1963. Nas urnas, 82% dos brasileiros optaram pelo presidencialismo – um voto de confiança para Jango, por conferir mais poderes ao presidente. A democracia continuou instável.

O país então estava dividido. De um lado, setores que apoiavam as reformas de base defendidas por João Goulart, com propostas de mudanças na Constituição para aplicação de medidas nacionalistas fiscais, administrativas, urbanas, agrárias e educacionais. Para isso, em 13 de março de 1964, Jango conseguiu reunir cerca de 200 mil pessoas no Rio de Janeiro, no Comício das Reformas.

Sem força política para implementar suas propostas, Jango foi deposto pelo golpe militar iniciado no dia 31 de março de 1964. Acusado de alinhamento com comunistas, perdeu a cadeira presidencial pouco mais de um ano depois do plebiscito que restaurou seus poderes.


Humberto de Alencar Castelo Branco

15 de abril de 1964

Castelo Branco

O golpe militar encerrou um período de duas décadas de governos eleitos pelo povo e inaugurou 21 anos de ditadura no Brasil. Nas semanas anteriores à deposição de Jango, manifestações patrocinadas pela oposição ocuparam as ruas das grandes cidades.

A mais expressiva foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, no dia 19 de março de 1964: reuniu em torno de 300 mil pessoas. Em seguida, outras capitais organizaram marchas similares. Asseguraram assim o apoio às forças militares, que desde a década de 1930 se opunham ao “inimigo comunista”.

Primeiro presidente dos Anos de Chumbo, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foi eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, no dia 11 de abril, com 361 votos, 72 abstenções e 37 ausências. Outros candidatos somaram cinco apoios.

No dia 15 de abril de 1964, Castelo Branco foi empossado pelo Parlamento no comando do país. As galerias do plenário estavam lotadas. Em seguida, no Palácio do Planalto, o então presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, transmitiu a faixa a Castelo Branco.

No discurso feito no Congresso, o marechal dirigiu-se aos parceiros políticos. Afirmou o compromisso de revigorar a democracia, restabelecer e promover a justiça social. “Espero também […] que possa entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo, em eleições livres, uma nação coesa […]”. Três meses depois o Congresso Nacional aprovou a prorrogação de seu mandato até 15 de março de 1967.

Os militares organizaram um forte sistema de segurança para a posse. Durante o trajeto percorrido de carro entre o Congresso e o Palácio do Planalto, o presidente esteve cercado de agentes. Depois de três horas de compromissos, o marechal apareceu para a população durante um desfile das Forças Armadas.

Castelo Branco assumiu o Planalto após o Comando Supremo da Revolução ter editado um ato institucional que autorizou a suspensão de direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos e estabeleceu eleições indiretas para o cargo de presidente.

Ex-chefe do Estado Maior do Exército nomeado por Jango, o marechal prometeu entregar o cargo dois anos depois, mas adiou a sucessão, pressionado pela linha dura dos militares, contrária à devolução do poder aos civis.

Castelo Branco chegou ao topo do poder no contexto da Guerra Fria, cercado de militares anticomunistas. O golpe de Estado foi executado em nome da necessidade de setores conservadores de se opor às iniciativas de Jango e reforçar valores tradicionais cristãos.

Dentro do governo, o ministro da Guerra, Artur da Costa e Silva, liderava a ala dos militares mais radical no enfrentamento com opositores e, em particular, com as organizações clandestinas de esquerda, algumas envolvidas na luta armada contra a ditadura. Surgiram, nesse período, as primeiras denúncias de prisão e morte de adversários políticos.


Artur Costa e Silva

15 de março de 1967

Costa e Silva

Em 15 de março de 1967, o marechal Artur da Costa e Silva assumiu a Presidência da República. Tal qual Castelo Branco, seu antecessor, alcançou o cargo em eleição indireta pelo Congresso.

Como se fosse em uma democracia, antes da confirmação de seu nome pelo Parlamento, o segundo presidente da ditadura percorreu o país em uma espécie de campanha política. Nesse período, foi vítima de um atentado à bomba em Recife. Um militar e um civil morreram no episódio.

Na votação do Parlamento, Costa e Silva teve o apoio apenas da Arena, partido do governo. O MDB, legenda de oposição, absteve-se da decisão. O plenário estava repleto de políticos, militares e representantes das embaixadas. Na mesma chapa, como vice-presidente, foi eleito Pedro Aleixo, advogado e político mineiro.

A posse foi em um dia chuvoso, com pouca participação popular na Praça dos Três Poderes. Recebeu a faixa de Castelo Branco em solenidade lotada de civis e militares no Palácio do Planalto. Nas principais capitais do país, as forças de segurança foram mobilizadas para reprimir eventuais protestos contra o novo presidente.

Antes de chefiar o país, Costa e Silva teve papel de destaque no golpe de 1964. Ele ocupava o cargo de ministro da Guerra de João Goulart e esteve no centro da conspiração pela tomada do poder, ao lado de Castelo Branco, Olímpio Mourão filho, Osvaldo Cordeiro de Farias Nélson de Melo, Odílio Denis, entre outros.

Liderava a linha dura dos militares. Na condição de ministro da Guerra, presidiu no dia 9 de abril de 1964 a reunião do Comando Supremo da Revolução, que resultou no primeiro institucional, o AI-1.

Foi um dos principais responsáveis pela cassação dos direitos políticos de Juscelino Kubitschek, dono de grande popularidade. Defendeu a prorrogação do mandato de Castelo Branco, manobra que também atingiu JK, aprofundou as bases da ditadura e criou condições para ele próprio conquistar a Presidência da República.

Em época de grandes manifestações populares e de crescimento das organizações armadas de esquerda, Costa e Silva criou as condições para o período mais sangrento dos governos militares. Na perseguição aos “inimigos internos”, tratados de forma genérica como “comunistas”, baixou o Ato Institucional nº 5, o AI-5, instrumento legal que retirou as garantias individuais e deu liberdade de ação ao aparato repressivo para caçar os adversários da ditadura.

O mandato de Costa e Silva foi abreviado por uma trombose que o afastou do governo no final de agosto de 1969. As Forças Armadas não aceitaram o civil Pedro Aleixo no posto de presidente e tomaram o poder com uma junta militar formada pelos ministros do Exército, general Aurélio de Lira Tavares; da Marinha, almirante Augusto Rademaker; e da Aeronáutica, brigadeiro Márcio de Souza e Melo.

No dia 4 de setembro, guerrilheiros sequestraram o embaixador do Estados Unidos e obrigaram os militares a libertar 15 presos políticos. A ditadura entrou na fase mais cruel.


Emílio Garrastazu Médici

15 de março de 1969

Emílio Garrastazu Médici

A cúpula das Forças Armadas escolheu o general Emílio Garrastazu Médici para substituir a Junta Militar. Ex-comandante do III Exército, no Sul, ele se tornou o preferido dos oficiais, principalmente, por seu trabalho anterior, na chefia do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão coordenador do sistema de espionagem, repressão e assessoramento estratégico do governo.

Em 25 de outubro de 1969, Médici foi eleito presidente pelo Congresso, com 239 votos a favor e 76 abstenções, todas do MDB. O almirante Augusto Rademaker, integrante da Junta Militar, ficou com o posto de vice da chapa.

O terceiro presidente da ditadura assumiu o Palácio do Planalto no dia 30 de outubro de 1969. Militares perfilados cercavam a sede do Poder Executivo e o Congresso Nacional. Tropas de elite faziam a segurança e a presença popular foi controlada.

Dentro do Palácio, em nome da Junta Militar, o almirante Rademaker passou a faixa presidencial para Médici. No discurso de posse, o general exaltou a família brasileira e o patriotismo. Afirmou, também, acreditar em um mundo sem fronteiras ideológicas, onde cada um respeitasse a forma dos outros povos viverem.

Durante os mais de quatro anos de mandato de Médici, a máquina repressiva usou as prerrogativas do AI-5 para radicalizar a perseguição aos opositores. Foi o período de atuação mais intensa e descontrolada da linha dura. Com crescimento econômico recorde e o tricampeonato da Seleção Brasileira de futebol, o país entrou na era do ufanismo verde-amarelo.

A propaganda oficial em torno do sucesso na economia e no esporte acobertava a perseguição sem trégua aos adversários. Pelo lado da oposição, as organizações guerrilheiras apostavam no confronto armado contra os militares.

A superioridade do aparato repressivo do Estado causou o extermínio e o desaparecimento de dezenas de militantes dos movimentos esquerdistas nesse período. No fim do governo Médici, apenas na Guerrilha do Araguaia, no sudeste do Pará, contabilizava-se a morte de 70 combatentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), parte deles executados depois de presos pelo Exército.

Ao mesmo tempo que avançava no desmantelamento das organizações armadas, a linha dura perdia espaço na cúpula militar. O grupo, originalmente ligado a Castelo Branco, pressionava o governo por um caminho mais moderado.

Os abusos cometidos pelos órgãos de repressão em nome da segurança nacional desgastavam o governo dentro e fora do país. As denúncias de tortura e morte de opositores levantaram vozes de organizações defensoras dos direitos humanos no Brasil e no exterior. Nesse ambiente, o governo Médici chega ao fim.


Ernesto Geisel

15 de março de 1974

Ernesto Geisel

Ex-presidente da Petrobras, o general Ernesto Geisel tomou posse no dia 15 de março de 1974. Tornou-se o nome da preferência de Médici para comandar o governo com as Forças Armadas, divididas entre os militares da linha dura e os que defendiam o lento retorno país à normalidade constitucional.

Irmão de Orlando Geisel, ministro do Exército de Médici, Ernesto foi eleito pelo Congresso com 400 votos, contra 76 concedidos à chapa formada pelo deputado Ulysses Guimarães e pelo jornalista Barbosa Lima Sobrinho e, ainda, 21 abstenções.

Sem chances de vencer o poder militar, Ulysses lançou-se “anticandidato” no colégio eleitoral como forma de protesto contra o regime arbitrário, em particular, contra a escolha indireta do presidente da República.

Depois de empossado pelo Congresso, Geisel seguiu em carro fechado para o Palácio do Planalto. Os gramados verdes da Esplanada encontravam-se vazios, sem a presença de populares. Os jornalistas não tiveram acesso às solenidades. Por determinação do corpo de segurança, ficaram 200 metros distantes do sucessor de Médici.

Em reunião fechada no Palácio do Planalto, assistida por poucas dezenas de autoridades, o quarto presidente da ditadura recebeu a faixa das mãos de Médici, seu antecessor. A cerimônia teve a participação de cerca de 80 representações estrangeiras.

Na fila de cumprimentos, entre embaixadores e autoridades brasileiras, estiveram os ditadores Augusto Pinochet, do Chile, Hugo Banzer, da Bolívia, e Juan María Bordaberry, do Uruguai. Também marcou presença Patty Nixon, mulher do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon.

Geisel desagradou à linha dura – e ao irmão Orlando – ao conduzir o país para a abertura política, mesmo que “lenta, gradual e segura”, conforme seu lema. Mas ele manteve a repressão aos opositores. Nesse período, com as organizações guerrilheiras de esquerda desmanteladas, os agentes do governo prosseguiram no extermínio de adversários e também mataram militantes e dirigentes de organizações que não praticaram ações armadas, como o Partido Comunista Brasileiro.

Em 1977, quando perdia força no Legislativo, Geisel decretou o fechamento do Congresso e baixou o Pacote de Abril, um conjunto de medidas amparadas no AI-5 que lhe deram instrumentos para manter o controle sobre a abertura política.

Entre outras mudanças, instituiu eleições indiretas para um terço das vagas de senadores. Também manteve a escolha indireta para os governadores dos estados.

Principal nome da linha dura, o então ministro do Exército, Silvio Frota, foi demitido por Geisel no mesmo ano por amparar a radicalização dos órgãos de repressão. No Brasil e no exterior, cresciam os movimentos pela libertação dos presos políticos e pela anistia dos exilados.

No rumo da abertura, em 1978, Geisel revogou o AI-5. Na economia, o Brasil sofria as consequências do endividamento externo e da crise do petróleo. A inflação começava a sair do controle quando Geisel deixou o governo. O “milagre econômico” ficou no passado.


João Figueiredo

15 de março de 1979

João Figueiredo

O general João Batista de Oliveira Figueiredo foi o quinto e último presidente do período militar. Como Médici, também atuou como chefe do SNI e conhecia por dentro a máquina repressiva. Recebeu o cargo de Geisel, com a missão de dar continuidade ao processo de abertura política.

Eleito indiretamente pelo Legislativo, Figueiredo recebeu 355 votos, contra 226 ao adversário, general Euler Bentes, lançado pelo MDB. No dia da posse, com o propósito de reforçar a ideia de retorno à democracia, os gramados em volta do Congresso estavam tomados por centenas de pessoas.

Em clima de festa, a população saudou a passagem de Figueiredo, no Rolls-Royce conversível presidencial, no trajeto entre o Parlamento e o Palácio do Planalto. Recebeu a faixa de Ernesto Geisel e reafirmou os compromissos de 1964, para assegurar uma “sociedade livre e democrática”.

No discurso, sinalizou o rumo da distensão política. “Reafirmo: é meu propósito inabalável, dentro daqueles princípios, fazer deste país uma democracia.”

Figueiredo seguiu, depois, para uma festa no Ginásio de Esportes Presidente Médici (hoje rebatizado como Ginásio Nilson Nelson), onde discursou para 12 mil pessoas.

Por todo o país, a sociedade civil protestava contra a carestia e se organizava em sindicatos, associações e na retomada do movimento estudantil. Nas ruas, no trabalho e nas escolas, os brasileiros pressionavam pela anistia dos adversários políticos do governo.

O último presidente da ditadura assinou a Lei da Anistia em dezembro de 1979. Os adversários presos foram soltos e os exilados retornaram ao Brasil com plenos direitos políticos.

A linha dura resistia à abertura do regime e executava atentados em bancas de jornais e outros pontos, como sedes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No ataque mais ousado, militares tentaram soltar uma bomba durante um show no Rio Centro em 1º de maio de 1981.

Por um erro dos militares, a bomba explodiu dentro do carro, antes de ser levada para o local planejado. Um dos autores do atentado frustrado morreu estraçalhado pela explosão e outro ficou gravemente ferido.

As eleições para governador voltaram a ser diretas em 1982 e oposicionistas como Leonel Brizola e Miguel Arraes puderam se candidatar. Aos poucos, a população nas ruas vencia a repressão.

Embora tenha sido bem-sucedido na abertura política, Figueiredo desgastou-se por ter perdido controle sobre os radicais da repressão. O último presidente do período militar terminou o governo com problemas cardíacos e sem forças para conduzir sua sucessão. No último dia de mandato, saiu pela porta dos fundos, sem transmitir o cargo para o sucessor. A ditadura acabou assim.


José Sarney

15 de março de 1985

José Sarney

Ex-presidente da Arena e do PDS, os partidos do governo militar, o senador maranhense José Sarney tornou-se presidente da República no dia 15 de março de 1985 com o país em clima de perplexidade. Vice-presidente na chapa referendada pelo Colégio Eleitoral em votação indireta, o sucessor de Figueiredo substituiu o titular, Tancredo Neves (PMDB), internado na véspera com grave doença.

Para ocupar o lugar de Tancredo, Sarney contou com o apoio da cúpula militar e do então presidente da Câmara e do PMDB, Ulysses Guimarães, político que desfrutava de grande prestígio popular pelo papel desempenhado à frente da oposição à ditadura.

Empossado pelo Congresso em sessão marcada pelo ambiente de consternação, Sarney atravessou de carro a multidão que cercava o prédio e seguiu até o Palácio do Planalto. De um dia para o outro, ele herdou o amplo acordo político costurado por Tancredo e o apoio de parcela expressiva da população. Diante dos novos ministros, ele prometeu seguir as orientações do titular.

Insatisfeito com os rumos da sucessão, Figueiredo deixou o Palácio do Planalto sem passar a faixa para Sarney. Ele considerava o político maranhense um traidor dos militares por ter encabeçado a dissidência do PDS que ajudou na vitória do oposicionista Tancredo, do PMDB, no Colégio Eleitoral.

Figueiredo carregava o peso de um governo desgastado por duas décadas de ditadura e pelo descontrole da inflação. No último ano na Presidência, assistiu impotente à eclosão do movimento Diretas Já, que tomou as ruas do país com milhões de pessoas favoráveis à eleição direta para seu sucessor.

A emenda constitucional que propunha o retorno da escolha do presidente pela população foi derrotada no Congresso em abril de 1984, mas a mobilização em torno da causa apressou a entrega do poder pelos militares.

De perfil moderado, o então governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, entrou na disputa com o apoio de sua legenda e de uma ala do PDS. Outros personagens importantes do partido da ditadura deixaram a base governista e reforçaram a candidatura do oposicionista.

Os dissidentes criaram a Frente Liberal, composta por nomes de peso à época como o governador de Pernambuco, Marco Maciel, o vice-presidente de Figueiredo, Aureliano Chaves, e o governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães. Juntaram-se ao PMDB para formar a Aliança Democrática e assegurar a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral contra Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo.

Na disputa indireta, o Tancredo venceu Maluf por 480 votos contra 180. O ex-governador paulista enfrentava resistência no PDS e de grande parte da população pelo envolvimento com denúncias de corrupção. Na época, usava-se a expressão “malufar” como sinônimo de roubar.

Em cinco anos no Planalto, Sarney convocou a Assembleia Nacional Constituinte e, diante do insucesso dos planos econômicos, teve dificuldade para governar. Com a inflação em níveis recordes e as denúncias de corrupção contra sua equipe, ele perdeu influência na sucessão e não contou com o apoio de nenhum candidato competitivo.

Em 1989, depois de 29 anos, o Brasil voltou a escolher o presidente da República em eleição direta.


Fernando Collor de Mello

15 de março de 1990

Fernando Collor de Mello

Primeiro presidente eleito diretamente pela população após 29 anos, Fernando Collor de Mello tomou posse no dia 15 de março de 1990. Com a economia em crise e uma nova Constituição, o Brasil entrava em uma outra fase de sua história.

Nas cerimônias de troca de governo, Collor retomou as pompas e o populismo próprios dos presidentes anteriores à ditadura. Percorreu ruas de Brasília, em carro aberto, fazendo o “v” de vitória e acenando para os seguidores.

Embora contrariado por críticas de Collor durante a campanha, Sarney cumpriu a liturgia e transmitiu ao sucessor a faixa verde-amarela. Com o Palácio do Planalto e a Praça dos Três Poderes tomados por bandeiras do Brasil, o novo presidente expôs suas metas ao povo: “democracia e cidadania; a inflação como inimigo maior; a reforma do Estado e a modernização econômica; a preocupação ecológica; o desafio da dívida social; e, finalmente, a posição do Brasil no mundo contemporâneo”.

Collor alcançou o Palácio do Planalto depois de ocupar as cadeiras de prefeito de Maceió, entre 1979 e 1983, deputado federal por Alagoas, de 1983 a 1987, e governador do estado, de 1987 a 1989. Com esse currículo, aos 40 anos, tornou-se o presidente mais jovem da história do país.

Embalado por uma bem-sucedida campanha de marketing, ele ganhou espaço na mídia e, entre os eleitores, explorou a imagem de “caçador de marajás”, referência elogiosa a um pacote de medidas baixadas por ele no governo do estado, anunciado com estardalhaço, contra os altos salários de funcionários públicos alagoanos.

Filiado a um partido nanico, o PRN, Collor foi eleito presidente em 1989 depois de vencer, no segundo turno, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-governador de Alagoas ganhou a preferência do mercado financeiro e da elite empresarial com 53,03% dos votos, contra 46,97% dados ao petista, apoiado pelos partidos tradicionais da esquerda, parcela do PMDB, PSDB, PDT e por setores da classe média urbana.

Junto com Collor, na vaga de vice-presidente, os brasileiros elegeram Itamar Franco, senador mineiro com trajetória política construída no MDB contra a ditadura. O desgaste dos cinco anos de mandato de Sarney esvaziou candidatos de peso, mas identificados com o governo, como Ulysses Guimarães (PMDB) e Aureliano Chaves (PFL).

No final da década de 1980, o Brasil fracassou em várias tentativas de controlar a inflação. Em 1988, o índice, segundo o IBGE, chegou a 980,21% ao ano e, em 1989, bateu 1972,917%. O governo Sarney frustrou a população com quatro planos malsucedidos: Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser e Plano Verão.

Collor também adotou uma política de choques na economia. Logo de início, contrariou a população com o confisco das cadernetas de poupança com depósitos superiores a NCz$ 50 mil (cruzados novos), a moeda da época.

Com agenda liberal na economia, sofreu impeachment depois de dois anos e meio no poder. Contra ele e parte de sua equipe, pesaram denúncias de corrupção, muitas delas concentradas na figura do empresário Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de campanha e operador de negócios.

A onda de acusações enfraqueceu o presidente alagoano junto à opinião pública e ao Parlamento. Em outubro de 1992, Collor foi afastado do Palácio do Planalto.


Itamar Franco

29 de dezembro de 1992

Itamar Franco

O vice Itamar Franco tomou posse duas vezes. A primeira, como interino, no dia 2 de outubro de 1992, quando Fernando Collor de Mello foi afastado em decorrência do processo de impeachment aberto pela Câmara. A segunda, em 29 de dezembro do mesmo ano, quando o Senado confirmou a queda do primeiro presidente eleito depois da ditadura.

Intempestivo e desapegado da liturgia do cargo, Itamar notabilizou-se por gestos surpreendentes desde o início de seu curto mandato. Na cerimônia da posse definitiva, no Congresso, antes de começar o discurso, o vice de Collor entregou uma cópia da declaração de bens ao presidente da sessão, senador Mauro Benevides (PMDB-CE).

A atitude simbolizava um contraponto às denúncias de corrupção que derrubaram Collor. Durante a solenidade, as galerias ficaram cheias de pessoas, que cantaram o Hino Nacional e gritaram o refrão “o povo unido jamais será vencido”. Na saída, os presentes incentivaram o novo presidente com a música Ô Minas Gerais, muito popular no tempo de Juscelino Kubitschek.

O Brasil ainda sofria com a alta inflação, fora de controle também durante o governo anterior, apesar de três planos econômicos. Desde o confisco da poupança dos brasileiros, Collor perdeu apoio da sociedade. As denúncias de corrupção feitas pelo irmão, Pedro Collor, e pelo motorista Eriberto França completaram o afastamento dos eleitores que lhe deram a Presidência em 1989.

Com jeito espontâneo e distante dos escândalos de corrupção, Itamar contou com a simpatia de parcela significativa dos brasileiros. Seu governo ganhou destaque com o Plano Real, conjunto de medidas econômicas que, finalmente, venceram a inflação que corroía o salário dos trabalhadores. O ministro da Fazenda responsável pelo plano foi Fernando Henrique Cardoso.

O mandato-tampão representou um teste para a recente redemocratização do país. Dentro das normas da Constituição de 1988, um presidente acusado de corrupção sofreu impeachment e o vice completou o mandato. As instituições, aos poucos, amadureciam.


Fernando Henrique Cardoso

1° de janeiro de 1995 e 1° de janeiro de 1999

Fernando Henrique Cardoso

Uma aliança entre o PSDB e o PFL assegurou a eleição do tucano Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República em 1994. A estabilidade na economia proporcionada pelo Plano Real o fez conquistar 54,3% dos eleitores ainda no primeiro turno.

No dia 1º de janeiro de 1995, com tempo chuvoso, FHC tomou posse. Cerca de 10 mil pessoas estavam presentes na Esplanada dos Ministérios. A bordo do Rolls-Royce presidencial e saudado pelos apoiadores, ele percorreu a pista entre a Catedral Metropolitana e o Congresso Nacional ao lado do vice, Marco Maciel (PFL). Ao lado do automóvel, seguranças corriam para acompanhar a comitiva.

Um abraço apertado entre Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso marcou a transmissão da faixa no Palácio do Planalto. Em seguida, o novo presidente acompanhou o antecessor e se despediram. O discurso teve tom otimista: “Hoje não há especialista que preveja para o Brasil outra coisa que não um longo período de crescimento. As condições internacionais são favoráveis. O peso da dívida externa já não nos sufoca”.

Legitimado pelas urnas, FHC implementou as etapas seguintes do Plano Real, aprovou emendas que flexibilizaram as regras nas áreas de petróleo e telecomunicações, privatizou estatais, como a Vale do Rio Doce, e tomou medidas para cortar os gastos públicos.

O amplo apoio no Congresso permitiu a Fernando Henrique a aprovação da emenda constitucional que estabeleceu a possibilidade de reeleição aos presidentes. Denúncias de compra de votos de parlamentares desgastaram o governo, mas a mudança viabilizou um segundo mandato para o tucano.

Reeleito no primeiro turno em 1998 com 53,06% dos votos, FHC iniciou o governo sob uma crise provocada pela abrupta desvalorização do real. Esse fato confirmou a suspeita de que, durante a campanha eleitoral, a equipe econômica havia forçado a estabilidade da moeda para evitar efeitos na inflação e no discurso otimista do presidente candidato à reeleição. As cerimônias de posse para o segundo mandato contaram com cerca de 1.500 pessoas nas ruas.

No final dos anos 1990, crises na economia mundial, sobretudo nos países conhecidos como Tigres Asiáticos, tiveram efeitos negativos em emergentes como o Brasil, a Rússia e a Argentina. Em seu segundo mandato, FHC não conseguiu manter as políticas econômicas aplicadas nos primeiros quatro anos. O desemprego ultrapassou a barreira dos 10% em 1999.

Uma crise no fornecimento de energia elétrica em 2001 obrigou o governo a determinar a redução do consumo pelos brasileiros. No ano seguinte, a inflação chegou a 12,53%, longe das taxas estáveis do início do Plano Real.

As turbulências elevaram a cotação do dólar para o patamar de R$ 4,00. Na implantação do Plano Real, as duas moedas tinham paridade. Em clima de intranquilidade na economia e bom ambiente político, Fernando Henrique Cardoso concluiu os oito anos de seus mandatos.


Luiz Inácio Lula da Silva

1° de janeiro de 2003 e 1º de janeiro de 2007

Luiz Inácio Lula da Silva

O gramado da Esplanada dos Ministérios ficou tomado por uma multidão com roupas e bandeiras vermelhas no dia 1º de janeiro de 2003 para festejar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no comando do país. Foi a maior manifestação popular na inauguração de um governo.

Pela primeira vez, desde a passagem da faixa de Juscelino Kubitschek para Jânio Quadros, em 1961, um presidente eleito diretamente pelo povo transmitiu o cargo para um sucessor também escolhido nas urnas. Como símbolo da estabilidade democrática, um ocupante do Palácio do Planalto passou a cadeira para um candidato da oposição.

Eleito no segundo turno com 61,27% dos votos, em disputa contra o tucano José Serra, Lula representou a chegada ao poder de setores marginalizados da sociedade. Na quinta tentativa de conquistar a Presidência, o ex-metalúrgico e ex-sindicalista Lula substituiu o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

Para vencer a resistência do mercado financeiro à sua eleição, Lula concorreu com o empresário José Alencar, do Partido Liberal, como companheiro de chapa. Na campanha, divulgou a Carta aos Brasileiros, documento redigido com a promessa de pagamento dos juros das dívidas interna e externa.

No discurso de posse, o petista fez uma promessa voltada para os excluídos das políticas de governos anteriores. “Se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida.”

A austeridade fiscal assegurada por Lula nos primeiros anos de governo estancou a desconfiança do mercado com as contas públicas. A economia deu sinais de melhora e o petista iniciou a implantação de programas direcionados à redução da pobreza.

O governo petista sofreu um abalo em 2005 com a eclosão do escândalo do Mensalão – nome pelo qual ficaram conhecidas as denúncias de favorecimento financeiro do PT para partidos aliados. Apesar do desgaste político, Lula se elegeu para o segundo mandato em 2006, embalado pela melhora nas condições de vida dos mais pobres. Medidas como o aumento real do salário mínimo e o programa Bolsa Família mantiveram altos os índices de popularidade do presidente petista.

Na crise econômica mundial de 2008, Lula surpreendeu com o sucesso de medidas que apostaram no mercado interno e manteve o crescimento do país. A reação positiva do governo brasileiro nesse período permitiu ao petista encerrar seu segundo mandato com altos índices de popularidade.


Dilma Rousseff

1° de janeiro de 2010 e 1° de janeiro de 2015

Dilma Rousseff

Ex-ministra da Casa Civil no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff assumiu a Presidência da República no dia 1º de janeiro de 2011. O prestígio do líder petista impulsionou a candidatura da primeira mulher eleita para a cadeira mais importante do país.

Uma chuva forte e constante sobre a capital atrapalhou o comparecimento de apoiadores de Dilma nas ruas de Brasília no início das solenidades. A presidente percorreu a Esplanada dos Ministérios em um carro fechado e teve dificuldade para interagir com a população.

No Parlamento, Dilma e o vice, Michel Temer, do PMDB, tomaram posse em sessão comandada pelo senador José Sarney, também do PMDB, presidente do Congresso. No discurso de posse, ela homenageou ex-companheiros de guerrilha mortos na luta armada contra a ditadura.

Ao final da cerimônia no Congresso, a chuva diminuiu e Dilma se deslocou, ao lado da filha, Paula, no Rolls-Royce conversível presidencial. A Praça dos Três Poderes ficou lotada com uma multidão vestindo trajes vermelhos, cor do PT.

Dilma herdou a alta aprovação do governo de Lula. À frente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tocava obras e favorecia a população com iniciativas como o Minha Casa, Minha Vida, destinada principalmente à moradia das classes menos favorecidas.

Apesar dos sinais de enfraquecimento da economia e de descontrole nas contas públicas, Dilma elegeu-se em 2014 para o segundo mandato, em acirrada disputa contra o tucano Aécio Neves no segundo turno. De novo, Michel Temer ocupou a vaga de vice.

A presidente conseguiu mais quatro anos apesar da deflagração da Operação Lava Jato, que atingiu diretamente seu governo, principalmente a estatal Petrobras. A vitória nas urnas foi assegurada com forte campanha de marketing que encobriu os problemas na economia e amplificou os ataques aos adversários. Na posse para o segundo mandato, o número de manifestantes foi menor do que quatro anos antes e alguns protestaram contra Dilma.

Em fevereiro de 2015, a eleição de um inimigo político, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para a Presidência da Câmara prejudicou a correlação de forças do governo no Congresso. Nessas circunstâncias, começou a tramitar um pedido de impeachment de Dilma, acusada de desrespeitar as leis orçamentária e de improbidade administrativa.

Apoiado com entusiasmo por líderes da oposição, em especial, pelo derrotado Aécio Neves, o afastamento da presidente foi aprovado pelo plenário da Câmara no dia 17 de abril de 2016. Em 31 de agosto do mesmo ano, o Senado confirmou o impeachment da primeira mulher eleita para o Palácio do Planalto.


Michel Temer

31 de agosto de 2016

Michel Temer

Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer ocupou interinamente sua cadeira no Palácio do Planalto a partir do dia 12 de maio de 2016. Em 31 de agosto do mesmo ano, ele tornou-se titular do cargo.

Temer assumiu o poder em um cenário de forte polarização política no Brasil. Desde 2013, manifestantes ocupavam as ruas do país com protestos contra os preços de passagens de ônibus urbanos, irregularidades na preparação da Copa do Mundo e uma série de reivindicações difusas que sacudiram as grandes cidades.

Nesse período, surgiram as primeiras manifestações favoráveis à ditadura e pelo retorno dos militares ao poder. A divisão dos brasileiros ficou mais evidente durante o processo de impeachment de Dilma, quando a política precisou separar o gramado da Esplanada dos Ministérios ao meio para evitar o confronto físico entre os defensores das duas posições.

No julgamento, Dilma negou os crimes e tratou o processo como um golpe político executado por uma conspiração de Michel Temer e Eduardo Cunha. Depois de 273 dias de debates, o processo de impeachment foi encerrado em 31 de agosto de 2016 e Dilma teve seu mandato cassado, sem perder os direitos políticos, por 61 votos a 20, no Senado.

Ao tomar posse no Congresso, Temer disse que colocaria o Brasil “nos trilhos”. Na formação da equipe, ele levou para o governo políticos acusados de corrupção, como os deputados Geddel Vieira Lima (MDB-BA), empossado na Secretaria-Geral da Presidência, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), nomeado para o Ministério do Turismo. Ambos perderam os cargos por causa de denúncias e, em seguida, foram presos.

Influente na Câmara, instituição que presidiu em três ocasiões, Temer escapou de perder o cargo em votações de duas denúncias apresentadas pela oposição. Também saiu vencedor em um julgamento das contas de sua campanha pelo Tribunal Superior Eleitoral. A campanha Fora Temer, puxada pelo PT, não obteve êxito no objetivo de derrubar o sucessor de Dilma.

Apesar das turbulências na política, a equipe econômica conseguiu melhorar as contas públicas ao custo do corte de despesas, facilitado pela emenda constitucional que fixou um teto para os gastos públicos. Com baixa popularidade e pendências na Justiça, Michel Temer encerrou seu governo neste 1º de janeiro.


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