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Festival de Brasília: leia crítica do filme A Sombra do Pai

Trama de assombração dirigida por Gabriela Amaral Almeida foi o destaque desta quinta (20/9) na mostra competitiva do evento

atualizado

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a sombra do pai
1 de 1 a sombra do pai - Foto: Divulgação

Em noite só de diretoras mulheres no 51º Festival de Brasília, três filmes levaram um pouco de cultura pop para a mostra competitiva do evento. Os curtas Plano Controle (MG), de Juliana Antunes, e Guaxuma (PE), de Nara Normande, única animação da seção principal, e o longa de terror A Sombra do Pai (SP), de Gabriela Amaral Almeida, foram exibidos nesta quinta (20/9).

Plano traz uma história de teletransporte de uma jovem que tenta viajar para Nova York e acaba voltando para os anos 1990. Com tons autobiográficos e diversas técnicas de animação utilizadas, Guaxuma narra infância e adolescência da diretora pernambucana. A Sombra do Pai acompanha uma menininha tentando trazer a mãe do mundo dos mortos.

Leia críticas dos filmes exibidos na noite de quinta (20/9) no Festival de Brasília:

A Sombra do Pai (SP), de Gabriela Amaral Almeida: fé na fábula
Diretora de potentes curtas premiados em Brasília (A Mão que Afaga e Estátua!) e de um recente longa (O Animal Cordial) de terror cheio de tensões sociais e de classe, a baiana radicada em São Paulo desta vez entra no cotidiano de uma família esfacelada na periferia da metrópole.

A pequena Dalva (Nina Medeiros), acostumada a ficar bastante tempo sozinha, se sente ainda mais solitária quando sua companhia mais fiel, a tia Cristina (Luciana Paes), decide se casar, assim deixando a residência de Jorge (Júlio Machado), pai da garotinha. A mãe morreu há dois anos em um acidente.

Dona de um olhar mui dedicado a pequenos detalhes de cena e capaz de mover a história com fluidez, sem perder tempo, Almeida aos poucos mostra o fascínio da menina pelo oculto, pelo sobrenatural. Um pouco ela aprende com a tia, que inclusive fez mandinga para fisgar seu marido. Outra parte ela desenvolve vendo filmes de terror dublados na TV, como A Noite dos Mortos-Vivos (1968) e Cemitério Maldito (1989).

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Dalva usa todo um vasto conhecimento de crenças populares e superstições para chamar a mãe de volta do mundo dos mortos – no começo, ela recebe do pai uma caixa com trança de cabelo, um par de dentes e uma correntinha após a exumação do corpo. Enquanto isso, Jorge vive desorientado. Pedreiro, perdeu um amigo na obra em que trabalha dia e noite. E tem um ferimento nas costas que custa a sarar. A filha acha até que ele está se transformando em um zumbi.

Almeida, mais uma vez, recebe ajuda imprescindível da fotógrafa uruguaia Barbara Alvarez (a mesma de O Animal Cordial) para construir o visual do filme, a meio caminho entre esmaecido e puído, ideal a uma família em pedaços.

A Sombra do Pai por vezes enfrenta alguns probleminhas de ritmo e harmonia narrativa no terço final, quando as tensões se acumulam especialmente em torno do pai, um personagem que condensa com alguma eficiência a inabilidade masculina diante da responsabilidade solitária de cuidar da filha. Toda a sequência do parquinho é especialmente genuína nesse sentido, com o pai quase jogando a criança para fora do balanço.

Um terror genuinamente brasileiro e independente – mais sugere do que mostra, mais tensiona do que assusta –, interessado na cultura popular e em retratar com delicadeza o drama de uma criança obrigada a reconstituir uma casa assombrada pela ausência adulta.

Avaliação: Bom

Plano Controle (MG), de Juliana Antunes: teletransporte nostálgico
Que tal uma trama envolvendo operadora de celular, teletransporte, viagem no tempo e fetichismo pela imagem em VHS? São esses elementos que compõem o divertidíssimo curta de Juliana Antunes, conhecida pelo longa Baronesa (2017).

O ano é 2016, do impeachment de Dilma Rousseff. A jovem Marcela (Marcela Santos) tenta usar o serviço de teletransporte da operadora Slim para visitar Nova York. Mas acaba caindo no bairro genérico mineiro de mesmo nome.

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Em cada viagem, surgem interferências que jogam na tela imagens clássicas da TV nacional – do dramalhão Maria do Bairro à banheira do Gugu, passando por Jean-Claude Van Damme com ereção depois de dançar com Gretchen no Domingo Legal.

Numa dessas jornadas, ela cai nos anos 1990 e conhece outro viajante, um homem gay dos anos 1970. Eles jogam sinuca, veem o ET de Varginha na telinha. Um filme que o tempo inteiro propõe uma relação muito autêntica e espirituosa com o tempo, suas imagens e memórias coletivas.

Avaliação: Ótimo

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Guaxuma (PE), de Nara Normande: amigas para sempre
O curta pernambucano se movimenta elegantemente por diferentes técnicas de animação. Do desenho tradicional com texturização que simula areia ao stop-motion feito com areia propriamente dita.

Na trama, seguimos o fio das memórias de Nara Normande e sua amizade com Tayra, com quem cresceu na praia que dá título ao filme. Brincadeiras, descoberta da sexualidade, uma separação traumática quando a diretora se mudou para a cidade.

Fotos antigas fincadas na areia e imagens reais dão um tom sentimental, mas jamais piegas à história e ajudam a solucionar desafios de transição entre uma cena e outra. Um trabalho de acabamento impecável cuja narrativa consegue articular autobiografia e cinema fantástico.

Avaliação: Ótimo

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