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Eu também “comi” a minha placenta. E faria de novo

Decidi ingerir a minha, fruto do nascimento do meu segundo filho, em forma de cápsula e senti os benefícios

atualizado

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Arquivo Pessoal/ Carolina Vicentin
placenta
1 de 1 placenta - Foto: Arquivo Pessoal/ Carolina Vicentin

Na última semana, a apresentadora Bela Gil compartilhou a informação de que ingeriu a placenta após o parto de seu segundo filho, causando polêmica na (sempre cheia de polêmicas) internet. “Que nojo!”; “Isso é coisa de bicho!”; “Ela só quer aparecer!” foram algumas das reações, para ficar apenas nas mais educadas.

Embora o consumo da placenta cause estranhamento, especialmente para nós, que vivemos no Ocidente, a prática é mais comum e antiga do que se imagina. Há relatos da ingestão do órgão há, pelo menos, 500 anos – seja por uma questão cultural, seja com fins medicinais. Quem experimenta diz que a placenta melhora o bem-estar no pós-parto, um momento com forte queda hormonal, em que muitas mães vivenciam uma profunda tristeza.

Também existem uma série de “receitas” sobre formas de consumir a placenta: in natura, como vitamina, como se fosse um bife e, mais recentemente, em cápsulas. Foi assim que eu decidi ingerir a minha, fruto do nascimento do meu segundo filho. Antes de soltar o primeiro “eca, que nojento!”, aí vai uma história sobre o que me levou a fazer isso.

Tive meus dois filhos em casa, em partos domiciliares planejados, escolhas conscientes que foram tomadas por mim e por meu companheiro. Quando a gente vive a experiência de um nascimento dessa forma, acaba entendendo todo o processo de gestação e parto de maneira mais natural, menos complicada, digamos assim

Então, foi mais com um olhar de curiosidade do que qualquer outra coisa que eu vi a placenta do meu primeiro parto. Eu a expeli uns 15 minutos depois de o Miguel ter nascido e quis ver para saber como era. A médica pegou, me mostrou “olha, está inteirinha”, como quem diz “está perfeitamente normal”, colocou em um saco plástico e recomendou que nós guardássemos no freezer até decidir o que fazer com ela.

Anh? Como assim? Eu nunca havia imaginado que, depois de ter um filho, eu teria que pensar em algo para a placenta. Quando as mulheres ganham seus bebês no hospital, a equipe encarrega-se de dar um jeito no órgão – normalmente, o tratam como lixo infectocontagioso. Tanto é assim que poucas sabem que a placenta é delas. Nós temos o direito de fazer o que quisermos com o órgão, respeitar isso é uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Eu só fui saber disso quando estava grávida do meu segundo filho. Tendo a experiência de “ganhar” uma placenta anteriormente, parei para pensar o que eu faria com o órgão dessa vez. E aí, novamente por pura curiosidade, eu propus para a Revista AzMina, da qual eu faço parte, uma matéria sobre “esse povo que come placenta”.

Um órgão impressionante

Durante a apuração, aprendi várias coisas interessantes. Primeiro, o que é a placenta: o único órgão que nasce, cresce e morre durante o período da gestação. Ela serve como um filtro entre o organismo da mãe e o do feto, levando nutrientes para o bebê e ajudando na eliminação do que não for aproveitado. É uma coisa tão impressionante que, se mãe e filho não tiverem o mesmo tipo sanguíneo, a placenta se encarregará de não misturar os dois.

Além disso, aprendi que o consumo de placenta humana existe em várias culturas, mas que o hábito perdeu-se com a crescente medicalização do processo do nascimento. Também aprendi que o órgão diz muito sobre a história do bebê. Por exemplo, a minha primeira placenta era pequenina, assim como era Miguel, que nasceu com pouco mais de 2,2kg. Placentas de mães usuárias de drogas ou álcool costumam ter uma cor diferente, que denuncia o problema.

Outra coisa que aprendi é que não existe evidência científica dos benefícios da ingestão da placenta – há, inclusive, cientistas que consideram a prática perigosa.

Mas, então, por que consumir? Porque praticamente todas as mulheres que eu entrevistei para a reportagem disseram sentir algo diferente ao ingerirem suas placentas. E, como eu não sei se vou passar novamente por uma gravidez, não quis perder a oportunidade. Optei pelas cápsulas porque elas são uma forma mais “disfarçada” de ingestão (olha aí o meu nojinho).

Contratei uma equipe para fazer o serviço de, basicamente, cozinhar, desidratar, moer e encapsular o órgão. Estava com minhas pílulas uns dois dias depois do parto.

E funciona?

Para mim, sim. Assim como quase todas as mulheres que ouvi (com exceção de uma), eu senti uma disposição muito maior consumindo a placenta, na comparação com o meu primeiro pós-parto. E olha que, dessa última vez, eram duas crianças! Havia dias em que eu dormia pouco mais de quatro horas – e não eram seguidas – e, mesmo assim, eu conseguia manter o pique.

É claro que isso pode ter sido sugestionado. É claro que pode ser puramente um efeito placebo. Mas e daí? As pessoas adotam uma série de hábitos relacionados ao nascimento e à criação dos filhos sem qualquer respaldo científico, porque aquilo, para elas, é importante. E isso deve ser respeitado.

Então, se a pessoa quer comer placenta, ou se quer dar lembrancinhas na maternidade, ou se quer batizar o neném, tudo bem. Quem somos nós para desautorizar a prática de cada um, não é mesmo?

Comi e comeria de novo.

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