metropoles.com

Festival de Brasília: leia crítica do filme mineiro Temporada

O curta Eu, Minha Mãe e Wallace, estrelado por Fabrício Boliveira, também foi exibido na mostra competitiva do evento

atualizado

Compartilhar notícia

Thiago Macêdo Correia/Divulgação
Temporada__Thiago Macêdo Correia
1 de 1 Temporada__Thiago Macêdo Correia - Foto: Thiago Macêdo Correia/Divulgação

A noite de sexta (21/9) no 51º Festival de Brasília foi de protagonismo negro na tela do Cine Brasília. O curta Eu, Minha Mãe e Wallace (RJ), dos irmãos Carvalho, e o longa Temporada (MG), de André Novais Oliveira, protagonizaram a penúltima sessão da mostra competitiva.

Enquanto o curta dos gêmeos Eduardo e Marcos Carvalho mostra as andanças de um presidiário (Fabrício Boliveira) tentando se reconectar com a filha durante o saidão de Natal, o filme do diretor de Ela Volta na Quinta (2013) e Quintal (2015) acompanha a vida de uma mulher que se muda do interior de Minas Gerais para Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.

Leia críticas dos filmes exibidos na noite de sexta (21/9) no Festival de Brasília:

Temporada (MG), de André Novais Oliveira: crônica de uma mudança
Cinco anos depois de Ela Volta na Quinta (2013) e três após o curta Quintal (2015), o diretor mineiro retorna ao festival com um trabalho que desta vez não envolve diretamente sua família. Grace Passô, em performance assombrosa, interpreta Juliana, uma mulher que experimenta uma série de mudanças após trocar Itaúna, no interior de Minas Gerais, pela populosa Contagem.

Há alguns anos, ela passou num concurso público para a prefeitura do município. O cargo: agente de combate a endemias, como a dengue. Não esperava ser chamada, mas foi. Mudou-se às pressas. O marido, Carlos, que só conhecemos por meio de uma mensagem de áudio no final do filme, ficou de acompanhá-la em algumas semanas. Jamais cumpriu o acordado.

Como de praxe, Novais Oliveira encontra na naturalidade de situações, encontros e conversas triviais a matéria-prima de seu cinema. Nada de questões sociais ou políticas — talvez um ou outro questionamento surja sutilmente quando ele mostra o crescimento caótico e desordenado de Contagem por meio da fala de um morador visitado por Juliana.

No mais, é um filme de conversas jogadas fora — cheias de gírias e expressões regionais –, noites de bebedeira na companhia dos novos amigos, como o hilário Russão (Russo APR), e seu próprio cotidiano de trabalho. Seu emprego lhe permite subir e descer ladeiras, absorver a cidade, conhecer as pessoas, até tomar café e bolo com uma delas, Zezé — interpretada por Maria José Novais Oliveira, mãe do diretor que faleceu recentemente.

Em termos técnicos, Temporada mostra um notável avanço em relação ao outro longa do cineasta, o bom Ela Volta na Quinta. A câmera é mui generosa com essa naturalidade da trama, privilegiando o gestual e a modulação dos diálogos — transitam entre o trágico e o bem-humorado com uma harmonia desconcertante.

Numa conversa com Hélio (Hélio Ricardo), outro colega do trabalho, Juliana confessa que sempre foi tímida, de poucos amigos. Novais Oliveira filma essa mudança como um grande cronista das coisas simples, comuns, pequenas. Como jogar Street Fighter no PlayStation com Russão.

Ou contar para a prima quando seu casamento começou a degringolar, depois de perder um filho na barriga. E acordar no dia seguinte de ressaca com uma menina na porta do quarto. Sonho? Não, apenas a filha ou neta da dona da casa em que mora, que chega em seguida para avisar que um moço está vindo aí para consertar a descarga. Temporada é vida real filtrada pelo olhar ao mesmo tempo amável e pontiagudo de seu diretor.

Avaliação: Ótimo

0

Eu, Minha Mãe e Wallace (RJ), dos irmãos Carvalho: uma família em um clique
O Natal se aproxima e o presidiário Wallace (Fabrício Boliveira) aproveita o saidão do feriado para visitar o morro. Ele não aparece ali há anos e, agora, tenta se reconectar com a filha e a ex. A mínima interação já basta. Nem que o encontro se resuma a uma fotografia batida com uma câmera descartável.

Responsáveis por Chico (2017), prêmio de melhor direção no festival de 2017, os diretores tentam construir aqui um drama de família com uma câmera urgente e próxima dos corpos. Mas nem sempre esse resultado é alcançado com a eficiência planejada. Entre silêncios e olhares, o filme por vezes parece arrastado demais para um curta. Compensa essa inércia com bonitos planos finais.

Avaliação: Regular

Compartilhar notícia